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Será que as inundações eram mesmo inevitáveis? Ou haverá formas de ter as nossas cidades melhor preparadas? Faz sentido estar sempre a falar de alterações climáticas ou estes fenómenos são afinal mais recorrentes do que se julga? Muitos mitos e algumas duras realidades sobre o que se passou nos últimos dias. |
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Tem chovido muito neste mês de Dezembro, chovido muito mais do que o normal. Isto depois de meses de seca prolongada. E como sempre acontece neste pobre país quando a Natureza atinge extremos, as consequências são pesadas. A região de Lisboa conheceu duas madrugadas de grandes inundações, mas também houve situações sérias na região de Portalegre. |
Será que era inevitável? Será que não nos podíamos ter defendido melhor? Ou será que estamos mesmo condenados a viver cada vez mais extremos climáticos por causa das alterações climáticas? |
A resposta a estas três perguntas, por estranho que possa parecer, é um tripo sim: sim, era inevitável; sim, podíamos estar melhor preparados; sim, vai haver mais extremos climáticos. Ao responder desta forma admito que esteja a contrariar alguns dos mitos dos últimos dias, que gostam de respostas simples e culpados únicos. Por isso vou voltar a este tema apesar de lhe ter dedicado esta semana duas edições do Contra-corrente (Choveu muito, mas não era obrigatório haver cheias, ainda antes da segunda noite de cheias, e Porque estamos tão mal preparados para cheias?, emitido quando a água estava pelos joelhos nas zonas mais afectadas e se pedia às pessoas para ficarem em casa). Até porque sinto que há algumas ideias erradas que teimosamente persistem na opinião publicada. |
A primeira ideia errada é que nunca aconteceu nada assim, é a insistência na ideia de que tudo o que se passou teve dimensões cataclísmicas por causa das alterações climáticas. |
Escrevo sobre alterações climáticas há mais de 40 anos, tenho consciência da realidade e dos exageros, mas não precisamos de estar sempre escrever “nunca choveu tanto”, ou “nunca fez tanto calor”, ou “nunca houve um Dezembro assim”, para provar seja o que o for. |
É verdade: Portugal foi afectado, sobretudo no início desta semana, por aquilo a que chamaram “um comboio de nuvens”, ou um “comboio de tempestades”, que por coincidência manifestaram a sua maior fúria sobre Lisboa. A Marta Leite Ferreira explicou bem no Observador o que esteve em causa (Tempestades fortes. Porque surgem e o que vem aí?) e para mais detalhes sobre o que choveu ou não choveu tanto na noite de 7 para 8, como na noite de 12 para 13, vale a pena consultar os breves relatórios que o IPMA já produziu (aqui e aqui). É do segundo desses relatórios o quadro que publico a seguir e que permite tirar algumas ilações: |
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- Das três estações do IPMA em Lisboa (Tapada da Ajuda, Instituto Geofísico e Av. Gago Coutinho), só numa se bateu o máximo diário de precipitação – as duas outras mantiveram os máximas registados em Fevereiro de 2008.
- Neste mês de Dezembro choveu nos primeiros 13 dias sensivelmente o dobro ou mais do que é habitual chover no último mês do ano.
- Houve mais três estações onde se registaram máximos absolutos (o quadro completo é muito maior, refere um total de 35 estações), a saber: Mora, Barreiro e Almada.
- Olhando para todos os dados desta tabela verificamos que os dias em se bateram recordes não estão todos concentrados neste século em que mais facilmente os atribuiríamos aos “excessos climáticos”. Há recordes que datam de 1951 (Elvas), 1967 (Santarém), 1972 (Vila Real de Santo António e Fundão), 1979 (Setúbal), 1983 (Pegões), e por aí adiante.
