Depois do ressurgimento da varíola dos macacos no palco mediático, em agosto (devido a uma nova variante mais transmissível), começaram a circular nas redes sociais as habituais teorias envolvendo a Mpox e a relação da doença com a vacinação. Na rede social Facebook, uma publicação associa diretamente a varíola dos macacos à vacina da Astrazeneca contra a Covid-19. “A vacina Astrazeneca contém varíola dos macacos. Acordem, vaxxadores!”, pode ler-se no post, onde se garante que a vacina contém “adenovírus de chimpanzé recombinante”. Mas terão estas informações alguma adesão à realidade?
A Mpox é uma doença viral transmitida de animais para humanos (mas que também pode ser transmitida entre humanos) e que pode causar sintomas como febre, dor muscular e lesões na pele. Perante o ressurgimento da doença em África, a Organização Mundial de Saúde declarou, a 14 de agosto, o vírus Mpox como uma “emergência de saúde pública global”. Entretanto, já foi registado um caso da nova variante na Europa.
Mas existe alguma relação entre a Mpox e a vacina da Astrazeneca contra a Covid-19? A associação parece basear-se num elemento que é verdadeiro: a vacina da Astrazeneca contém, de facto, adenovírus de chimpanzé. Trata-se, segundo a bula da vacina Vaxzevria (o nome comercial), de um elemento que tem como função codificar a glicoproteína spike do vírus SARS-CoV-2.
Mas será que este adenovírus tem alguma relação com o vírus Mpox? Ao Observador, o investigador do Instituto de Medicina Molecular (IMM) Miguel Castanho garante que não. “Não há qualquer relação”, garante, sublinhando que a monkeypox é “raríssima em macacos”, pelo que a comparação “não tem qualquer fundamento também devido a este facto”. “Não se pode ir buscar uma palavra e estabelecer a partir daí um nexo de causalidade”, avisa, sublinhando tratar-se uma coincidência.
“A primeira pessoa que identificou o vírus e o reportou foi um investigador da Dinamarca, que, por acaso, estava a trabalhar com um macaco”, lembra Miguel Castanho, acrescentando que o animal tinha sido infetado com uma “espécie de varíola”, e que, por isso, o investigador descreveu a doença como varíola dos macacos. No entanto, explica o professor universitário, o vírus até é mais comum em roedores e aves, e não em mamíferos.
Quanto à utilização do adenovírus nas vacinas, Miguel Castanho explica que esse é um elemento presente em muitas vacinas. “São vírus absolutamente inofensivos. O objetivo é que os adenovírus transportem uma parte do código genético do vírus que se quer até às células; essa parte do código genético dá origem a proteínas, que depois vão despoletar uma reação do sistema humanitário e criar a imunidade”, realça o investigador, justificando a utilização dos adenovírus com o facto de estes estarem “presentes na natureza” e em constante contacto com os humanos. “Estamos sobejamente expostos aos adenovírus”, reforça.
Conclusão
A vacina contra a Covid-19 da Astrazeneca não é responsável pela transmissão da Mpox. Se é verdade que na composição da vacina está presente o adenovírus de chimpanzé, também é verdade que esse vírus não tem nenhuma relação com a monkeypox, explicou ao Observador o investigador do Instituto de Medicina Molecular Miguel Castanho.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.