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A morte do oceano Atlântico, que já há muito é uma certeza, pode começar mesmo aqui ao lado. Um estudo publicado em fevereiro na revista científica da área da geologia Geology trouxe luz sobre como poderá ser o fim desta grande massa de água e sobre a relação com a zona de subducção (faixa em que uma placa tectónica se sobrepõe a outra) localizada abaixo de Gibraltar — que permanece ativa e a “caminhar” em direção ao Atlântico. Estamos a falar de milhões de anos. Daqui a 20 milhões de anos, segundo o modelo tridimensional usado, a zona de subducção estará completamente desenvolvida e dentro de 100 milhões de anos poderá ligar-se a duas que existem do outro lado do Atlântico — o Arco da Escócia, perto da Antártida, e o Arco das Pequenas Antilhas, nas Caraíbas. E dessa união poderá mesmo nascer um anel de fogo semelhante ao do Pacífico. |
Um dos autores, o investigador português João Duarte, do Instituto Dom Luiz, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, explicou ao Observador que no final desse processo “podemos ter o oceano Atlântico cheio de zonas de subducção, com cadeias de montanhas nas suas margens, vulcões, e que será, no fundo, o que vai permitir que o oceano Atlântico feche”. |
Mas as pistas que este estudo trouxe sobre como poderá ser o início da morte do Atlântico, revelam mais do que isso, trazendo algumas informações sobre a sismicidade na região. Deitando por terra o que muitos cientistas pensavam, que o processo de desenvolvimento desta zona de subducção já não estava ativo, esta investigação mostra que o que poderá estar em causa é um adormecimento. |
“Se esta zona de subducção está ativa, vai haver sismos de grande magnitude ali. E, portanto, isso tem uma implicação real para nós, à nossa escala de tempo”, diz, acrescentando que, “apesar de estar dormente, ela está a mexer devagarinho”: “Ou seja, pode demorar mais tempo a acumular tensões, mas estas vão acabar por ser libertadas e pode haver ali sismos de grande magnitude”. |
Agora o trabalho da equipa de investigação vai continuar, com o estudo mais aprofundado dos dois cenários possíveis de acontecer depois de a zona de subducção do Mediterrâneo invadir o oceano dentro de 20 milhões de anos. E ambos podem coexistir, refere João Duarte: a zona de subducção pode propagar-se ao longo da costa portuguesa e formar uma cadeia de montanhas como a dos Andes. E, por outro lado, como uma parte da subducção vai entrar pelo Atlântico adentro podem começar a formar-se vulcões e pequenos arcos, como o das Pequenas Antilhas. |
É um estudo com grande relevância para nos mostrar o que nunca veremos, mas também para nos ajudar a preparar para os riscos que enfrentamos, como refere o autor, à “nossa escala de tempo”. |
A lagoa que não ia ser aberta ao mar por “constrangimentos financeiros”, mas afinal vai |
Mudando para uma massa de água ligeiramente inferior, nos últimos dias o presidente da Câmara de Santiago do Cacém, Álvaro Beijinha (CDU), tem acusado a Agência Portuguesa do Ambiente de “irresponsabilidade total” por não abrir a Lagoa de Santo André ao mar, como acontece anualmente. Segundo o autarca, foi referido inicialmente pela APA que a competência seria do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, que prontamente negou. Num comunicado da Câmara de Santiago do Cacém era mesmo referido que a APA alegou “constrangimentos financeiros, deixando ecossistema em risco”. |
Esta terça-feira foi organizado, por isso, um protesto público junto à lagoa, tendo estado presentes cerca de 100 pessoas, incluindo autarcas, ambientalistas e até a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real. |
Além dos constrangimentos financeiros, a agência defendia que “contrariamente a anos anteriores, o volume de água na Lagoa de Santo André é considerável”. E que “a respetiva qualidade, nomeadamente ao nível do parâmetro oxigénio dissolvido, não evidencia a existência de risco que potencie a ocorrência de episódios de eutrofização”. |
Estava, aparentemente, tudo bem, mas acabaria por haver um volte-face — comunicado ao autarca pouco antes da hora do protesto, pelo vice-presidente da APA, José Carlos Pimenta Machado. A manifestação, ainda assim, manteve-se, porque, como disse Álvaro Beijinha ao Diário de Notícias, “há aqui outras questões que se levantam, para o presente, mas também para o futuro”. E a abertura deve ser feita todos os anos até 15 de março o que dificilmente acontecerá, tendo em conta os prazos da contratação pública. |