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Isto significa que choveu realmente muito, por vezes de forma muito concentrada, que se bateram alguns máximos, que aconteceu algo extremamente raro – duas tempestades com poucos dias de intervalo –, mas mesmo assim não podemos dizer que “nunca aconteceu antes”. Aliás quando comparamos os registos destas tempestades com os das cheias históricas de 1967, que provocaram centenas de mortos, talvez o mais significativo é que nessa altura o “olho da tempestade” contornou Lisboa pelo Oeste e pelo Norte, sendo aliás aí que se verificaram a maioria das destruições (as estações onde se registaram nesse dia maiores precipitações foram as do Monte Estoril, com 158 mm, e Sassoeiros, com 170 mm de chuva, ou seja, em qualquer dos casos bastante mais do que o valor máximo do Instituto Geofísico registado esta semana, que ficou nos 120 mm). |
Peço desculpa por me ter alongado um pouco, mas gostava de deixar claro que nos registos históricos há extremos climáticos espalhados por muitas décadas e que a tempestade de 1967, não tendo atingido tanto a cidade de Lisboa, terá tido dimensões superiores às duas tempestades deste mês de Dezembro. A nossa memória meteorológica é curta e, por isso, recomendo mais cuidado sempre que se atribui toda e qualquer catástrofe natural às alterações climáticas, que têm sempre as costas muito largas. |
Aliás, se pensarmos só em Lisboa, falamos de uma cidade onde as inundações são historicamente muito frequentes. Um estudo publicado na revista do Centro de Estudos Geográficos, Finisterra, identificou nada menos de 420 inundações em Lisboa no período que vai de 1918 a 1998. Com outros critérios um outro estudo fala-nos de 115 inundações em Lisboa nos últimos 150 anos, pelo que o seu autor, José Luís Zêzere, até desabafou que “atribuir isto apenas às alterações climáticas é esticar a corda”. |
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Estabelecido este ponto, passemos a outro lugar comum: estas inundações aconteceram porque temos os solos muito impermeabilizados. No Expresso vinha mesmo um número: 58% dos solos de Lisboa serão impermeáveis. Sendo Lisboa uma cidade antiga e relativamente consolidada é um valor que não me surpreende, pelo que a questão é: se não estivessem impermeabilizados não teria havido inundações? |
A resposta é muito clara: tinha havido inundações na mesma. |
Eu sei que estou a ir contra-corrente aquilo que costumava dizer alguém que muito admiro, o arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles, mas a verdade é que mesmo que Lisboa ainda fossem só colinas virgens, quem porventura vivesse no fundo do vale de Alcântara ou em Algés continuaria a ficar debaixo de água. É que choveu demasiado e demasiado depressa para que mesmo uma cidade “naturalizada” (se é que isso é possível ou sequer existe) pudesse encaixar tanta água “naturalmente”. Como notou outro arquitecto paisagista, Henrique Pereira dos Santos, um solo não empapado (e já havia muitos solos empapados) consegue absorver 5mm de chuva por hora e houve horas em que, em Lisboa, caíram 30mm por hora. Aliás, se olharmos para a geografia das mortes das cheias de 1967, verificamos que a maior parte delas ocorreu em zonas com solos ainda pouco impermeabilizados e que a mais terrível das catástrofes (a da aldeia de Quintas, perto do Carregado, onde morreram 100 pessoas) até aconteceu numa área que ainda hoje é rural. |
Ou seja, quando a chuva cai com esta intensidade ter ou não ter solos impermeabilizados faz pouca diferença. O que faz diferença são outros dois factores: o ordenamento do território e as infraestruturas de drenagem. |
Sobre o ordenamento do território o problema maior é construir em leito de cheia e depois insistir em viver e trabalhar em zonas que são regularmente inundadas. A área da Grande Lisboa, como de resto todo o país, está cheia de exemplos de construções erguidas onde não devia estar senão uma área de proteção aos cursos de água. Nesse domínio Ribeiro Teles pregou no deserto décadas a fio, infelizmente. |
Já quanto às infraestruturas de drenagem há obras a fazer, mas manda a verdade que se diga que a situação em Lisboa já foi pior. Na verdade a engenharia pode fazer a diferença e basta pensar como o túnel do Marquês nunca inunda ao contrário do que acontece nos túneis do Campo Pequeno e Campo Grande, algo que Carmona Rodrigues recorda nesta entrevista ao Expresso. Mais: é importante perceber porque é que o projecto de um plano de drenagem que ele lançou em 2002, quando era apenas vereador na câmara de Lisboa, só agora vai arrancar. Muita gente tem vindo a procurar justificar os atrasos ocorridos nos mandatos de António Costa e Fernando Medina, até porque só este voltou realmente a relançar o projecto. Mais: em Outubro de 2014, depois de mais um episódio de inundações em Lisboa, António Costa (que seria eleito líder do PS poucos dias depois) disse que “não existe solução” para as cheias da cidade e pois “São Pedro goza de um estatuto de imunidade que está acima das responsabilidades.” Sobre esse desabafo, recordado pela Iniciativa Liberal, já foi mesmo feita a prova dos factos. |
