O Reino Unido tem sido palco de atos de violência durante a última semana, com multidões a gritarem slogans anti-imigração e islamofóbicos em violentos confrontos com as autoridades policiais.

A situação atual, foi, como sabemos, resulta de um ataque com “faca” que matou três raparigas no dia 29 de julho, em Southport, uma cidade costeira a norte de Liverpool, e o rastilho, uma desinformação que circulou nas redes sociais, que apesar de rapidamente desmentidas de que o suspeito era um jovem de 17 anos, requerente de asilo ou um imigrante muçulmano.

A desinformação é a disseminação intencional de informações falsas ou enganosas com o objetivo de manipular a opinião pública, causar confusão ou influenciar decisões e comportamentos. N, não é algo recente, sempre existiu, sempre foi arma de controlo e manipulação e sempre resultou. Mas o boost que ganhou com o universo digital tornou-a num trunfo de alcance global, 1000 vezes mais poderoso, eficaz e assustador do que muitas armas, como estamos a constatar nos recentes eventos no Reino Unido

A manipulação da narrativa move ideologias, movimentos, ações, consumidores, escolhas, move a política, a educação, o mercado de consumo, o desporto, a saúde… tudo o que nos rodeia. Do “boca a orelha” passamos para o correio, o jornal, a rádio, a TV, e agora, a Internet.

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Não sei se vivemos ou não no Matrix, como tantos acreditam, mas garantidamente vivemos numa realidade em que não podemos confiar no que lemos, ouvimos, e já nem no que vemos diante dos nossos olhos.

Em segundos unimos ou revoltamos o mundo. Instigamos guerras civis e revoltas. Criamos simpatias e antipatias sociais e políticas, ditamos quem é “mau e bom”, acusamos e condenamos. Matamos marcas, criamos marcas. Condenamos pessoas à morte, que passam de bestiais a bestas. Mudamos intenções de voto. Começamos guerras, controlamos povos. Será que a informação que recebemos na Europa da guerra na Ucrânia é fidedigna?

Será que as armas nucleares serão mesmo as que mais devemos temer?

E não estamos a falar apenas de política. O futebol e restante desporto gere épocas com base na manipulação.

O que nos pode salvar? O nosso espírito crítico, o nosso ceticismo e a nossa resistência aos “efeitos de grupo” e #trendsdomomento.

A má notícia? São poucos os que possuem estas ferramentas, ou mesmo parte delas. Não podemos ser ingénuos. Mas somos, numa era onde nunca existiu tanta educação e informação, a ciência cai por terra e é ofuscada pela “sabedoria popular”.

Segundo a minha alergologista, que tem uma página de carácter educativo no Instagram onde explica temas simples, hoje as pessoas acreditam mais nos influencers do que nos médicos. Se aqueles dizem “experimentem porque resultou” – os seguidores seguem, cegamente, sem questionar efeitos, a ciência ou os conselhos dos profissionais, no mínimo frustrante para a minha médica.

O desafio é enorme: filtramos toda a informação que recebemos, validarmos as fontes, pensarmos por nós. E em nós, nos nossos juízos, podemos confiar? Reparem no quanto é difícil para o comum dos mortais ultrapassar o poder das tecnologias de inteligência artificial e deepfake, que permitem a criação de conteúdos extremamente convincentes, onde é muito difícil distinguir o verdadeiro do falso.

Será que não é este permanente estado de alerta que alimenta as conspirações? Que nos torna de tal forma descentes e confusos a ponto de questionarmos as nossas próprias ideologias?

A verdade é que a manipulação eficaz da informação pode ser vantajosa para aqueles que têm os recursos e habilidades para explorar todas estas dinâmicas. Isto é algo que já não conseguimos combater sozinhos. Exige uma abordagem multifacetada, com forte educação Mediática, a começar na escola, fomento de capacidade crítica. Exige órgãos de Regulação e Fiscalização fortes e isentos, a criação de ferramentas que ajudem a verificar a autenticidade das informações. A construção de uma sociedade resiliente e bem-informada é crucial para o bem-estar coletivo a longo prazo. A perda da confiança pública nas instituições pode ser erodida, a coesão social pode ser danificada e a capacidade de tomar decisões informadas pode ser comprometida e aí perdemos a nossa identidade.

Mas será que o mundo está interessado em construir esta sociedade? Ou a atual serve melhor os seus propósitos?