A situação sanitária do pais é caótica. Dez meses após o início da primeira vaga, não foram acauteladas medidas a médio e longo prazo para prevenção e, sobretudo, tratamento de doentes Covid. E os doentes não Covid foram desprezados em Portugal.

Enquanto, por questões ideológicas obsessivas e fundamentalistas de esquerda, impedirmos hospitais que se mantêm fechados há anos, extraordinariamente apetrechados, de prestar cuidados de saúde à população por possuírem apenas aquele defeito terrível de não pertencerem ao SNS, e em vez disso alvitrarmos a transferência de doentes para outros países, está o nosso Estado, mais uma vez, deliberadamente, a prestar um péssimo serviço aos Portugueses.

Continuamos a debitar medidas ad hoc de acordo com números. Sim, tornámo-nos números de uma das filas que sabemos ir engrossar; os bafejados pela sorte ou aqueles que sucumbirão à visita do tal Gigante com cerca de 60 nanómetros, mantendo sempre a esperança típica dos Heróis do Mar, de que agora que nos encontramos a atravessar o cabo das Tormentas não deparemos com o Gigante Adamastor.

Tivemos dez longos meses para acautelar e programar hospitais Covid, para preparar os serviços de saúde para a catástrofe.

Os nossos governantes optaram por colocar a máscara nos olhos, e não na boca e nariz como ditam as normas de higiene, e assistimos agora ao que parece um filme de Fellini, perdidos no meio deste circo alucinante onde a tragédia e a miséria de uns choca com a fantasia e opulência de outros.

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Cancelam-se consultas, cancelam-se cirurgias, cancela-se a vida. Desapareceram as gripes comuns, relativizam-se doenças major, protelam-se diagnósticos, protelam-se terapêuticas, protelam-se cirurgias. Só não se protela a morte.

Em Portugal, um teste positivo SARS-CoV-2 é passaporte para uma cama num hospital, cuidados redobrados, recursos ilimitados.

Aqueles que não são bafejados pela “sorte” de um teste positivo, são abandonados em macas, em corredores apinhados, sem ventilação, sem higiene diária, sem refeições adequadas, onde os recursos humanos, apesar de escassos e extenuados, dão o seu melhor na esperança de a todos chegar e de todos cuidar.

Os que partem, partem sós, desamparados, abandonados, sem o bálsamo reconfortante de uma palavra ou de um sorriso, nem de uma despedida.

Nunca a morte foi tão cruel, tão vil e impiedosa.

Ser doente, sobrevivente e ter vida longa, significa nos dias de hoje, abandono.

Abandono pela família, pelo fardo que representa, mas agora mais do que nunca pelo medo, medo incutido pelos instrumentos comprados pelo Estado por 15 milhões de euros.

Este abandono é ainda glorificado pelo Estado Social, pois as prerrogativas governamentais das políticas de esquerda preconizam a destruição do conceito de família, desvanecendo os direitos, mas sobretudo o dever que os laços familiares por tantos milénios representaram.

Ser doente e ter vida longa significa ser vítima deste Estado agonizante e não terá sido por mero acaso, mas sim por desonestidade, aproveitando a instrumentalização dantesca das mortes em Portugal, ao mesmo tempo que os cidadãos repartiam a sua atenção com a campanha para as eleições presidenciais, que foi vil e ignobilmente aprovada na Assembleia da República a Lei da Eutanásia.

Se na primeira vaga fomos salvos pelo milagre de Fátima, desta vez com números que não nos podem deixar indiferentes e despreocupados, ultrapassámos tudo e todos. Assistimos a um excesso de mortalidade no último ano em Portugal.

Atualmente, Portugal continua a ser o país do mundo com mais novos casos e mais mortes por SARS-CoV-2 (por milhão de habitantes) nos últimos sete dias e os dados do INE referem que apenas cerca de 40% são da responsabilidade da Covid-19.

A nossa preocupação deve ser séria.  Afinal, existem doenças para além da Covid-19 e no final, cada vez mais longínquo, perceberemos que todos são doentes e que todos têm direito à igualdade no acesso aos cuidados de saúde, públicos ou privados.

Não lamentemos as mortes à custa de camas e hospitais fechados na defesa de ideologias falhadas.

Nota: Texto escrito à saida de uma urgência de 24 horas, em que a mortalidade de doentes não Covid foi assustadora e a imensidão de doentes Covid arrepiante. São dias duros, com médicos, pessoal de enfermagem e auxiliares extenuados e sobretudo angustiados por não terem mãos a medir.