O Plano Geral de Drenagem, uma obra que vai incomodar muito os lisboetas e depois ficará enterrada, vai no entanto arrancar pois ela seria sempre necessária, com ou sem “alterações climáticas”. |
Vai resolver tudo? Não com certeza, mas algumas obras que têm vindo a ser feitas em Lisboa, nomeadamente algumas bacias de retenção, já mitigaram o impacto destas enxurradas. E os novos túneis, que representarão um enorme investimento, espera-se que possam aliviar as zonas mais críticas, como Alcântara. Até porque outros países já conseguiram resolver razoavelmente bem os seus problemas, como se recordou no Observador em Como o resto do mundo lida com a chuva intensa. |
Entretanto não se espere é que a ciência nos resolva os problemas todos. Como ficou evidente pelas intervenções, em vários órgãos de comunicação social e também na Rádio Observador, do presidente do IPMA, Miguel Miranda, a capacidade de antecipar a meteorologia evolui imenso nos últimos anos, mas por mais supercomputadores que existam e modelos que se corram, fenómenos como o desta semana são quase impossíveis de prever, sobretudo de prever com antecedência se o coração da tempestade vai entrar pelo vale do Tejo, como entrou, ou vai antes passar mais para norte, como aconteceu em 1967 e 1983. Mais: é bom termos noção de que “o volume de dinheiro que o IPMA recebe do Estado… se chegar para 60% dos salários já é muito. O resto é pago por projetos comunitários e da aeronáutica”, como revelou o mesmo Miguel Miranda. Isto sem esquecer que por vezes o instituto tem de depender das viaturas próprias dos seus funcionários pois esteve um ano e meio sem carros à espera de um despacho do ministro João Leão. |
Por isso, e para finalizar, recomendo-vos que leiam o que no Observador se escreveu sobre a forma como nesse serviço público se viveu a noite da tempestade, acompanhada in loco pela nossa Marta Leite Ferreira – Oito horas no IPMA em noite de aviso vermelho. Talvez assim alguns entendam melhor como funcionam, ou não funcionam, os sistemas de vigilância das condições atmosféricas e, também, de como este serviço se articula com a proteção civil. |
Quanto ao resto, não se esqueçam: vamos ter mais inundações, nem tudo é culpa das alterações climáticas e há formas de melhorar o modo como vivemos para evitar a repetição de noites de susto como as que acabamos de viver. Querendo, este pobre país pode melhorar. Querendo, não temos de andar apenas e sempre a correr atrás do prejuízo. |
O presidente pediu armas em vez de uma boleia |
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Os líderes afirmam-se em momentos críticos e talvez a hora mais crítica de Volodymyr Zelensky tenha sido quando atendeu um telefonema de Joe Biden em que este lhe oferecia proteção para sair de uma Kiev que parecia condenada a cair nas mãos dos russos e ele respondeu que precisava de armas, não de uma boleia. |
Tudo teria corrido de forma bem diferente se o presidente ucraniano tivesse cedido à tentação de se proteger em vez de dar o exemplo de resistência – na Ucrânia teria sido provavelmente a debandada dos que estavam a fazer tudo para parar o avanço dos tanques russos, no mundo muitos teriam suspirado de alívio e tratado de encontrar, com Putin, uma “paz” ao seu jeito. |
Lembrei-me de novo deste momento-charneira quando lia reportagem que a Time escreveu sobre o homem que, sem surpresa, escolheu para figura do ano. Logo a abrir o repórter conta como acompanhou Zelensky na viagem que ele fez até Kherson pouco depois de a cidade ter sido libertada pelos ucranianos, uma viagem que toda a equipa de segurança do presidente ucraniano desaconselhou por os perigos serem demasiado elevados. Mas ele foi na mesma, porque sabia que era politicamente importante ir e porque, nestas alturas, líderes como ele sabem que têm de correr riscos e não podem deixar de ter coragem física. |
De novo não pude também deixar de me lembrar de um outro momento crítico na nossa história recente, aqueles quatro dias em Londres em que Churchill lutou contra os que, no seu gabinete, queriam aceitar a proposta de negociação com a Alemanha, queriam cerder a uma “paz” ao jeito de Hitler e Mussolini. É um episódio magistralmente reconstituído por John Lukacs em Five Days in London (há uma edição portuguesa da Aletheia) e de que também nos apercebemos, com menos rigor histórico, no magnífico filme Darkest Hour. |
Não duvido que Churchill é uma das fontes inspiradoras de Volodymyr Zelensky, até pela atenção que dá ao que se passou na II Guerra (falarei mais adiante de um livro que ele anda a ler), também porventura por ter noção que ainda há tempos muito difíceis pela frente. Os sucessos recentes da Ucrânia não nos podem fazer esquecer o sofrimento que está a ser infligido ao seu povo pelos ataques aéreos da Rússia e é bom ter os pés na terra e ter consciência que o império russo ainda tem a força disso mesmo, de um império. Isso mesmo fica evidente lendo o excelente texto de abertura da The Economist desta semana onde o próprio Zelensky e os seus principais generais explicam porque razões temem uma nova ofensiva russa em larga escala em Fevereiro ou Março do próximo ano. “Just as in [the second world war]… somewhere beyond the Urals they are preparing new resources” disse um desses generais à revista britânica, e não duvidemos que assim deve estar a acontecer. |
