O vídeo está a ser partilhado como sendo um alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) e garante que as “máscaras vindas da Índia e da China estão apresentando um alto grau de contaminação por coronavírus”. Isto é o que ouvimos a voz masculina que dobra Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da entidade, dizer nesse vídeo. Contudo, a tradução não corresponde às declarações originais e tudo nas imagens é falso.

A sequência de cerca de um minuto circula com o selo “urgente” do “Globo News” e começa efetivamente com uma reportagem do canal de notícias da rede Globo. Contudo, como já explicou o jornal “G1”, do mesmo grupo, “o narrador não é o oficial do canal e as legendas também não seguem o padrão da emissora”.

No meio do vídeo surgem imagens que mostram máscaras no chão, a serem produzidas sem condições de segurança. Servem para ilustrar a parte em que na dobragem se ouve que elas “são produzidas às pressas, em lugares impróprios e sem o mínimo controlo de cuidado higiénico”. Ainda segundo o “G1”, as “imagens no meio da fala não foram exibidas no dia” em que foram para o ar as declarações de Tedros Adhanom Ghebreyesus.

A montagem que se tornou viral no Facebook quer ainda espalhar outra ideia, afirmando que “a recomendação crucial da OMS é que todos usem máscaras esterilizadas para que o vírus não se espalhe ainda mais”. Isto é igualmente falso. A 7 de abril, a entidade divulgou um guia com orientações em que defendia que as máscaras cirúrgicas deviam “ser reservadas para profissionais de saúde” e que a utilização deste material de proteção só funcionaria em conjunto com outras medidas de prevenção. A Organização Mundial da Saúde aconselhava ainda cada país a fazer a sua própria avaliação em relação aos riscos do uso generalizado de máscaras.

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O vídeo original, de onde foi retirado o excerto que agora circula nas redes sociais, foi filmado já depois disso, a 20 de abril. É de uma conferência de imprensa, tem quase uma hora e meia e está disponível na íntegra no YouTube. A partir do minuto 54:52 é possível ouvir Ghebreyesus dizer “vamos prevenir esta tragédia”, exatamente a frase que é percetível no início do vídeo alterado antes de começarem as dobragens.

O diretor-geral da OMS nunca menciona máscaras contaminadas vindas da Índia ou da China. Em contrapartida, fala de “um vírus que muitas pessoas ainda não compreendem”. “Muitos países muito desenvolvidos chegaram às conclusões erradas porque não o conheciam e tiveram problemas”, conta. A sequência termina na marca 55:54 com: “Vamos parar a tragédia. Centenas de milhares a morrerem é sério, até apenas uma vida é preciosa. Vamos dizer chega”.

Esta notícia falsa que envolve a OMS segue o padrão de outras muito semelhantes que têm surgido nos últimos dias. Primeiro começou a circular um vídeo que mostraria o FBI a apreender máscaras contaminadas importadas da China — era mentira, afinal era um carregamento de material de proteção que estava a ser vendido no mercado negro na área de Nova Iorque. Mais recentemente, começou a circular a informação de que os Estados Unidos teriam avisado o Brasil sobre o “perigo mortal” de máscaras e testes comprados na China. Também isto era falso e juntava várias ideias erradas e confusas.

Conclusão

O vídeo que circula de Tedros Adhanom Ghebreyesus foi dobrado e as declarações não correspondem ao que o diretor-geral da OMS disse realmente. Em momento algum, Ghebreyesus alertou para máscaras contaminadas vindas da Índia e da China. As imagens de máscaras a serem produzidas sem condições foram retiradas de uma outra reportagem e incluídas nesta sequência. O vídeo original é de uma conferência de imprensa e no excerto referem-se os problemas encontrados por países desenvolvidos que não estavam preparados para o novo coronavírus.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

Errado

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.

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