“Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus.” Esta frase, de Jesus Cristo, não fica por aqui, explicita “que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita” e ainda “não sejais como os hipócritas”. Esta transcrição do evangelho de Mateus deveria ser suficiente para que se percebesse que a Igreja não divulga o que faz (de bem) nem publicita os seus tribunais ou as suas decisões, mesmo quando as passa para o direito civil. É assim há mais de dois milénios e essa é uma das razões pela qual os crentes se sentem compelidos a confessar-se sem medo de que o sacerdote saia do confessionário e se dirija à esquadra mais próxima. O que é dito, ouvido e “decidido” fica ali e Cristo define as regras: “aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais os retiverdes ser-lhes-ão retidos”. Cristo não disse “ide ao Ministério Público e…”, mas disse “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
Hoje confundem-se os poderes, existe, há muito, a separação entre o Estado e a Igreja e esta deixou-se de julgamentos públicos e autos de fé. No tempo que passa é algum povo, que se considera uma “elite”, que reclama autos de fé (não da fé em Cristo, infelizmente) onde sejam metidos nas piras mediáticas quem pecou (mesmo antes de qualquer julgamento) ou quem tocou num pecador, como, na Idade Média, quem tivesse tocado num leproso estivesse então impuro.
A Igreja não possui assessores de imagem, prefere gastar o seu dinheiro em lares de idosos, em infantários e em apoios sociais. Também no ensino e naturalmente na educação, cristã, entenda-se. Mas é feita de homens, com as suas fragilidades, a quem pede que se interroguem diariamente e a fasquia não está baixa: “se tua mão te fizer pecar, corta-a e atira-a para longe; pois é melhor que um dos teus membros se perca do que todo o teu corpo seja lançado no inferno”.