Entretanto os russos entrincheiram-se para não voltarem a ser surpreendidos pelas tropas Kiev, sendo as suas linhas de defesa já bem visíveis nas imagens de satélite. O New York Times procedeu a uma análise dessas imagens – Defenses Carved Into the Earth –, uma análise muito detalhada e rigorosa que vale a pena conhecer, até para perceber o tipo de dificuldade que os ucranianos terão de superar para reconquistarem os territórios hoje ocupados pelos invasores. |
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De resto, e como já há algumas semanas não vos falava da Ucrânia, deixo-vos ainda mais quatro recomendações de leitura, quatro textos com perspectivas diferentes de quatro figuras incontornáveis: |
- The Man Who Said Ukraine Would Win, uma entrevista do Wall Street Journal a Bernard-Henri Lévy, que já esteve várias vezes na Ucrânia desde o início da guerra, acompanhou soldados na luta de trincheiras e, por isso, acredita conhecer as razões pelas quais a Ucrânia só pode vencer esta guerra: “The real reason Putin has not succeeded”—the reason Ukrainian morale has remained high even in the face of the most “stomach-churning” Russian atrocities against civilians—is that “they know why they fight.” They fight not only for “their existence, their survival,” but also for “values which they believe are worth risking their lives for.”
- How to avoid another world war é um texto na Spectator do sempre indispensável Henry Kissinger. Um texto muito inteligente, com incontornáveis referências históricas, porventura demasiado “realista” para o meu gosto, mas que vale a pena ser lido. O objectivo de Kissinger é um processo de paz assente em dois pilares: “To confirm the freedom of Ukraine and to define a new international structure, especially for Central and Eastern Europe. Eventually Russia should find a place in such an order.”
- In Ukraine, I saw the greatest threat to the Russian world isn’t the west – it’s Putin, de Timothy Garton Ash publicado no Guardian. Mais um excelente texto deste historiador, muito citado aqui no Macroscópio, um texto onde se explica que “The Kremlin’s imperial war has made its own culture and language a common enemy for people across its former empire”.
- Si hoy un combatiente ruso hablara con el soldado Švejk, de Monika Zgustová, uma escritora e tradutora checa que vive em Barcelona e que, a meu ver, também põe o dedo na ferida: “La guerra de Putin en Ucrania podría acabar provocando, en caso de derrota, la fragmentación de la Federación de Rusia. Para evitarlo, Moscú debería aprender su lección de la historia”.
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“Fora do baralho” é mesmo fora do baralho |
Uma das coisas que me aflige em Portugal é a rotina quase “parlamentar” dos programas de debate político, uma lógica que faz com que quase nenhum deles me suscite qualquer interesse pois na maioria nunca ninguém me surpreende ou apresenta argumentos que me façam pensar. Há uma excepção, e falo dela não apenas por ser “cá da casa”, do Observador, até porque nele participam um colunista do Público e outro do Expresso. Falo do programa Fora do Baralho, emitido na Rádio Observador todas as sextas-feiras pelas 12h10 e disponível em todas as plataformas de podcast. Esta semana a equipa comemorou um ano de emissões com um encontro na nossa redação (aqui fica a fotografia desse momento, e para quem não os conheça aqui fica também a sua identificação da esquerda para a direita: Luís Aguiar-Conraria, Susana Peralta, Jorge Fernandes, a “nossa joker” Vanessa Cruz e João Marques de Almeida). |
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Devo acrescentar que o programa desta semana – Estamos de parabéns e com queques que não guincham– foi especialmente divertido e contundente, até por o Luís ter trazido queques de Braga para partilhar com a equipa (estão a imaginar porquê). Entre outros belos momentos, o João fez a defesa dos “queques” da IL, a Susana disse como apreciou o discurso de Metsola no Parlamento Europeu, o Luís fez uma engraçadíssima proposta para se cobrarem impostos sobre os lucros “caídos do céu” (literalmente) das empresas de bombagem e o Jorge falou de um artigo um pouco arrepiante do El Pais sobre Portugal. |
Devo dizer que não conhecia esse artigo, Portugal sufre la segunda sangría demográfica más grave desde 1864, fui lê-lo e verifiquei que às vezes são mesmo necessários olhos de fora para verem (neste caso nos Censos 2021) o que de perto não vemos. Se não quiserem ficar deprimidos não leiam o que transcrevo a seguir: |
- La década que va entre 2011 y 2021 es ya tan sombría para los portugueses como la de los años sesenta del siglo XX. Si entonces la población retrocedió un 2,54%, ahora se ha perdido un 2,1%.
- Portugal es ya el tercer país del mundo, detrás de Japón e Italia, con el índice de envejecimiento más elevado.
- En el último decenio, la pirámide de población sitúa el principal retroceso demográfico femenino entre los 25 y 39 años.
- En el mercado de trabajo se acusa el cambio demográfico. “Por cada 100 individuos que salen, solo ingresan 76″.
- Lo que está a la vuelta de la esquina no invita a la esperanza. Dos datos para el pesimismo estrechamente relacionados figuran en una encuesta realizada en 2020 por la Fundación Francisco Manuel dos Santos entre jóvenes de 15 a 34 años: el 72% ganaba menos de 950 euros netos al mes en Portugal y un 30% pensaba emigrar.
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O livro que Zelensky anda a ler |
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Volodymyr Zelensky tem uma rotina diária: pouco depois de acordar pelas seis da manhã dedica algum tempo à leitura, umas 20 páginas por dia. O relato coincidente da Economist e da Time é que neste momento um dos livros que está ler é um estudo comparado de Hitler e Estaline durante a II Guerra. Trata-se de uma obra de Laurence Reeves com edição portuguesa – Hitler e Estaline: Os Tiranos e a Segunda Guerra Mundial – e que eu já tinha na estante mas que mal folheara. Peguei nele agora depois de ler essas referências e, para além de perceber bem a escolha de Zelensky – ele vê muitos paralelos entre a figura de Hitler e Putin –, encontrei nesta obra muito mais motivos de interesse para quem conduz uma guerra como aquela que a Ucrânia está a conduzir, não só pelo retrato que faz do Exército Vermelho e da forma como ele se comportava, mas também por ir revelando os erros que os dois ditadores cometeram na condução de uma guerra em que algumas das principais batalhas (como as de Kharkiv) se travaram nas planícies onde hoje se voltou a combater. Associando análise histórica com uma enorme profusão de testemunhos de gente comum que viveu os horrores de há 80 anos, este livro não é só leitura interessante para o presidente ucraniano – mal entrei nele também fiquei preso aos seus relatos, capazes de me recordarem de novo até onde a inumanidade chegou na luta de morte que Hitler e Estaline travaram naquelas “terras sangrentas”, para usar a expressão de outro historiador, Timothy Snyder. |
Há sempre um copo meio-cheio |
A chuva forte que caiu nos últimos dias levou a destruição a muitos lares e negócios, provocando prejuízos ainda difíceis de contabilizar. Mas também fez correr de novo água onde ela há muito não se via e fazia falta. Onde moro há um pequeno ribeiro que eu não via correr há vários anos e que agora reapareceu de novo, vigoroso e cheio de força. Mesmo nesta Serra de Sintra que sempre foi uma mãe de água, a seca prolongada dos últimos anos tem secado fontes e minas, pelo que esta chuva só podia ser bem vinda. Aqui e certamente em muitos campos agrícolas por esse país fora, assim como bem necessária para permitir às barragens regressarem aos seus níveis normais. Mesmo quando todos olham para o copo quase vazio, deixem-me saudar o copo meio-cheio, mesmo sabendo que o país não urbano ainda precisa de mais chuva. Mas ao menos a água já corre, como se vê neste imagem do meu singelo ribeiro. E as salamandras também reapareceram :). |
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Tenham um bom domingo. |
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José Manuel Fernandes, publisher do do Observador, é jornalista desde 1976 [ver o perfil completo]. |