A tragédia do submersível Titan fez correr muita tinta nos últimos dias. As buscas pelo submersível, marcadas pela profunda incerteza sobre a condição do equipamento e dos cinco tripulantes, duraram quase uma semana e geraram a produção de uma considerável quantidade de notícias, reportagens, entrevistas e análises nos meios de comunicação social de uma parte do mundo. O incidente suscitou, também, a atenção de muitos utilizadores nas redes sociais e levou à publicação de muita informação — alguma dela, falsa.

Por exemplo, a 24 de junho, um utilizador postou um suposto último vídeo da tripulação a despedir-se, quando os cinco elementos já anteviam que iriam morrer debaixo de água. “Lindo e triste o momento da tripulação que estava no submarino. Perderão a vida mas deixaram palavras lindas de ânimo.” Trata-se, no entanto, de uma publicação falsa.

Num registo dramático — a que foi adicionada uma música solene —, no vídeo, de cerca de dois minutos, um dos passageiros revela: “Essa será a nossa última noite com oxigénio.” E, depois de contextualizar com a informação de que o submersível se encontra “no fundo do oceano”, num “ambiente sombrio e triste”, prossegue dizendo ser “estranho como uma expedição cheia de sonhos e esperança pode terminar tão tristemente”.

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Pressão de 400 kg por centímetro quadrado, som detetado pelos EUA e destruição “violentíssima”. Como uma implosão pode ter destruído o Titan

Ora, analisando o vídeo, rapidamente se constata que o conteúdo seria, no mínimo, estranho. Como agora se sabe, nenhum dos passageiros do Titan era de origem brasileira. Dentro do submersível estavam os seguintes tripulantes: o empresário britânico Hamish Harding, o empresário paquistanês Shahzada Dawood e o filho, o fundador californiano da OceanGate, Stockhon Rush e o ex-comandante da Marinha francesa, Paul-Henry Nargeolet.

https://www.youtube.com/watch?time_continue=4&v=T8Lyl2EiRcw&embeds_referring_euri=https%3A%2F%2Fwww.reuters.com%2F&source_ve_path=MjM4NTE&feature=emb_title

E, embora nenhum deles seja de origem brasileira, ou, tanto quanto é sabido publicamente, fluentes na língua portuguesa, no vídeo, surgem a falar em português do Brasil.

Depois, e através de uma pesquisa um pouco mais aprofundada sobre a origem do vídeo, é possível concluir estamos perante um conteúdo manipulado através de Inteligência Artificial.

A imagem da publicação diz respeito, na verdade, a uma entrevista dada pelo fundador da Oceangate em 2019 à Revista GeekWire. É possível verificar a veracidade destas imagens olhando para o vídeo de Youtube colocado acima. São as mesmas pessoas que surgem na fotografia da publicação original. Por exemplo, e a título de curiosidade, dessa vez, o submersível foi apenas até aos 100 metros de profundidade, ao contrário dos cerca de quatro mil metros a que se encontrava na sua viagem final, quando pretendiam alcançar os destroços do Titanic, no decurso da viagem turística que acabou por ter um desfecho trágico.

Também é importante dizer que o vídeo em análise não foi partilhado através de nenhum órgão de comunicação oficial e credível, mas sim através de uma conta de Tik Tok.

Conclusão

Nenhum meio de comunicação social credível divulgou, até ao momento, uma suposta gravação final feita pelos membros da tripulação do Titan, o submersível que sofreu uma “implosão catastrófica” que levou à morte das cinco pessoas que se encontravam a bordo, a meio de junho. Além disso, o próprio conteúdo do vídeo, divulgado por uma conta anónima no TikTok, é suspeito: entre outras questões, porque os tripulantes (britânicos, norte-americanos, franceses e paquistaneses) surgem a falar em português do Brasil.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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