A 10 de outubro, um apoiante de Jair Bolsonaro partilhou no Facebook um vídeo — sem indicação de quando foi gravado — que diz ser de um navio a despejar petróleo no nordeste do Brasil “para prejudicar o Governo Bolsonaro”. O post alcançou mais de 900 partilhas, numa altura em que o Governo abriu uma investigação à mancha de petróleo que contamina esta zona do território brasileiro há dois meses e que já colocou nove estados brasileiros em alerta ambiental.

A misteriosa mancha de petróleo que está a contaminar o nordeste do Brasil há dois meses

No entanto, o vídeo não tem qualquer relação com a misteriosa mancha de petróleo no nordeste brasileiro. As imagens não são de um navio numa praia do nordeste do país, mas sim de um navio a realizar operações de dragagem (limpeza ou desobstrução do fundo do mar) de areia na Praia de Matosinhos, no Porto.

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“Para prejudicar o Governo Bolsonaro, tocaram fogo na Amazónia, agora estão despejando Petróleo no Nordeste”, lê-se na descrição do post. Acompanhado de alguns comentários que criticavam a situação, alguns utilizadores começavam já a desconfiar da veracidade das informações associadas àquele vídeo. “Vi esse vídeo em outro grupo. Ele foi postado em Abril. Não é atual”, lê-se num dos comentários.

O vídeo que este utilizador publicou como sendo um caso de derrame de petróleo no Brasil foi publicado originalmente a 30 de abril deste ano na página de Instagram “Diz Não ao Paredão”, um movimento criado contra a decisão do prolongamento do quebra-mar exterior da praia de Matosinhos, no Porto, por 300 metros. A própria publicação do Facebook, a 10 de outubro, mostra que aquele vídeo foi uma republicação do vídeo deste movimento.

A descrição inicial do vídeo publicado pelo “Diz Não ao Paredão”, refere um fact check elaborado pela agência France-Presse, indicava que este era o “cenário da Praia de Matosinhos hoje [dia 30 de abril], durante as dragagens de manutenção do Porto de Leixões”. No entanto, e após a divulgação das imagens como sendo no Brasil, o movimento editou a legenda e escreveu a seguinte nota: “Recebemos a informação de que o vídeo estaria a viralizar no Brasil como sendo uma descarga de petróleo no nordeste. Este vídeo foi filmado em Matosinhos, Portugal — NÃO é no Brasil — e retrata dragagens no Porto de Leixões”.

Mais tarde, e ainda no mesmo dia, o próprio Porto de Leixões emitiu uma nota informativa a indicar que a Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL) “tem vindo a fazer, nas últimas semanas, operações de dragagem de manutenção no canal de entrada do porto de Leixões, cujas areias recolhidas são depositadas nas praias a norte e a sul do Castelo do Queijo”. Estes locais escolhidos, acrescenta a mesma nota, “foram estudados de forma a potenciar a fixação das areias junto à costa”. Na fotografia que acompanha a nota, surge o mesmo barco que aparece em todos os vídeos.

A operação que decorreu naquele dia, “e visível na praia de Matosinhos, enquadra-se numa ação regular de deposição de areias de qualidade balnear”, acrescentou o comunicado. Ou seja, não só o vídeo foi filmado em Matosinhos como o processo que foi identificado como um derrame de petróleo foi, na verdade, uma ação de dragagem de areia.

O caso desta falsa informação foi noticiado em vários órgãos de comunicação social brasileiros, como é o caso do G1 e da Folha de São Paulo.

Conclusão

A informação de que o vídeo publicado no dia 10 de outubro é de um derrame de petróleo em praias do nordeste do Brasil é falsa, tanto pela localização como pela própria ação do navio. As imagens foram, na realidade, captadas na Praia de Matosinhos, no Porto, e são relativas a um processo de dragagem de areias vindas do Porto de Leixões.

Assim, segundo o sistema de classificação do Observador este conteúdo é:

Errado

De acordo com o sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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