Antes de analisar a veracidade desta informação é importante perceber primeiro quem é Christiane Northrup, citada nesta frase como a autora da afirmação. Trata-se de uma médica ginecologista-obstetra, formada nos Estados Unidos pela Dartmouth School of Medicine e fundadora do centro de saúde Women to Women em Yarmouth, no Maine. Este centro transformou-se mesmo num modelo para outros que lhe seguiram os passos, segundo a sua biografia apresentada por várias editoras  — onde publicou alguns bestsellers mundiais sobre saúde feminina, espiritualidade e bem-estar.

É também Christiane Northrup que aparece num vídeo de cerca de quatro minutos, falado em inglês, que começou a circular nas redes sociais em outubro e novembro e que também tem sido amplamente partilhado via WhatsApp. O Boom descobriu mesmo que estas imagens são parte de uma entrevista mais longa, em que Northrup é entrevistada pela produtora Polley Tommey, uma ativista que integra uma comunidade antivacinação e que produziu o filme de 2016, Vaxxed.

Nesta entrevista, Northup critica a vacina contra a Covid-19, que já está a ser administrada no Reino Unido. A médica diz mesmo que esta vacina vem tornar-nos “escravos do sistema”, que viola a liberdade e que é “muito preocupante”. Faz depois várias afirmações que têm resultado em diversas publicações nas redes sociais. Esta que aqui apresentamos é uma delas: “Segundo a Dr. Christiane Northrup, a vacina Covid permitirá através de monopartículas, e do 5G gravar dados biométricos e etc…!”. Mas, a vacina para a Covid vai permitir gravar dados biométricos?

Northup afirma que as vacinas contra a Covid-19 contêm nanopartículas que vão servir de detetores biométricos, patenteadas pela Fundação Bill e Melinda Gates. Estes detetores biométricos são trocados por criptomoedas. No entanto, esta patente do fundador da Microsoft, Bill Gates, e da sua mulher Melinda, de que a médica fala (embora diga erradamente o seu número) não envolve microchips, nanopartículas ou, mesmo, a vacina Covid-19 como se pode ler no Espacenet. A patente em questão é, sim, sobre um sistema de criptomoedas usando dados da atividade corporal, mas através de objetos como os smartwatches, telemóveis ou tablets e em nada se relaciona com a Covid-19.

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Por outro lado, as vacinas desenvolvidas contra a Covid-19 não inserem chips ou nanorrobots nos pacientes, ao contrário do que a médica afirma. Ao Lupa, o médico Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), já explicou que não existem imunizantes com nanorrobôs introduzidos entre os que estão em estudo clínico para a Covid-19 nem entre os que já estão em uso para outras doenças.“Apesar de a tecnologia ter progredido muito com o objetivo de se conseguir tratamento e diagnósticos, não existe a colocação de um nanorrobot numa vacina para a população ser observada ou controlada”, garantiu.

Também a professora Santuza Teixeira, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz que algumas vacinas podem até utilizar nanopartículas, mas não seriam nada semelhantes a nanorrobôs. “O objetivo de uma vacina é estimular a produção de anticorpos ou de células T capazes de neutralizar o vírus, no caso da vacina de Covid-19, o SARS-CoV-2 sem causar nenhuma alteração no genoma da pessoa vacinada”, afirma.

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No Observador, o médico virologista Paulo Paixão explicou por que razão esta vacina é diferente das outras — o que pode, por seu turno, desencadear tantas interpretações que se podem revelar falsas. É que, nas tradicionais vacinas, usa-se o próprio vírus ou bactéria, numa “versão desativada ou atenuada”, para que o organismo reaja e responda à infeção. “A tecnologia utilizada nesta nova vacina nunca tinha sido testada em humanos, contribuindo para muita discussão à volta deste tema. Nas vacinas fabricadas pelas Pfizer e Moderna, utilizando o mRNA, não é o agente do vírus que é introduzido através da vacina, mas, sim, parte do seu genoma, que produzirá uma determinada parte do micro-organismo (naturalmente, uma parte fundamental para a propagação do vírus) e, assim, estimulará a produção de defesas contra essa parte específica do agente infeccioso. Ou seja, esta vacina vai imitar o que o vírus faz, com a diferença de que não gera uma infeção completa, apenas obriga a célula do hospedeiro humano a produzir uma parte da constituição do vírus, a tal parte fundamental do mesmo”, explica. O especialista lembra ainda que tal não muda o ADN humano, porque o vírus que permanece nas células nem tem a capacidade de integrar o cromossoma.

Conclusão

As afirmações da médica obstetra Christiane Northrup seguem outras que têm aparecido nas redes sociais nos últimos meses e que muitos já vieram apelidar como negacionistas. Neste caso, o que Northrup sugere não tem sustentação. Vários especialistas recusam que sejam introduzidas chips ou nanorrobôts nos pacientes. E mesmo que essa seja uma possibilidade no desenvolvimento de alguns tratamentos e nos diagnósticos dos doentes, no caso da vacina contra a Covid-19 isso não acontece. Mesmo a informação de que por detrás desta vacina está uma patente registada pela Fundação Bill e Melinda Gates é completamente falsa, uma vez que a patente a que a médica se refere serve para monitorizar a atividade física, através da utilização de dispositivos como um smartwatch, e não pela introdução de nanorobôs no organismo das pessoas. Aliás, a própria Fundação também sido várias vezes ligada à Covid-19, tendo mesmo já sido acusada de ter sido ela a inventar o novo coronavírus. O que também se revelou falso.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são fatualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos

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