Vamos falar desta ruína. Quem fala do vergonhoso estado político de coisas, desta vez a propósito da TAP; mas quem fala, mais do que das tricas rascas nas salas dos ministérios, das decisões ruinosas e da destruição de valor, na TAP, outra vez, e apenas um chorrilho de lamentáveis exemplos?
Quem fala da dança de corruptos; da apropriação do Estado; dos incompetentes que só conhecem o estribilho de que «estamos a trabalhar para», e depois não se vê nada; do controlo dos órgãos independentes e de fiscalização?
Quem fala do estado caótico do Serviço Nacional de Saúde, do horário de 35 horas fatídico, da ruína operacional e do desastre financeiro dos melhores hospitais do país quando passaram a ser públicos por ditame ideológico? Quem fala das consultas para daqui a um ano, das intervenções cirúrgicas para daqui a dois ou três, da fuga dos que pagam seguros de saúde para os hospitais que os atendam, enquanto os pobres ficam à porta, à espera 730 dias? Quem fala da catástrofe na Educação, já nem apenas do facilitismo, dessa Escola Pública – que os socialistas sonham monopolista –que deixou de servir de elevador social, deixou sequer de atender os que dantes apenas mandava seguir adiante, ignorantes e impreparados, a fim de, quando adultos, acenarem que sim com a cabeça, e aceitarem veneradores e obrigados uns 30 euros mensais de esmola, enquanto os instruídos e aptos progridem e em muitos casos emigram?
Quem fala do desastre ferroviário que consiste na transformação deliberada da rede nacional numa ilha ao largo da Europa, sem cota europeia nem concorrência, onde os comboios sejam maus ou não andem, e a CP possa continuar a desservir em sossego?
Quem fala do estado vergonhoso e humilhante das nossas Forças Armadas, dos 3 tanques em 12 que funcionam, dos aviões canibalizados para que outros voem, dos helicópteros que não pairam, dos submarinos que não submergem não vá dar-se que vão ao fundo, dos navios que mal suportam ir e quando vão já não voltam? [Haverá espingardas para o efectivo? Haverá botas para todos?]
Quem fala do chico-espertismo das Finanças, da dívida pública que «desce em percentagem do PIB», mas, afinal aumentou 3,3 mil milhões e atingiu os 272 mil milhões em finais de 2022 (a dívida total, essa, é ainda mais aterradora); dos «crescimentos record» de 6% depois de quedas de mais de 8%; do destino das verbas e a execução (sim, ainda mais do destino do que da execução) do Plano de «Resiliência» que – honrando o real significado da palavra – nos vai deixar no exato estado em que estávamos?
Quem fala dos 35 mil milhões enterrados nas Empresas Públicas (dados do Conselho de Finanças Públicas) entre 2014 e 2021, e quem fala das 32 empresas em falência técnica?
Quem fala da Justiça, da lenta e da prescrita, da cara e da inexistente?
Quem fala dos funcionários públicos, que eram 648 mil em 2014, quando Passos Coelho acabou de resgatar o país da bancarrota socialista, e quem fala do número de funcionários admitidos pelo governo Costa, aliado ou sozinho, (dados da DG da Administração e do Emprego Público) mais 17 941 até março de 2023, para atingirem o recorde da década: 745 642 lugares no sector público. Quem fala, apesar disso, da desorganização e do péssimo serviço de todos os serviços públicos?
Quem fala, quem critica, quem tem medidas?
A direita toda pouco, e o PSD quase nada.
Vamos falar da direita. Se a direita, toda a direita (antes mesmo de apresentar propostas ou planos) obteria, a crer em todas as sondagens, maioria na Assembleia da República, então a direita poderia governar em vez de e contra o destino de pobreza (e mediocridade, e avidez, e corrupção) a que a esquerda nos condena, ou não?
Sim, poderia.
E não pode porquê?
Porque a esquerda diz à direita pusilânime que só pode governar formando alianças, e que só pode formar alianças com quem a esquerda achar bem. E a direita pusilânime diz que então está bem.
