Na semana passada, escrevi que a ideologia woke vai muito além dos direitos das minorias sexuais, das minorias étnicas e da igualdade de género. Também escrevi que nunca na sua história, os países ocidentais foram tão avançados nessas matérias. Não digo que não haja discriminações e injustiças contra minorias nos países ocidentais, mas nunca houve tanto progresso. E o mesmo se aplica à igualdade de género. Ainda há muito a fazer, mas já se progrediu imenso. Também aceito que possa haver movimentos políticos que queiram diminuir esses direitos e devemos fazer tudo para o evitar.

Mas, hoje, a ideologia woke tornou-se na maior ameaça interna às sociedades liberais do mundo ocidental. Está associada a praticas que ameaçam a liberdade individual, como a censura, medidas persecutórias e injustas, limites à liberdade de expressão e de escolhas, à divisão das sociedades em grupos identitários, e discursos assentes na mentira. Em termos muito simples, o wokismo transformou-se numa ideologia revolucionária. Transformou-se num instrumento daqueles que querem derrubar as democracias liberais.

A censura voltou ao mundo ocidental e, por vezes, em força. Hoje, há universidades americanas e britânicas que simplesmente não contratam académicos de direita. Há muitas empresas multinacionais onde a linguagem dos empregados é censurada (quem diria, o grande capital ao serviço de uma agenda revolucionária). A propósito destes comportamentos em multinacionais, convido os leitores e lerem o excelente livro de Vivek Ramaswamy. Bem sei que alguns vão acusá-lo de ser um colaborador de Trump, mas tentem ler o livro sem preconceitos. Pode ser que gostem.

O que é a ‘política de cancelamento´ senão uma medida persecutória contra o ‘delito’ de opinião? Como é possível termos chegado a este ponto? Como é possível cancelar convites a académicos por serem livres e programas de cooperação com universidades israelitas por causa das políticas de governos israelitas?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A divisão da sociedade em grupos étnicos só contribui para aumentar o racismo nas nossas sociedades. Além de ser uma atitude contra os princípios da democracia liberal. Em sociedades pluralistas, os cidadãos têm várias identidades, como mostraram os eleitores hispânicos nos EUA. Em termos políticos, a Rosa e o John podem estar muito mais de acordo do que a Rosa e o Pablo. Isto é uma afirmação absolutamente banal e óbvia. Para a ideologia woke, está errada.

Cegos pela sua ideologia, os defensores do wokismo acabam a mentir de um modo óbvio para todos, menos para eles. Veja-se o exemplo recente em Portugal de pessoas que menstruam. Só as mulheres menstruam. E as mulheres que se possam identificar como homens não deixam de ser mulheres em termos biológicos, nem para a maioria das pessoas. Há limites para o poder de escolha. Sem esses limites, a sociedade acaba numa anarquia pré-revolucionária. É isso que pretendem as vanguardas revolucionárias do movimento woke. E aproveitam-se das boas intenções e da ingenuidade de muitos, como acontece com todos os movimentos revolucionários.

É absurdo que partidos de centro esquerda por todo o mundo ocidental tenham aceite e adoptado esta ideologia revolucionária, como se viu agora nos Estados Unidos. Mas também acontece na Europa, onde movimentos woke se aliam a grupos radicais islâmicos em nome da revolução contra a democracia liberal. Como podem supostos defensores dos direitos das minorias sexuais e da igualdade de género aliarem-se a grupos que negam direitos fundamentais às mulheres. e prosseguem e matam homossexuais?

São demasiadas contradições e mentiras para a maioria dos eleitores não entender. Chegou a uma altura em que a maioria silenciosa, que não é activista de nada, se fartou e vota contra tudo o que se pareça com wokismo. Além disso, os partidos de centro esquerda perdem uma grande parte do seu eleitorado tradicional, a classe trabalhadora menos educada, mais desfavorecida, mas também mais conservadora nos costumes.

Se continuarem neste caminho do radicalismo, os partidos de centro de esquerda perderão a maioria das eleições nos próximos tempos. Eu sou de direita, por isso não me ralo muito. Mas se fosse de esquerda, preocupava-me; e muito.