Todos fomos criados diferentes. Mesmo dois gémeos idênticos nunca são exatamente iguais fisicamente. A natureza é toda ela muito complexa e os seres que a compõem, animais ou não, apresentam traços muito distintos. A ideia do belo foi criada pelo ser humano, mas os gostos são tão diversos que a conceção do mesmo pode seguir critérios muito variáveis de pessoa para pessoa, e isso é, por si só, uma das maravilhas da vida.
O que parece incrível é que mesmo longe já dos tempos do petrarquismo, séculos mais tarde, no qual a figura da mulher perfeita, com características ficas e psicológicas bem definidas, era imortalizada por poetas, continuamos a viver numa sociedade machista, em que a mulher quase que surge como um objeto de admiração pela sua aparência física. Uma vez esta sendo inexistente aos olhos daqueles que julgam o mundo por um padrão, as suas características intelectuais e psicológicas ficam logo para segundo plano, como se se tratasse de uma espécie de seleção em que, aquelas que não seguem determinados trâmites de beleza, não passam a primeira fase. Aplaudo Camões que se mostrou muito à frente do tempo em que viveu, capaz de valorizar a beleza feminina nas suas diferenças, desde a mulher loira à morena, passando pela oriental e a africana, como podemos ler na magnífica obra que nos deixou. A mulher no seu todo, com diversas formas de expressão da beleza.
Os cuidados que devemos ter com a saúde, a prática de exercício físico, uma alimentação cuidada, a importância de nos sentirmos bem connosco mesmos são, sem dúvida (ou deveriam ser) um foco para todos nós. Mas não, de todo, em hipótese alguma, para agradar a ninguém ou para sermos aceites pelos outros. É inegável esta escravatura da imagem a que assistimos nos dias se hoje, mas que pende muito mais para o lado das mulheres do que para os homens. Se a mulher é gorda, não serve. Se é feia, não serve. Se ri muito, não serve. Mas estes mesmos critérios não parecem ser aplicados de forma tão marcada aos homens. Basta pensarmos no medo do envelhecimento. Hoje em dia, desprezamos os nossos velhos, sendo que uma mulher velha é descartada facilmente de várias profissões. Uma vez acabada a beleza de outrora, é como se já não servisse para nada. Já aos homens nada disto é imposto. Ninguém lhes aponta ao dedo à barriga mais flácida ou ao cabelo branco que o tempo lhes trouxe. Já a mulher é sempre gorda demais ou magra demais, e nunca a cirurgia plástica foi tão procurada como hoje.
Há pessoas que têm mesmo problemas de saúde que as impedem de ter o aspeto físico que mais desejavam, por mais que o desejem. O que sabemos nós do que se passa na vida de cada um, afinal? É muito fácil apontarmos o dedo a alguém, sem mesmo primeiro olharmos para nós. A sociedade continua a ser, inquestionavelmente, muito mais dura com as mulheres do que com os homens no que toca a padrões de beleza, entre tantas outras questões que precisam de ser urgentemente debatidas.
As pessoas valem muito mais do que pela sua aparência, e os nossos jovens precisam de rapidamente perceber isto. Por isso, a educação é tão fundamental: para mudar mentalidades, criar valores e fazer do ser humano alguém mais consciente, com o espírito crítico acordado, e com maior sensibilidade perante o que o rodeia. Isto de magoar o outro de forma gratuita só é, afinal, um ato de cobardia e de falta de valores.