O uso de máscaras continua a ser amplamente criticado, quer em manifestações, quer nas redes sociais. Nesse sentido, surgiu uma publicação de Facebook no passado dia 16 de novembro, onde fica visível a crítica a este equipamento de proteção de saúde, bem como a partilha de uma suposta notícia. “Máscaras fazem aumentar os casos, nenhuma novidade. Foi o que aconteceu noutros países antes de nós, como França e Espanha […] se não respirares como deve ser, não inspiras oxigénio suficiente para o teu corpo funcionar bem. Além de germes e bactérias que ficam nas máscaras e que vais respirando, alguns o dia inteiro…”. Atingiu as 192 partilhas. É, no entanto, falso.
Tiago Alfaro, professor auxiliar convidado de Pneumologia da Faculdade de Medicina de Coimbra e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, apresentou duas razões ao Observador, que ajudam a desmontar as informações propagadas. A primeira está relacionada com uma ideia errada: associação é diferente de causalidade. “Vendo o que aconteceu primeiro, o número de casos em Portugal começou a aumentar em setembro, com novos picos no início de outubro, mas a máscara só se tornou obrigatória ao ar livre no final desse mês. Portanto com o maior número de casos, a recomendação, obrigatoriedade e uso das máscaras aumentam em Portugal, mas não são de forma nenhuma a causa do aumento de infeções”. Ou seja, fica comprovado de que não é possível culpar este equipamento de proteção sanitário pelo aumento dos casos.
Sobre a segunda razão, o pneumologista garante que “há muitos anos que existem estudos sobre o uso, eficácia e segurança de máscaras e outros equipamentos de proteção em profissionais de saúde para prevenir infeções”. Não se verificando, por outro lado, que se “tenham encontrado aumento de infeções (de Covid-19 ou outras doenças) com o seu uso por parte dos profissionais”, argumenta. Mesmo assim, Tiago Alfaro refere que “não há tantos estudos a demonstrar eficácia do uso generalizado da máscara na população”, mas isso deve-se, substancialmente em dois parâmetros: o seu uso varia de pessoa para pessoa e cada população tem as suas características próprias. “Ainda assim há um consenso científico crescente que o uso generalizado de máscaras reduz a disseminação da Covid-19 na população. A isso associa-se o facto de ser perfeitamente seguro usar máscara. Não há relatos de infeções bacterianas ou virais causadas pelo uso da máscara”, garante.
O pneumologista não deixa de reforçar que o uso deste material de proteção é feito em conjunto com outras medidas, as chamadas intervenções não farmacológicas (NPI), a higienização das mãos, como o distanciamento social ou a redução da atividade social ou mesmo o confinamento obrigatório. “A eficácia das NPI no global para reduzir a disseminação da Covid-19 está totalmente demonstrada. O próprio ECDC (Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças) refere que as NPI são a intervenção de saúde pública mais eficaz contra a Covid-19, enquanto não existir uma vacina eficaz e segura”, termina.
Convém ainda referir que o autor da publicação partilha um print screen de uma suposta notícia, com uma imagem do primeiro-ministro António Costa, com o seguinte título: “Uso de máscara obrigatória em espaços públicos teve efeito contrário”. É também visível uma pequena entrada de texto, onde se defende que “o número de casos positivos e mortes subiram exponencialmente desde a data em que o uso obrigatório de máscara entrou em vigor”, ou seja, a 28 de outubro. Não apresenta, porém, quem é que defende essa tese, se foi a Direção-Geral da Saúde (DGS), a Organização Mundial de Saúde ou outra instituição/autoridade de saúde. Fazendo uma busca por notícias semelhantes, não é possível encontrar resultados. Aliás, o próprio print screen não identifica qual o órgão de comunicação social de onde a notícia foi divulgada, o que levanta sérias questões sobre a sua veracidade.
O texto refere também que Graça Freitas, diretora geral da DGS, afirmou em março que “o uso de máscara poderia ter um efeito contrário, causando uma falsa sensação de proteção e acumulando bactérias durante o seu uso prolongado”. Primeiro, é importante dizer que, com o conhecimento científico que existe hoje, várias autoridades de saúde alteraram algumas das suas posições actuais, havendo agora um reforço do uso obrigatório de máscaras em diferentes países.
Depois, o que Graça Freitas disse não foi exatamente isso. A 22 de março, afirmou, na verdade, o seguinte: “A máscara não é panaceia para tudo. Não vale a pena usar máscaras que nem sequer são impermeáveis. O que é preciso é garantir, no dia a dia, o distanciamento social”, deixando um alerta para quem usava as que eram feitas de pano, podendo ficar húmidas e suscetíveis que o vírus passasse. Mais tarde, em finais de setembro, quando o uso obrigatório de máscaras em espaço públicos começava a ser discutido, Graça Freitas afirmou que a DGS iria recomendar o uso de máscara no exterior, caso não conseguissem manter o distanciamento social. “A recomendação será no sentido de utilização ao ar livre poder acontecer quando estamos em sítios movimentados”, afirmou.
O distanciamento socaial foi sempre uma das mais reforçadas pela diretora-geral desde que a pandemia começou, o que não quer dizer que Graça Freitas seja contra o uso de máscaras, como é indicado no post original. Aliás, desde abril, que a DGS faz essa recomendação e até promove conteúdos para explicar o correto uso da mesma.
Conclusão
Não é verdade que o uso obrigatório de máscaras explica o aumento de casos em Portugal. Essa medida foi aprovada em finais de outubro, quando já se registava um aumento de casos da Covid-19 no país, tal como explicou ao Observador o pneumologista Tiago Alfaro. Também garante que não existem relatos de infeções bacterianas ou virais graças ao uso de máscara. A publicação viral propaga uma suposta notícia, sem revelar o órgão de comunicação social em que foi escrito, nem que base científica utiliza para afirmar taxativamente que aquele equipamento de proteção de saúde afetou o estado da pandemia em Portugal.
Assim, de acordo com a classificação do Observador, este conteúdo é:
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook