Ainda hoje, quando penso na Primeira Guerra Mundial, tenho pesadelos: como é que um desencadear de episódios “triviais” nos encaminhou a batalhas mundiais e a perdas de milhões de vidas, num verão em que todos preconizavam a prosperidade na Europa? Por outras palavras: jamais nos será previsível – e controlável – a nós, humanos, onde é que uma sucessão de pequenos eventos consecutivos nos poderá encarreirar.

Não pretendo alimentar teorias da conspiração, nem tenho índole para isso, mas este prólogo serve como prova de humildade a todos nós: nunca podemos subestimar pequenos sinais e, muito menos, uma governação leviana por parte de quem quer que seja, independentemente da direção tomada.

Atualmente, do ponto de vista económico, Portugal encontra-se em morte cerebral e, a manter o mesmo rumo, atingirá – de forma gravosa e célere – um patamar ainda mais extremo da cauda da Europa à qual, de forma indiscutível, já pertence.

Os dados reais – e não a mera especulação – ditam-nos algo simples: Portugal só sobrevive, e de forma bastante deficitária em termos macroeconómicos, à conta de uma carga de impostos perfeitamente onerosa: face ao último ano disponível (2020), 34,8% do PIB nacional equivale a impostos. Por outras palavras (para quem não domina este indicador): 34,8% do valor que todo o nosso país produz, durante 365 dias, é equivalente aos impostos pagos por todos os portugueses.

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Além do fator acima, Portugal conta hoje com:

  • um aumento da dívida pública que se encontra fixado em cerca de 135% do PIB;
  • um Índice de Pobreza que se ergue em valores alarmantes;
  • uma das maiores redes pagas de portagens da Europa;
  • uma diminuição clara do rendimento médio disponível por família;
  • cada português a ter de conceder, via impostos, cerca de 400 euros para salvar uma empresa absolutamente ineficiente como a TAP;
  • o quinto valor mais alto do preço da gasolina entre todos os países da UE;  um poder de compra de 76,4% da média europeia.

Poderia prosseguir com este elencar de variáveis que envergonham um país com uma das melhores vias de comunicação da Europa, uma das costas marítimas mais generosas de todo o continente europeu, gerações altamente formadas e uma proporção relativa de recursos naturais extraordinária face à sua área total.

Posto isto, a História – de Costa – não explica e continuará a não explicar. Em todo o caso, o nosso primeiro-ministro vislumbra um país diferente deste que é factualmente descrito. Infelizmente, para o Dr. António Costa, como estes dados são reais, só o seu escrutínio sobre um país «a avançar» é que poderá ser ilusório.

Fico entristecido ao redigir uma crónica, como esta, no essencial por dois motivos: porque é o constatar evidente de um país a afundar – e não «a avançar»; e porque não necessito de argumentar o que quer que seja. Chegámos a um ponto tal de desgoverno que me é bastante listar factos.

Não precisamos de nenhum D. Sebastião, nem de qualquer aparição messiânica. Os últimos “D. Sebastiões” não têm salvo nada e o Quinto Império nunca saiu do papel. Precisamos, isso sim, de líderes com uma ampla visão estratégica para os distintos domínios do país e um grau de ética francamente superior à que temos tido no último Governo (em Abril de 2019, contavam-se mais de 30 ligações familiares, que envolviam mais de 40 pessoas, só no seio governamental).

Em suma, precisamos, sobretudo, de políticos que saibam servir dignamente o nosso país, e não de pseudo-políticos que só se sabem servir do país.