No passado dia 27 de março, foi partilhada no Facebook uma publicação sobre Mariupol e a forma como as tropas russas teriam tomado conta daquela que é uma das cidades mais afetadas pela guerra na Ucrânia. Além da descrição, no vídeo publicado na rede social é possível ver vários soldados a escoltarem dezenas de civis no meio de uma estrada, alegadamente após a rendição em Mariupol.

A afirmação é, logo à partida, falsa, já que a cidade não ficou nas mãos da Rússia há quase dois meses. Muito pelo contrário. Mariupol foi um dos locais mais difíceis para as tropas de Vladimir Putin, tendo em conta que cerca de duas mil pessoas passaram semanas na siderurgia Azovstal — uma fábrica construída pela União Soviética que devido à sofisticação das instalações (que incluem túneis e passagens secretas) oferece forte segurança aos combatentes ucranianos.

A fábrica tornou-se o último foco de resistência contra os invasores. Durante várias semanas, os russos fizeram tentativas para conquistar o local, e os combatentes do batalhão Azov foram garantindo que iam lutar “lutar até ao fim”. Mas, no passado dia 16 de maio, perante ordens superiores, os militares que estavam em Azovstal começaram a render-se e foram retirados todos os civis que estavam no local.

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Os combatentes que pertencem ao regimento de Azov foram detidos como prisioneiros de guerra e encaminhados para a autoproclamada República Popular de Donetsk, controlada pela Rússia, onde deverão ser julgados num tribunal desta região. Mais do que isso, o Supremo Tribunal Russo vai decidir se o Batalhão Azov será ou não categorizado como uma organização terrorista, o que pode mudar o rumo do julgamento destes soldados.

Tendo em conta a cronologia dos acontecimentos, é possível confirmar que a afirmação feita no Facebook há dois meses é falsa, já que só depois de 16 de maio as tropas ucranianas se renderam em Azovstal e só depois disso a cidade ficou nas mãos dos russos.

Além disso, numa pesquisa pelas imagens do vídeo é possível perceber que o momento foi, na verdade, captado a 8 de agosto de 2014 (e publicado no dia seguinte). Em causa está, segundo explicou o jornal italiano La Republica, uma “marcha de soldados ucranianos capturados pelas ruas de Donetsk” — a legenda do vídeo original faz referência a “Donetsk”, com a data de recolha das imagens, e com a referência a uma “parada de ocupantes capturados”.

Os “ocupantes” serão combatentes nacionalistas ucranianos que combatiam as forças pró-russas na cidade de Donetsk. Durante o vídeo ouvem-se gritos de “fascistas” e “venha para a rua quem quer linchar os russos” e possível ver pessoas com as mãos atadas atrás das costas, alegadamente prisioneiros capturados pelas forças russas.

Conclusão

Não é verdade que os russos tenham passado a controlar Mariupol no fim do mês de março. A publicação em causa sugere que as tropas de Vladimir Putin estavam a escoltar ucranianos depois de tomarem a cidade mártir da guerra na Ucrânia, mas não há uma correspondência com a verdade, tendo em conta que os ucranianos só deixaram a fábrica de Azovstal em maio e não no mês de março, o que reflete que as imagens em causa não têm qualquer correspondência com a legenda — até porque foram gravadas em 2014, como comprova o link acima.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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