Vivemos num estado laico, mas amordaçamos o crescimento literário em Portugal.

Estamos a aproximarmo-nos da 93ª edição da Feira do Livro de Lisboa, que decorre entre 25 de maio e 11 de junho, e simultaneamente da visita do Papa da Igreja Católica, Papa Francisco, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude, que decorre entre 1 e 6 de agosto de 2023.

Numa primeira instância, com datas bastante divergentes, até poderá parecer que nada têm em comum, mas as coincidências, ou falta de sentido de oportunidade no nosso país são constantes e esta visita vai limitar o crescimento da Feira do Livro, ou seja, da cultura literária portuguesa em 11,4%.

Apesar de decorrerem em datas completamente distintas, o palco secundário da Jornada Mundial da Juventude será construído no Parque Eduardo VII, o mesmo local do maior evento literário em Portugal. Devido à enorme logística envolvida na construção desta estrutura da JMJ, a cultura literária ficará com um crescimento limitado ao do ano anterior, ou seja, limitada e prejudicada.

Diversos livreiros e editores tentaram adquirir mais stands neste evento, na clara expectativa de aumentar a diversidade e dar lugar a todos os Autores, nacionais e internacionais que se cruzam no maior palco literário nacional, contudo, a triste notícia chegaria mais tarde: nem todos os stands seriam aceites, as dimensões deste evento seriam limitadas aos 340 stands do ano anterior, o que significa uma impossibilidade de crescimento devido à construção do palco secundário das JMJ.

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Perante esta triste noticia para os livreiros e editores, surgiram as declarações do presidente da APEL (Associação Portuguesa de Editores e Livreiros), Pedro Sobral, organização central da Feira do Livro de Lisboa. Citando o próprio: “Tínhamos pedidos para 379 pavilhões, ficámos com os 340 do ano passado. Isso não fere em nada”.

Estas afirmações mostram que não foram concedidos 39 stands na Feira do Livro de Lisboa, o equivalente a um crescimento de 11,4% no maior evento literário em Portugal, devido à falta de logística entre dois dos eventos mais marcantes do ano de 2023.

Ambos os eventos enriquecem a cultura portuguesa e contribuem de forma positiva para o país. No entanto, num estado laico, onde existe a obrigação moral de proteger a diversidade cultural, deveríamos ter o cuidado de coordenar cada iniciativa na sua singularidade, garantido o máximo proveito do coletivo, sem afetar o crescimento de uma das artes mais nobres e inspiradoras, a escrita.