O Partido Socialista estende a armadilha com a ajuda da sua máquina de propaganda, o entusiasmo da informação amiga, e a cumplicidade dos comentadores úteis. Dá atenção e promove a propósito disto e de tudo o Partido Chega, a fim de retirar votos à direita tradicional. E, depois, a pretexto de que o Chega seria xenófobo, racista, antidemocrático, e extremista, proíbe – do alto do seu impecável cadastro de alianças com antidemocráticos e extremistas – a direita tradicional de aliar-se com o Chega. E o PSD, vergado e manso, cai na armadilha como um patinho.
«Quá-Quá, não senhor, eu nunca me aliaria, nem sequer celebraria acordos com esses extremistas que me dariam a maioria, não eu, oh superior esquerda!»
«Quá-quá, eu queria era uma revisão constitucional de parceria com o PS com o objetivo de mais facilmente impor proibições e outro modus vivendi em casos de crise grave, nós os dois de braço dado, oh esquerda divina!»
«Quá-quá, eu, que tenho medo de dizer planos ou ideias, quero é uma aliança com a esquerda para decidirmos onde fica e quanto custa o aeroporto de Lisboa, o novo aeroporto de Lisboa, um dia lá longe, oh sábia esquerda!»
«Quá-quá, oh esquerda soberbamente moral, oh solidária e social esquerda, o que eu queria mesmo era ter um governo minoritário, e depois tu, esquerda sem nódoa, apoiavas-me! Apoiavas-me, não apoiavas, esquerda querida?!»
Vamos falar do Chega. E eis chegada a altura para a declaração de interesses: nunca votei no Partido Chega.
Não por achar que seja xenófobo. As posições do Chega sobre imigração (está no seu programa) são tão razoáveis como as posições dos países do grupo de Visegrado (Hungria, Polónia, República Checa, e Eslováquia) de respeito pelos valores europeus («Europeus e cristãos», dizia Viktor Órban, assim transformado em besta negra da esquerda, até por ser eleito e reeleito com confortáveis maiorias). E, mais, o programa do Chega defende que seja privilegiada a imigração vinda de países com que temos laços culturais e históricos, nomeadamente Brasil, Países Africanos de Língua Portuguesa e Timor-Leste.
Não por achar que o Chega seja racista. Remeto, a esse respeito, para o parágrafo anterior. E se a crítica de racismo se deve ao facto de esse partido falar muito de ciganos, então diria assim a esses críticos que acham que os problemas ficam melhor escondidos: abençoados e ignorantes críticos que nunca tiveram um encontro de grupo num hospital, nem num centro de saúde, nem em determinados supermercados, nem em algum local famoso pelo comércio de drogas, nem visitaram terra alguma do Alentejo e muito menos Portalegre.
Não por achar que o Chega seja antidemocrático. Porque defende a liberdade de expressão, associação, política, artística, económica, religiosa, de ensino e de imprensa. Porque, ao contrário de outros que se sentam na Assembleia, nunca contestou a democracia, nunca sequestrou o Parlamento, e o seu grupo parlamentar foi eleito por portugueses livres que nele votaram livremente.
Em resumo, não voto no Chega por razões pessoais e vagas. O meu voto é diferente, talvez por tradição e/ou esperança iludida. E talvez por me desagradarem alguns comportamentos escusados do Chega (como o protesto sobre a presença de Lula na AR, que me pareceu tão detestável como o convite e a presença de Lula). E talvez por desconfiar de alguns impulsos estatistas, de que a defesa da TAP nacionalizada me chocou especialmente, embora esse estatismo não esteja plasmado no programa.
Não voto no Chega. Mas, sim, defendo uma aliança ou um acordo negociado de apoio ao governo com o Chega. Para afastar os socialistas, para devolver a honra e o bom funcionamento às instituições, para recuperar a economia, em resumo, para salvar a democracia.
