Falar com crianças acerca de temas como a “igualdade de género” ou “orientações sexuais” é assunto sensível. Essencialmente por dois motivos: em primeiro, porque podemos estar a despertar as crianças, desnecessária e precocemente, para temas aonde a sua inocência ainda não as conduziu; em segundo (e mais importante) porque nunca sabemos o que se esconde por detrás dessas conversas. E é aqui que os pais podem (e devem) ter sérios motivos para desconfiar de palestras organizadas por terceiros. Mas vamos por partes.
Em primeiro lugar, é difícil de compreender a necessidade de estarmos a falar deste tipo de temas a crianças de 10/11 anos – que, na sua inocência, estarão certamente mais preocupadas com a brincadeira, jogo ou dinâmica que farão a seguir do que propriamente em debater temas como a “igualdade de género” ou “orientações sexuais”. Na verdade, esta necessidade só se compreende à luz daqueles que são os ensinamentos dos profetas da nossa esquerda vanguardista. No seu livro A Revolução Sexual (1936), Wilhelm Reich explica que crianças sexualmente ativas serão revolucionários naturais contra a ordem estabelecida, nomeadamente contra instituições consolidadas (como a família e o casamento). Mais recentemente, em Eros e Civilização (1955), Herbert Marcuse veio repetir a fórmula: “A erotização de crianças, adolescentes e jovens levará à desintegração das instituições em que foram organizadas as relações privadas. (…) Ao erotizar as crianças, adolescentes e jovens, destruiremos a família monogâmica patriarcal”. Desengane-se, assim, quem pensa que despertar a curiosidade das crianças para estes temas é coisa inocente.
Em segundo lugar, convém perceber exatamente que mensagem se pretende transmitir aos nossos filhos quando alguém se lhes propõe falar acerca de “igualdade de género” ou “orientações sexuais”. Explicar a crianças de 11 anos que homem e mulher são iguais em dignidade e que ambos gozam dos mesmos direitos é uma coisa; ensinar a crianças que masculinidade e feminilidade são meras construções sociais e que não existem diferenças naturais entre “géneros” é outra. Explicar a crianças de 11 anos que não devem discriminar os seus pares em função da sua orientação sexual é uma coisa; ensinar a crianças que não existem diferenças ou consequências decorrentes dessas orientações (desde logo, as relativas à possibilidade de ter filhos) é outra. E é aqui, como dizia, que os pais têm todos os motivos para desconfiar de palestras organizadas por escolas públicas, sobretudo quando sabemos que os fundos recolhidos revertem a favor de uma associação LGBTI.
Esta estratégia não é de hoje. A instituição mais vulnerável – e, por isso, eficaz – para transformar uma ideia em realidade é a escola. Nas famílias e nas empresas, os engenheiros sociais encontram sempre fortes resistências (preconceitos, diriam); nas escolas, a inocência das crianças é terreno fértil para cultivar as suas sementes (ainda se lembram dos alunos de 9 anos da escola Francisco Torrinha serem interrogados sobre se eram “homem”, “mulher” ou “outro”?). Não é por acaso que, em Portugal, a CIG faculta a todos os educadores/professores os chamados Guiões de Educação para o Género e Cidadania, existindo guias específicos para o ensino secundário, o 3.º ciclo, o 2.º ciclo, o 1.º ciclo e o pré-escolar (sim, nem as crianças entre os 0 e os 5 anos escapam), onde – a coberto de um suposto consenso científico – os educadores/professores são desde logo desafiados a introduzir a teoria do género como construção social a todas as crianças. Infelizmente, parece que nem o facto de a nossa Constituição proibir o Estado de programar a educação e a cultura segundo quaisquer diretrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas é suficiente para travar este ímpeto.
É evidente que pessoas como Joana Mortágua nunca aceitarão que os pais repudiem este tipo de doutrinação nas escolas – precisamente porque a escola é o seu veículo predileto para disseminar a sua agenda progressista. E é também por isso que nutrem tanto ódio pelas escolas privadas, onde as crianças são, naturalmente, poupadas a palestras ou fichas sugestivas. Fica o alerta: hoje, mais do que nunca, os pais são chamados a preocupar-se com o que os seus filhos andam a aprender nas escolas.
Advogado