Partidos ambientalistas?
“Nem tudo o que reluz é ouro”

O tetraz ou galo-montês (Tetrao urogallus) é um dos animais mais raros da fauna ibérica. As suas populações estão em perigo, tendo desaparecido de Portugal e restando os últimos no extremo norte de Espanha. Muito esforço, incluindo dinheiro, projetos, etc. – sobre fatores como o fomento de bosques caducifólios autóctones ou da caça – tem sido levado a cabo para inverter esta situação, mas tem-se mostrado infrutífero.

Se nuestros hermanos consultassem os programas eleitorais dos nossos partidos, do do Chega ou do do CDS nada retirariam, concordando com a luz vermelha que a Associação ZERO lhes atribuiu: não há mesmo nada ali! Pelo contrário, se fossem à procura das luzes verdes atribuídas pela ZERO, isto é, os programas de PAN, Livre e Bloco de Esquerda, ficavam descansados: apostar em folhosas autóctones, em florestas não geridas, não caçar animais, nem sequer comê-los, criminalizar, incentivar ativistas, taxar… Coisas fáceis e abundantes por toda a Península Ibérica. Talvez precisando das propostas do PSD, que por entre generalidades, lá repete a importância da educação ambiental, só o próprio tetraz parece não compreender tais vantagens. Lamentavelmente, como há uns anos com a cabra-montês dos Pirinéus, o bucardo (Capra pyrenaica), a extinção parece inevitável.

Mas eis que uma luz ao fundo do túnel nos chega da Escócia. Na Grã-Bretanha o tetraz extinguiu-se no século XVIII por perda de florestas, pensava-se. Em meados do século XIX foi reintroduzido na Escócia (aves provenientes da Suécia), e embora tenha prosperado, nos últimos 50 anos os seus números caíram mais de 90%. Ora o Parque Nacional de Cairngorms conseguiu inverter este declínio. Como? Com pastoreio. O gado pisoteia, come, estruma, dispersa sementes, etc. criando o habitat favorável para esta espécie ameaçada.

Este impacto positivo da pastorícia não se limita à Escócia ou aos tetrazes. Com efeito, as atividades tradicionais rurais estão na base do valor ecológico de muitos ecossistemas pelo mundo que com elas co-evoluíram, incluindo as nossas paisagens. De facto, por cá, a presença desta atividade, também ela em vias de extinção, aumenta a biodiversidade, enriquece os solos, gere a combustibilidade da paisagem evitando incêndios catastróficos, reveste-se de valor cultural, isto além de ser sustento de algumas famílias em áreas quase desabitadas e de nos proporcionar várias iguarias da nossa afamada gastronomia.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O que promete então o PS? Prosseguir o que tem feito, onde até se inclui a diminuição do consumo de carne – o próprio governo já a havia cortado da ementa, talvez porque de outra forma não conseguisse enamorar o PAN. Promete também continuar com o programa recente de pagamento de serviços de ecossistema, mas, na prática, não só os resultados não se vislumbram, como o que sobressai é um estratagema para o Estado se financiar a si próprio… E não, não serão Costa ou Matos Fernandes ou o presidente de um município que vão guardar rebanhos para a serra! E assim, serra após serra, campo após campo, cruzamos o país e praticamente não vemos animais, humanos incluídos. Política de terra queimada para se seguirem os hidrogénios, minas de lítio, desertos solares, etc. que tanto carinho despertam ao coração da esquerda mais radical e aos bolsos socialistas.

Não há então alternativas credíveis? Por acaso há, de onde muitos, sobretudo à esquerda, não esperavam e que tanto criticam assim ao modo de quem não leu ou não quis ler ou está habituado a mentir: sim, não é a lunática proposta do PCP de renacionalizar EDP’s, REN’s, Galp’s, etc., são mesmo as famosas 614 páginas da Iniciativa Liberal. O partido azul e vermelho tem na verdade 2% das propostas… verdes. Não fecha os olhos, como o “verde” PAN das estufas, pesticidas e abelhas exóticas, ou o CDS que agita o mundo rural como bandeira mas que se esqueceu onde é que a perdeu. Não se limita a atirar para o vazio o pagamento de serviços de ecossistema, caso do BE ou do PSD, ou a marginalizar as pessoas que vivem destas atividades, os verdadeiros gestores da paisagem, num circuito fechado do Estado para o Estado, conforme tem feito o PS e o Livre se propõe aprofundar. Nada disso: explica o problema, o racional, o que pode ser feito e como, tanto para fomentar estes serviços ambientais, como igualmente para os fazer chegar sob a forma de uma retribuição e não de um subsídio, a quem efetivamente os produz.

Não votamos especificamente para natureza e ambiente. Esta é apenas uma componente de um vasto pacote para as nossas vidas, com maior ou menor importância, consoante a valorizemos menos ou mais. Todavia, para quem a pondera como importante na sua decisão de voto, pode congratular-se com a existência de uma proposta com pés e cabeça.