Uma publicação viral, que se depreende esteja relacionada com o coronavírus, começou a ser partilhada no passado dia 13 de agosto. No post lia-se o seguinte: “Não sei quem precisa de ouvir isto mas… um vírus que tenha uma taxa de recuperação de 99% não é considerado uma pandemia”. Obteve 17,9 mil visualizações e 684 partilhas. Trata-se, no entanto, de uma publicação falsa.

O post atingiu as quase 18 mil visualizações

Ainda que o texto não especifique o autor, o local, ou a data em que a afirmação foi proferida, nem tão pouco a que vírus se refere, depreende-se que esteja a referir-se ao vírus SARS-CoV-2, já que é a pandemia que o mundo enfrenta neste momento. Não é, contudo, percetível como é que o autor chegou à conclusão de que a taxa de recuperação de um vírus interfira na definição ou não de pandemia. Depois, também não é possível afirmar, de forma perentória, como o autor da publicação faz, que a Covid-19 tem uma taxa de recuperação de 99%. “Não é possível, de forma alguma. Os 99% são uma estimativa do número de infeções identificadas, que são classificadas clinicamente como ligeiras em termos de severidade”, afirmou, ao Observador, o virologista Pedro Simas.

Para ajudar a perceber, basta olhar para as diferentes taxas de recuperação de cada país: por exemplo, em Portugal a taxa é de 73,4%. Já nos Estados Unidos da América ela é de 53,2%. Olhando para os casos globais registados – aos “closed cases”, como os classifica  o World Meter – aí sim, encontramos uma taxa de recuperação semelhante à referida pelo autor da publicação: 95%. Mas o mundo ainda está em fase de pandemia, logo, esse número nunca poderá ser final, mas apenas uma estimativa.

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Além disso, é necessário olhar para a ligação que o autor da publicação faz entre a taxa de recuperação e a definição de pandemia. “A definição clássica de uma pandemia é a seguinte: epidemia que ocorre no mundo inteiro, ou numa vasta região do mundo, que afecta um grande número de pessoas. Ou seja, não faz referência à imunidade populacional, ao próprio vírus ou à severidade da doença”, como conclui Pedro Simas. A definição de pandemia nada tem a ver com a maior ou menor taxa de recuperação do vírus.

Conclusão

Uma publicação viral sugeriu que vírus com uma taxa de recuperação de 99% não podem ser considerados uma pandemia. Além de não identificar a fonte, data, local ou autor de tal afirmação, a publicação é falsa. Como esclareceu o virologista Pedro Simas ao Observador, a definição de pandemia não tem em conta a “imunidade populacional, o próprio vírus ou a severidade da doença”, mas sim o a amplitude de ocorrência geográfica desta. Além disso, a taxa de recuperação relativamente à atual pandemia de coronavírus é apenas uma estimativa e não um valor definitivo.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.

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