De acordo com o artigo 99 da Constituição de Espanha, o rei Filipe VI informou a Presidente da Câmara dos Deputados, Francina Armengol, do nome que indicava para a investidura. Como tanto o atual Chefe do Governo, Pedro Sánchez, como o líder do PP, Alberto Feijóo, lhe tinham transmitido a vontade de serem nomeados, embora nenhum deles lhe tivesse garantido a certeza de levar a investidura a bom porto, o rei seguiu a tradição vigente desde o regresso da democracia a Espanha e propôs Feijóo, uma vez que é o líder do partido vencedor, ainda que com maioria relativa, das eleições realizadas em 23 de julho.
Porém, face ao apoio de apenas 172 deputados, é praticamente garantido que Feijóo fracassará tanto na primeira como na segunda tentativa de investidura. De facto, a maioria absoluta necessária no primeiro caso é totalmente impossível e a maioria relativa prevista para a segunda tentativa tem enorme probabilidade de esbarrar na indisponibilidade de abstenção manifestada por parte de todos os restantes partidos que dispõem de um total de 178 deputados.
Assim sendo, o rei voltará a ouvir os partidos e a coligação com representação parlamentar, com a previsível exceção das forças políticas bascas e catalãs que primaram pela ausência na primeira ronda, e deverá propor o nome de Pedro Sánchez como candidato à investidura. Um cenário que o PSOE e o SUMAR vêm preparando desde a noite das eleições e que já teve um primeiro ato na eleição de Francina Armengol e o consequente domínio que o PSOE e o SUMAR lograram da Mesa do Congresso.
Só que Sánchez sabe que as contrapartidas que lhe garantiram essa vitória são muito inferiores àquelas que se verá obrigado a conceder aos partidos separatistas, sobretudo ao Junts de Puigdemont, se quiser manter-se como Chefe de Governo.
Aquando da eleição da Mesa do Congresso, foram suficientes as promessas de deixar constituir grupos parlamentares próprios a partidos que não cumpriam as três condições regimentais, com a consequente benesse de 30.346,72 euros mensais, acrescidos de 1.746,16 euros mensais por cada deputado, e de conceder ao galego, ao basco e ao catalão um estatuto que lhes permita o uso nas Cortes e a condição de língua oficial na União Europeia, desiderato, diga-se, que está longe de garantido face à necessidade de consenso por parte do Conselho.
Agora, a questão fia mais fino. Para a investidura à primeira tentativa, Sánchez precisa dos votos favoráveis de todos os partidos bascos e catalães e a questão da amnistia e do referendo volta a assumir uma importância crucial. Daí que o SUMAR já tivesse criado uma equipa de especialistas na tentativa de encontrar uma fórmula que permita resolver o problema sem ir abertamente contra a Constituição. Algo bem mais fácil no que concerne à amnistia, pois a palavra pode ser trocada por uma outra que garanta o mesmo resultado, do que na questão do referendo. Uma dificuldade que torna muito difícil a vitória de Sánchez à primeira tentativa porque o grau de satisfação de Puigdemont relativamente àquilo que lhe será concedido nunca será total.
Por isso, o sanchismo, na sua vontade de capturar o poder, já equaciona um cenário para a segunda tentativa de investidura. Algo que passará pela abstenção do Junts, o preço a pagar pela meia satisfação, e pela mudança de sentido de voto da deputada da Coligação Canária. Uma alteração que permitirá a Sánchez a vitória por um voto.
Um antigo dirigente do PSOE, Nicolás Redondo, não poupa nas críticas a esta aproximação de Sánchez a um foragido à justiça e considera que o atual PSOE não representa a esquerda de que a Espanha precisa. Uma forma de reconhecer que, afinal, a Espanha não está apenas refém do separatismo, mas também do sanchismo. Aquele que promete um projeto progressista sabendo que não dispõe de projeto.
Face ao exposto, depois de Feijóo fracassar na investidura, mesmo no caso de Sánchez conseguir êxito na sua tentativa de se manter no poder, a inevitabilidade de eleições antecipadas, ainda que a médio prazo e não pela altura do Natal, é elevada.