A afirmação vem na imagem de uma folha com uma mensagem manuscrita a pedir “atenção” para o facto de os sindicatos não apresentarem ações de rua “nos últimos meses”. Os factos mostram o contrário do que consta nesta partilha de facebook que já chegou a mais de 180 mil pessoas só nos primeiros dias de circulação.

A publicação passa a ideia que “em nenhum momento nos últimos meses” houve sindicatos nas ruas e afirma: “Não estão preocupados com o fechamento de empresas e nem com a perda de emprego”. O contexto da pandemia e as restrições à atividade económica — e consequências disso mesmo — que ela veio introduzir estão, assim, na base desta afirmação sobre a atividade de rua dos sindicatos. A acusação é feita de forma genérica, não dizendo respeito a um período de tempo concreto, referindo-se apenas aos “últimos meses”, mas como vem no contexto da pandemia, foram estes últimos 13 meses que o Observador foi analisar para verificar se foi inexistente a atividade sindical.

A pandemia foi decretada pela Organização Mundial de Saúde a 11 de março de 2020 e as restrições em Portugal começaram nessa altura, com o primeiro estado de emergência a entrar em vigor logo a 18 de março e a prever limitações ao “direito de reunião e de manifestação”. O primeiro decreto acautelava que pudessem “ser impostas pelas autoridades públicas competentes, com base na posição da Autoridade de Saúde Nacional, as restrições necessárias para reduzir o risco de contágio e executar as medidas de prevenção e combate à epidemia, incluindo a limitação ou proibição de realização de reuniões ou manifestações que, pelo número de pessoas envolvidas, potenciem a transmissão do novo coronavírus”. Ainda assim, realizou-se a tradicional manifestação do 1º de maio, entre alguma polémica e ainda num estado de emergência com esta cautela (os que têm vigorado desde novembro já não a têm).

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Logo em junho seguinte, a Cultura saiu para a rua, numa manifestação organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos (CENA-STE) a reclamar medidas para um dos setores mais afectado pela paragem forçada pela pandemia. Dias depois foi a vez do Sindicato dos Trabalhadores da Industria de Hotelaria, Turismo, Restauração e Similares do Norte a promoverem uma manifestação no Porto pelas irregularidades praticadas no setor a pretexto da pandemia e em setembro do ano passado, a CGTP-IN convocou  duas concentrações em Lisboa, uma no Cais do Sodré e outra no Rossio, para reivindicar melhores salários.

Em novembro, no dia em que a ministra da Cultura esteve no Parlamento a discutir o Orçamento do Estado, lá fora manifestava-se o Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, do Audiovisual e dos Músicos, em mais uma concentração do “Nem Parados Nem Calados”; também em novembro, a Frente Comum, marcou uma manifestação, entre o Marquês de Pombal e a Assembleia da República, com reivindicações para o Orçamento do Estado para 2021.

Mesmo no final do ano, em dezembro houve até greve nas escolas, no pessoal não docente e não doecente, promovida pelo Sindicato de Todos Os Professores (STOP), seguida de uma greve nacional de professores; e também em dezembro, os trabalhadores dos resíduos também estiveram em greve durante 48 horas, nos dias 28 e 29, organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local. Isto sem contar com os protestos organizados por associações de trabalhadores, que não se enquadram nesta análise já que na base da sua organização não está um sindicato.

Centenas desfilam do Rossio ao Terreiro do Paço para exigir melhores salários

Já este ano, em que voltou a existir confinamento geral a partir do final de janeiro, a ação sindical também foi visível em ações de rua concretas, como a que aconteceu logo em janeiro com o CENA-STE a voltar às manifestações, desta vez em formato digital, para chamar a atenção para as carências persistentes no setor da cultura tendo em conta o encerramento dos espetáculos. Em fevereiro, o Sindicato de Todos Os Professores fez greve contra as condições do ensino à distância e no final desse mês, a CGTP organizou uma Jornada Nacional de Luta em todo o país, por considerar curtos os apoios extraordinários do Governo para fazer face ao segundo confinamento geral.

Em março passado, mais de cem ativistas e delegados sindicais da Frente Comum juntaram-se numa ação de protesto frente à residência oficial do primeiro-ministro, a exigirem um aumento real do salário da administração pública. Também neste mês, em frente ao Parlamento, manifestou-se o Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SCIF/SEF), depois de uma alteração na estrutura deste serviço anunciada pelo Governo. No mesmo local, dias antes, tinham-se manifestados representantes dos professores, do STOP. E 25 de março foi um dia especialmente intenso em manifestações promovidas pela CGTP-IN, no dia nacional dos jovens trabalhadores.

Os profissionais do setor da saúde, que tem estado no centro das atenções e das exigências no último ano de pandemia também esteve na rua já neste mês de abril, com uma ação de protesto junto ao Ministério da Saúde, organizada por Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), a Federação Nacional dos Médicos (FNAM), o Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde das Áreas de Diagnóstico e Terapêutica (STSS) e a Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FP).

Conclusão

É falso que “nenhum sindicato” tenha ido à rua nos “últimos meses”, como é possível ver pelo levantamento de algumas das principais ações promovidas por vários sindicatos no último ano. Os protestos não deixaram de existir mesmo em confinamento geral, como é possível ver pelos registos mais recentes, tendo mesmo havido alguns eventos convertidos em encontro digital para acompanhar as restrições exigidas. Mas a grande maioria dos protestos teve mesmo lugar na rua e de forma presencial.

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook

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