Portugal começou no passado domingo a escolher o futuro Primeiro-Ministro de Portugal através do voto antecipado, mas só no dia 10 março vamos conhecer os resultados eleitorais. Estas são as primeiras eleições assumidamente ancoradas na tecnologia e redes sociais, ao mesmo tempo que são as mais imprevisíveis na história da democracia portuguesa. Saber o que conseguimos fazer com os resultados de cada partido é o grande desafio que se vai colocar.

Antes do arranque oficial da campanha realizaram-se em televisão trinta debates. Vinte e oito opuseram dois líderes partidários e os outros dois foram, um, com todos os partidos com assento parlamentar e, outro, com todos os partidos sem assento parlamentar. Todos os candidatos foram entrevistados para que os cidadãos os pudessem conhecer melhor. E, por último, em rádio houve um debate com todos os partidos com assento parlamentar. Constatamos, como sempre acontece nestas ocasiões, um esforço concertado da comunicação social para prestar toda a informação sobre os candidatos às eleições legislativas e, assim, contribuir para o esclarecimento e dissipação da opinião pública.

Ouvimos e vimos os candidatos das diferentes forças partidárias a apresentarem as suas propostas para Portugal, com menos ou mais Estado, conforme o seu respectivo posicionamento à direita ou à esquerda do espectro partidário. E assistimos em pleno horário nobre a momentos de elevação e esclarecimento político mas também a outros (poucos, valha-nos isso) de ataques pessoais e profunda dissonânica. Não obstante, todos estes momentos foram importantes para quem não teve oportunidade de ler os programas eleitorais, e quer perceber as propostas para o país.

Entretanto, na semana passada começou a campanha eleitoral, que percorre o país, com mais ou menos casos, e com intervenções preconizadas por individualidades de alto relevo – citando os casos dos dois maiores partidos: na AD Aníbal Cavaco Silva, José Manuel Durão Barroso, Pedro Santana Lopes, Pedro Passos Coelho entre outros; e, no caso do PS, o Primeiro-ministro demissionário António Costa – todos aparecendo para apoiar os candidatos e a apelar ao voto no seu partido. Estas participações em momento de campanha eleitoral são normais e trazem sempre alguma polémica não fosse estarmos diante figuras carismáticas da política recente, com forte capacidade de inspirar e motivar terceiros com o seu estilo, sendo por isso difícil ficar-lhes indiferente.

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Com a entrada em cena da internet as campanhas políticas foram obrigadas a reestruturar-se para passarem a ter presença nas redes sociais e assim ganharem maior proximidade com o eleitorado. As redes sociais são aliadas dos candidatos na conquista de eleitorado, ao mesmo tempo que lhes conferem credibilidade, além de despertarem interesse e uma ligação maior à política, principalmente por parte dos jovens. E essa ligação é fundamental para contrariar o desinteresse e o abstencionismo.

O marketing eleitoral desenha estratégias para que a mensagem dos candidatos em época da eleição atinja o maior número de pessoas através das redes sociais, e sabemos que ele tem efeitos reais. A eleição de Donald Trump nos EUA com recurso ao Twitter e ao Facebook foi um exemplo real disso.

O marketing digital político tornou-se o rei das campanhas eleitorais.

Nas redes tudo flui muito rapidamente pelo que é preciso estar atento aos riscos associados ao efeito “bolha” do algoritmo, preparado para nos alimentar com notícias confortáveis e que confirmam aquilo em que queremos acreditar (mesmo que seja falso). E as redes do Instagram e do TikTok estão a ser utilizadas para exercer influência entre as camadas mais jovens. Se associarmos a isto a utilização da inteligência artificial e a disseminação de ferramentas que permitem adulteração fácil de imagens ou até a criação totalmente artificial de fotografias e vídeos, que dificilmente permitem distinguir o que é falso do que é verdadeiro, percebemos como estamos diante um novo paradigma que, se não for controlado, poderá constituir uma ameaça à democracia.

A velocidade a que circula a desinformação, com a divulgação de algumas imagens adulteradas e partilhadas como brincadeira na Internet, causa danos enquanto não é detetada e impedida em tempo real. E percebemos o quão real é esta ameaça quando neste fim de semana, o Semanário Expresso, noticiava que havia publicidade anónima e paga no facebook – que está proibida nos termos da Lei 72/2015 – feita em dois “posts”, que chegou a mais de dois milhões de portugueses (22% população) e teve um investimento total de 12 mil euros. Trata-se de coisa profissional que tenta escapar às regras da comunicação eleitoral com o claro intuito de prejudicar a imagem política do candidato Luís Montenegro, associando-o a decisões políticas do passado que não foram suas.

Este é um grande desafio que se coloca na linha do horizonte, porque se já é difícil controlar o conteúdo difundido nas redes sociais, muito mais difícil é saber se os mesmos estão ou não a cumprir as regras da Comissão Nacional de Eleições (CNE). É preciso ter consciência do mau uso da Internet e das repercussões que o mesmo pode ter, mais ainda se tivermos em conta a sondagem da Aximage, do passado domingo, que nos mostra o aumento do número de indecisos, que subiu de 17% para 20%. Diante um cenário cujos resultados eleitorais já são tão imprevisíveis, adicionar esta percentagem tão elevada de indecisos permite fazer todas a configurações governativas possíveis e imaginárias.

A comunicação política deve servir para clarificar e esclarecer, e não o seu contrário, devendo todas as ações de desinformação ser implacavelmente penalizadas pela CNE. A rede é um mundo e traz muitas vantagens, das quais é preciso saber tirar proveito, porque o poder da internet (nesta mediação) é gigante. Não podemos descurar, e devemos estar muito atentos, ao aproveitamento indevido e à eventual obstaculização ao exercício do direito à informação e do exercício da democracia.

Aí Portugal, se o marketing digital político é o rei da campanha eleitoral e os candidatos o fruto mais apetecido, precisamos defender com unhas e dentes a liberdade de expressão, maior conquista da Democracia e repudiar veementemente a desinformação e opiniões/ideias falsas.