O artigo foi publicado a 2 novembro de 2015 no blogue Luso Jornal  — mas está novamente a ser difundido nas redes sociais, tendo sido partilhado cerca de 1300 vezes nas últimas 24 horas no Facebook. O texto com o título “Girl do PCP reforma-se aos 47 anos com 1859 euros” — que tem várias informações enganadoras e um título que acaba por ser falso — é acompanhado por uma fotografia de Ana Teresa Vicente Custódio Sá, antiga presidente da câmara de Palmela eleita nas listas da CDU.

Começando pelo título, há, desde logo, uma informação que é falsa: Ana Teresa Vicente não é uma “girl do PCP”. Os “jobs for the boys“, bem como a sua versão feminina de “jobs for the girls“, são expressões criadas para definir pessoas que chegam a um determinado cargo público de nomeação por via das suas relações familiares ou partidárias. Ora, Ana Custódio de Sá não é “girl” porque foi eleita presidente da câmara de Palmela pelos eleitores durante três mandatos.

Por outro lado, a informação foi publicada pelo blogue Luso Jornal em novembro de 2015 como se fosse atual, quando na verdade a pensão em causa foi atribuída a Ana Teresa Vicente quase três anos antes, em janeiro de 2013 (como se pode verificar no aviso publicado em Diário da República pela Caixa Geral de Aposentações) quando entrava para o último ano de mandato.

Excerto do Diário da República com a pensão atribuída a Ana Teresa Vicente Custódio Sá

Há, no entanto, como em muitos destes casos de desinformação, um fundo de verdade na história. A antiga presidente da câmara de Palmela recebeu, efetivamente, uma pensão da Caixa Geral de Aposentações a 8 de janeiro de 2013, como aliás noticiaram na altura jornais como o Público.

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Ana Teresa Vicente, aquando da polémica em 2013, emitiu um comunicado — divulgado pela Agência Lusa — em que dizia que a aposentação lhe tinha sido concedida e que estaria suspensa enquanto continuasse em funções públicas. Já o PCP, também em comunicado, demarcou-se do pedido, considerando esta “uma decisão pessoal, com as responsabilidades individuais daí decorrentes quanto ao seu esclarecimento, independentemente das prerrogativas que resultem da aplicação de critérios legais em vigor.”

Quando o artigo do Luso Jornal foi publicado em novembro de 2015, já a reforma lhe tinha sido atribuída há quase três anos. O artigo do Luso Jornal — que tem como fonte outro blogue com o nome Apodrecetuga — tem outras imprecisões no texto. Do texto é omitido também o resto do currículo de Ana Teresa Vicente além de ter sido presidente da câmara.

Como Ana Teresa Vicente explicou em 2013, o valor da pensão conta com 27 anos de trabalho, que começaram a  contar em 1986, quando a licenciada em Sociologia começou a trabalhar como secretária de Carlos Sousa, coordenador da Associação de Municípios do Distrito de Setúbal (AMDL). No ano seguinte, passou a trabalhar na Confederação Cooperativa Portuguesa, onde chegou a secretária-geral nos anos seguintes.

Em setembro de 1992, integrou os quadros da empresa Marpe Abengoa e em 1994 começou a exercer cargos na autarquia, como adjunta do presidente da câmara (que era o mesmo Carlos Sousa com quem tinha trabalhado na AMDL oito anos antes). Três anos depois, em 1997, foi eleita vereadora nas listas da CDU e chegou a vice-presidente. Em 2001, foi eleita pela primeira vez presidente de câmara com 45,5% dos votos. Foi reeleita em 2005 e 2009. Além de licenciada em sociologia pelo ISCTE, Ana Teresa Vicente é mestre em Ciências Actuariais. O caso já tinha sido publicado em janeiro de 2018 no site “A Voz da Razão”, tendo sido alvo de um fact check do jornal Polígrafo nessa ocasião.

Conclusão:

O blogue Luso Jornal parte de uma informação verdadeira (a atribuição da pensão) para divulgar informações descontextualizadas e erradas. Há, inclusive, no título, referência a uma ‘girl’ do PCP — o que está incorrecto. A ausência de referências temporais também contribui para a confusão. Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

Enganador

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

MISTO: aplicado quando uma ou mais das reivindicações do conteúdo são uma mistura de factos precisos e imprecisos, ou a reivindicação principal é enganosa ou está incompleta.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook e com base na proliferação de partilhas — associados de reportes de abusos de vários utilizadores — nos últimos dias.

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