Com o roxo quaresmal em pano de fundo, lê-se numa publicação amplamente difundida no Facebook que as habituais procissões pascais no Fundão, parte da preenchida agenda da Semana Santa no município da Beira Interior, foram canceladas. Motivo? “Para não ferir a fé de Judeus e Islamitas”, pode ler-se no post, que arranca com o título “Os anti-cristãos ao ataque” — e não explica por que razão, em 2022, consideraram os responsáveis da Santa Casa da Misericórdia e o padre local que a tradição que vêm mantendo há décadas e inclui três procissões, uma via sacra, uma vigília pascal e várias eucaristias devia ser interrompida para de alguma forma não agredir outras fés.

Basta uma pesquisa breve pela Internet para perceber que não foi esse o motivo do cancelamento das celebrações — que efetivamente não tiveram lugar este ano, tal como tinha aliás acontecido nos dois anos anteriores.

Foi por causa da pandemia de Covid-19 — e não por qualquer intolerância religiosa, pode ler-se também no Facebook — que a Procissão do Senhor da Cana Verde (que percorre as ermidas do Fundão) e a Procissão do Enterro do Senhor foram canceladas.

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Em fevereiro deste ano, os membros da Comissão de Culto da Santa Casa da Misericórdia do Fundão decidiram que, no período da Quaresma (e por causa da Covid-19), seria cancelada a Procissão do Senhor dos Passos, um ex-líbris local desde 1634. O mesmo procedimento foi seguido para definir as celebrações da Páscoa, tendo decorrido uma reunião com o pároco local para esse efeito. E, determinando que a situação pandémica não se tinha alterado assim tanto na comparação com o mês anterior, a Comissão de Culto decidiu que também as habituais procissões pascais do município, no distrito de Castelo Branco, iriam ficar sem efeito.

“Face à situação pandémica em que ainda vivemos, que está a pautar-se por um aumento do número de contágios, falando-se já numa sexta vaga, considerámos de bom senso não realizar as manifestações públicas de culto da Semana Santa, nomeadamente a Procissão do Senhor da Cana Verde e a Procissão do Enterro do Senhor, de modo a evitarmos a enorme aglomeração de pessoas que, normalmente, estes atos de culto provocam e a proximidade interpessoal que geram”, pode ler-se no comunicado que foi publicado no dia 22 de março na conta de Facebook oficial da Santa Casa da Misericórdia do Fundão.

De acordo com o comunicado, a decisão foi tomada em “perfeita sintonia” entre os órgãos sociais da Santa Casa da Misericórdia e o pároco do Fundão e teve em conta não apenas a “responsabilidade social da instituição” mas também a composição da “Irmandade” que assegura toda a logística das celebrações e é ” constituída maioritariamente por pessoas cuja vulnerabilidade é indiscutível”.

Conclusão

Não é verdade que as procissões pascais no Fundão tenham este ano sido canceladas para “não ferir a fé de judeus e islamitas”. As celebrações, a cargo da Santa Casa da Misericórdia do Fundão e do pároco local, foram canceladas por precaução, graças à pandemia de Covid-19. “Certos de que esta é a decisão mais cautelosa, responsável e acertada no atual contexto, mas na expetativa de que no próximo ano possamos retomar estas solenidades com redobrado empenho, vontade e devoção, confiamos na compreensão de todos aqueles que habitualmente nelas participam ativamente”, escreveram os responsáveis numa publicação de Facebook a 22 de março, várias semanas antes de começarem a circular no Facebook estas informações erradas.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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