A revista Courrier Internacional, na sua edição especial, há seis anos, deu mote à futurologia do mundo depois de 2040, traçando um panorama extremamente apocalíptico daquilo que seria a vida dos seres humanos no nosso planeta, destacando relevantes aspectos políticos, económicos, sociais, religiosos, tecnológicos, climatéricos, geopolíticos. Previa-se de forma subsumida relações internacionais tensas, conflitos pelo controlo dos recursos naturais, dezenas de milhões de refugiados em várias partes do globo, a impotência e declínio da Organização das Nações Unidas (ONU), a obstrução e paralisação das instituições judiciárias internacionais, bem como as guerras religiosas, fome mortífera, epidemias incontroláveis, genocídios por querelas político-religiosas, terrorismo e tráfico humano à escala planetária. Augurava-se, ainda, a falência dos estados e a criação de novas entidades, a proliferação de empresas militares privadas, o aumento exponencial do tráfico de droga, alterações climáticas acompanhadas de catástrofes naturais sem precedentes, somando à destruição dos ecossistemas profundas alterações demográficas, com uma queda bastante acentuada na natalidade. Toda esta realidade acompanhar-se-á de uma corrida desenfreada aos armamentos e fracasso dos tratados de não proliferação, abrangendo actualmente os trinta países que possuem armas nucleares.

Os ditos sete países mais industrializados do mundo, segundo a reputada revista, entrarão em colapso total, confirmando assim o declínio dos EUA e a ascensão da China como a primeira superpotência mundial, numa nova ordem que será estabelecida. O velho continente, a Europa, afundar-se-á numa crise económico-financeira e de identidade ideológica preocupante. Surgirão novos estados no seu seio e alguns deixarão de existir, com a concomitante propagação do Islão, transportando com ela as rivalidades internas existentes entre xiitas e sunitas do médio oriente. A desintegração da União Europeia proporcionará a proliferação de enclaves islâmicos na Europa e o apogeu do fascismo como resposta à nova realidade sociopolítica.

O cenário em África não será também nada salutar. Verificar-se-á sobretudo uma explosão demográfica e crónica escassez de recursos. Nesta marginalizada região da Terra, haverá desintegração e perdas significativas de soberania, fruto de importantes alterações das fronteiras pós-coloniais. Germinará o aparecimento de territórios não reconhecidos internacionalmente e a corrida ao armamento, incluindo nuclear, somando à fixação territorial do islamismo radical a “guerra santa” entre este e o cristianismo. Cáucaso e Ásia Central, Sudoeste Asiático e Pacífico, Médio Oriente e América Latina estarão em constante “alvoroço político” perante as profundas mudanças que ocorrerão no Mundo num futuro breve.

Diante destes preocupantes “sinais dos tempos” a que estamos submergidos não há margem para dúvidas de que os dias do amanhã serão bastantes desafiantes a todos os níveis, gerando grande imprevisibilidade e um clima de desconfiança na geopolítica e geoestratégia mundial – nada auspicioso para o futuro da humanidade. É neste prisma oscilante de insegurança que devem ser lidas as belicosas tensões e crises internacionais a que temos vindo impotentemente a assistir, especialmente a invasão russa da Ucrânia e a anexação de territórios deste país por parte daquele e a crise no estreito de Taiwan, envolvendo a China e os EUA. Tudo isto redundando numa crise energética que, de forma directa e indirecta, afecta todo o mundo, alterando consideravelmente os preços nos mercados, penalizando os mais pobres e vulneráveis em geral.

Os desafios actualmente mais prementes que o mundo enfrenta, a nosso ver, estão relacionados com guerras existentes em cinco continentes, a ameaça nuclear, escassez de produtos de primeira necessidade no mercado, a fome galopante que afecta os países, particularmente os países subdesenvolvidos, os efeitos devastadores das alterações climáticas e o massivo êxodo migratório. Todas estas flagrantes calamidades públicas, tal como bem sabemos, têm dizimado a vida de milhões ao longo dos anos – e vão continuar ininterruptamente se a humanidade não arrepiar caminho. Os três países mais poderosos militarmente do mundo, nomeadamente os EUA, a China e a Rússia, são responsáveis pela parte significativa destes flagelos. No entanto, a ameaça nuclear que tem vindo a ser ensaiada pela Rússia de Putin, desde a sua arbitrária invasão na Ucrânia, representa manifestamente a maior e a pior ameaça com que o mundo se depara neste momento.

Toda esta fatídica realidade só reforça a decadência ético-moral em que a humanidade vive há bastante tempo, convergindo cada vez mais para a sua completa ruína e autodestruição. Estamos mesmo a caminhar, paulatinamente, em várias frentes, para os dias do fim: fim do amor, fim da paz, fim da sobrevivência, fim da história, fim da humanidade e o fim do mundo.

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