Passo a basear-me no Programa Eleitoral do Chega, no Programa Eleitoral 2022-2026 do Bloco de Esquerda, e do que sabemos da fé comunista e
Vamos falar de alianças. O país beneficiaria muito de um governo de maioria absoluta de direita, composto, ou em aliança, ou em acordo entre PSD, Chega, Iniciativa Liberal e CDS. Sim, composição, aliança ou acordo também, evidentemente, com o Chega. Pessoalmente, sentir-me-ia perfeitamente confortável com um governo assim.
Muito mais confortável na companhia de um partido de direita, conservador, reformista e nacionalista, que se filia na tradição europeia e ocidental, judaico-cristã e greco-romana do que, como o PS prefere, com legítimos herdeiros do estalinismo e partidos como o Bloco que ainda rejeitam (sotto voce, claro) «a política dos pequenos passos», porque revolução é que é bom.
Muito mais confortável com a autorresponsabilidade dos cidadãos, com a presunção de que estão de boa-fé e com a subsidiariedade da ação do Estado do que – como PS, PCP e Bloco preferem – com o pastoreio asfixiante da esquerda, e a sociedade construída a partir de cima pelo Estado omnipotente.
Muito mais confortável com a proposta de um Estado que «recolhe e gere os meios financeiros e humanos (…) estritamente necessários à prossecução dos seus fins próprios» e recomenda uma taxa única de IRS, do que como o PS prefere, e o Bloco escreve: mais derrama sobre as empresas, mais um imposto sobre os serviços digitais, mais um imposto sobre o consumo de bens e serviços de luxo (como «o golfe», palavra), mais tributação das mais-valias imobiliárias, e mais imposto sobre sucessões e doações, mais imposto sobre rendimento de capitais, mais imposto sobre a riqueza global. Numa palavra, o sufoco da economia.
Sentir-me-ia muito mais confortável com um partido como o Chega que defende um ensino público universal e gratuito em convívio com o ensino privado, do que, como o PS prefere, as madrassas exclusivamente públicas sonhadas pelo Bloco, a roubarem a educação à família para a substituir por especiais ideários.
Muito mais confortável com a saúde entregue, como defende o Chega, à cooperação entre sector público e sector privado, para que o público seja bem atendido e a tempo, do que – como quer o PS e diz o Bloco – eliminar «a predação do negócio privado», essa sector privado «predador» que, depois da destruição do SNS por socialistas, comunistas e bloquistas, atende os que a ele acodem munidos de seguro de saúde.
Muito mais confortável com o direito de propriedade e a iniciativa privada, com políticas que tornem a construção imobiliária e a venda e arrendamento atrativos, do que – como faz o PS e o Bloco recomenda – o «combate determinado à especulação», a «limitação do valor das rendas», as obras à força «quando os proprietários não queiram», a «posse administrativa» de prédios e apartamentos, e o combate aos despejos de quem não paga – as exactas políticas que provocam crises de habitação.
Muito mais confortável com um partido que defende a pertença à União Europeia e à NATO, do que com os aliados que o PS prefere, adversos ao «princípio implacável» da UE, e dizem (a propósito da Ucrânia, por exemplo) que a UE «prolonga os interesses imperiais da Casa Branca» e «promove estratégias de tensão em todo o Mundo».
Muito mais confortável com a liberdade de expressão, do que, como o Bloco recomenda e o PS já pratica disfarçadamente, «libertar» os órgãos de comunicação social do «peso» dos anunciantes, para reforçar os serviços públicos de informação.
Ou seja, e em resumo: a direita faz mal em olhar com respeito, ou sequer um mínimo de deferência, a teoria e prática desastrosas do PS. A direita não pode ser como a esquerda. A direita não tem que ambicionar a aprovação, ou sequer a tolerância, duma associação perniciosa com tão tristes provas de desgoverno dadas. A direita tem que organizar-se, estabelecer alianças, construir um programa, e anunciar ao que vem e o que muda – como, segundo dizem as sondagens, a maioria dos eleitores deseja.
(O autor escreve em português, e não segundo o acordo ortográfico)