Quase meio século após o 25 de abril, já são poucos os que o vivenciaram. Memórias que se foram esbatendo no tempo e na luta da vida convivem com a indiferença da data, por iliteracia ou desprendimento.

A liberdade de expressão, que foi uma das ditas conquistas de Abril, aos poucos vai-se esfumando, fruto de ideologias fundamentalistas que, essas sim, privam a liberdade do pensador crítico que corre sérios riscos de ser abolido ou enclausurado.

A qualidade do ensino – outrora digno, mas que, por força das igualdades, paridades e outras tantas ades se tornou efetivamente naquilo e para aquilo que foi idealizado há quase três séculos, na revolução industrial: ensino para operários de modo a que todos obtivessem um pensamento único – nivela por baixo. Mérito não existe, competência pouco interessa, currículo e experiência… já saem especialistas.

A educação tem sido um dos estandartes da jovem democracia e é a base de qualquer sociedade dita evoluída, mas em nome do combate à divisão de classes e à iliteracia acabou-se com os cursos profissionais. Estudantes iguais, escolas iguais e eis que nos encontramos sem operários qualificados, sem carpinteiros, canalizadores, mecânicos ou eletricistas, mas excedentários em licenciaturas cuja designação é inenarrável, para que todos possam ser doutores.

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E aqui surge a maior das dicotomias: no pós 25 de abril insultaram-se e perseguiram-se doutores e empresários. 49 anos depois, continua-se a perseguir empresários e empreendedores, a asfixiá-los com impostos, taxas e taxinhas. Destruiu-se a classe média e nivelou-se por baixo. Eis outra das conquistas de Abril.

Os licenciados auferem o ordenado mínimo, mas são o porta estandarte dos sucessivos governos que tentam iludir e ludibriar os desatentos. Produzimos licenciados que saem das faculdades e politécnicos sem caminho definido, descontentes do vil ataque à inteligência e à decência, obrigados a uma vida muito abaixo daquela que lhes foi prometida e longe de auferirem uma remuneração compatível para uma vida digna.

A actual geração não está a ser educada para que todos sejamos iguais, onde não interesse a cor de pele, o género ou o grau académico. É educada no mito da ideologia que segrega, causa divisão e humilha. Humilha quem quer trabalhar honestamente ao oferecer ordenados míseros a quem tantos anos dedicou ao enriquecimento académico.

Gente honesta, trabalhadora e livres pensadores, precisam-se. É urgente demonstrar aos nossos jovens que o esforço compensa e não a preguiça ou o ócio. É necessário incentivar a resiliência e a perseverança e não criar mendigos de um estado social que distorce mentes e enviesa sociedades.

Precisamos de pedreiros, carpinteiros, canalizadores, médicos, juristas, professores, enfermeiros, economistas, arquitetos e engenheiros. Não importa a profissão, importa sim que sejam honestos, trabalhadores e economicamente independentes, pois só assim teremos uma sociedade estruturada e justa.

Mas 49 anos depois, apercebemo-nos de que quem trabalha e estuda afincadamente não é valorizado. A meritocracia foi palavra abolida do dicionário e a honestidade corre sérios riscos de ser a próxima.

O empreendedorismo é perseguido e acicatado. Os que têm a coragem de sair da zona de conforto, tal como no passado, emigram, insultados que são pelos míseros vencimentos, nivelados pelo ordenado mínimo, qual trabalhador assalariado e sem qualificação, sem desmérito para quem por força das circunstâncias, da vida ou por decisão própria assim o quis.

Enquanto se continuar a segregar os nossos jovens por grau académico, asfixiar os empreendedores, minando saídas profissionais para quem não pretende seguir os estudos, continuaremos a nossa caminhada inexorável para o abismo da desigualdade, da desunião e da segregação.

49 anos depois, os nossos governantes continuam agarrados a ideologias decrépitas, que criam dependências ideológicas e sociais, da igualdade utópica e manipuladora que destrói sociedades estruturadas.

Este caminho apenas serve para garante do futuro profissional de uns e não para defender e servir a causa pública. Obteve-se, nesta matéria, uma conquista: conseguiu-se que das actuais universidades saiam jovens recém-licenciados filhos e amigos do sistema, que auferem o dobro do salário, por exemplo, de um médico com mais de 3 décadas de carreira.

Esta, foi uma das conquistas de Abril, o sol afinal não brilha para todos de modo igual, mas apenas para a nova classe criada no pós 25 de abril, a classe política.