Com o aproximar das eleições europeias voltamos, uma vez mais, a trazer à superfície uma questão sempre preocupante para a democracia, e para a sua existência e sobrevivência, a abstenção. As eleições europeias são historicamente as que apresentam uma menor afluência às urnas, tendo atingido praticamente 70% em 2019, e prometendo não se afastar muito desse valor em 2024, fruto do desinteresse, desconhecimento do efeito prático destas, mas também de uma quebra de ligação entre a sociedade civil e o chamada país real, com a classe política. Os mais jovens estão entre os que menos votam, sendo na sua maioria desinteressados e até desinformados sobre a política, em especial a europeia, assumindo uma posição de distância para com a política de Bruxelas, devido à não associação desta ao seu quotidiano e impacto no país e futuro.

O impacto das instituições europeias nas nações que constituem a União é desconhecido para a generalidade do português comum, que pensa que, por Bruxelas ser geograficamente afastada de Lisboa, as suas decisões nada impactam no seu dia a dia ou no futuro dos seus filhos. A realidade, porém, é bem diferente. Bruxelas é ao dia de hoje o centro de decisões do futuro da Europa, limitando os Estados Membros a um papel secundário e de obediência cega às elites burocráticas que dominam as instituições europeias. Uma nação, no seio do seu parlamento nacional, limita-se hoje em grande parte a uma ação de transposição de diretivas da União, discutindo datas para as mesmas, ou debatendo ferozmente pequenas alterações, que se centram em detalhes tímidos, que constituem os pequenos e limitados elementos nos quais podem ter alguma influência. Se fizermos uma análise fria e assertiva percebemos a triste realidade a que o processo europeu nos conduziu: à perda de independência, soberania e relevância, despidos de poder de decisão, de moeda própria, de gestão do nosso próprio futuro e caminho, em nome de um projeto que inicialmente se dizia de cooperação (essencial para a paz e para a prosperidade), mas que hoje se vê refém do desejo perverso de um federalismo assente no totalitarismo moral e real dos burocratas sentados no seu trono em Bruxelas, desconhecedores da realidade das várias nações e das necessidades e desejos dos seus povos.

Digo que a Europa não é para jovens, porque hoje a sua voz é limitada. Não se sentindo representados, na realidade não o são mesmo, vendo-se limitados no Parlamento Europeu à representação de deputados com mais 30 ou 50 anos do que eles, que pouco ou nada sabem da realidade e dificuldades dos jovens, e sem visão para um futuro que será das novas gerações e já não daquela que decide sobre o futuro alheio. Por outras palavra, parece impossível romper a realidade totalitária da burocracia europeia, que encaminha a Europa para a total rutura ou subjugação, sem romper com a dominância etária e as ideias bafientas de uma geração que vendeu a ideia cooperativa fundadora da UE, em nome da ganância de poder federalista e imposição da sua agenda. Teremos em 2024 uma oportunidade, acredito que a última, de reverter o processo em que as instituições europeias se encontram. Essa rutura está nas mãos dos eleitores, através da eleição de representantes que rompam com o caminho federalista da União e com a centralização do poder nas mãos dos burocratas, reedirecionando o futuro dos europeus para as suas nações, tendo por base a sua cultura própria e a sua diversidade europeia, e impedindo a destruição dos valores milenares europeus, que originaram nações seculares e prósperas.

A missão está também do lado dos partidos, que, numa tentativa de garantir o futuro das nações e da Europa devem aproximar os jovens da decisão e do ato eleitoral, promovendo o aparecimento de deputados jovens, que conheçam e compreendam os jovens e os seus receios e desejos para o futuro, e colocando jovens a votar em jovens, futuro a eleger futuro, num caminho a longo prazo, que construa uma Europa para as gerações vindouras, próspera e de cooperação, mas sem nunca vender as várias identidades nacionais, que engrandeceram no passado o continente.

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