A Igreja Católica é a comunidade dos seus crentes, em Portugal qualquer coisa como 81% da população. Não há nada que se lhe compare em dimensão, nas competências exercidas, no contributo ao longo dos quase 900 anos da nossa história. Ainda em números, os ateus e agnósticos são estimados em 6%.

Como tudo o que vê o passar dos anos, a Igreja não é dada a modas. Pela sua dimensão e lógica universal (católica) compreende-se que nela tudo cabe, santos, mas também pecadores, no entanto a “imprensa” tende a generalizar o mau comportamento que uma enorme minoria praticou. No fundo, como os xenófobos quanto falam dos ciganos ou os racistas quando falam dos negros. É assim que um qualquer “artigo”, seja qual for o tema, inclui sempre, sem ligação, a questão da pedofilia. Como o aquecimento global e a “transição digital”. Os dois primeiros pecados por alegados actos, o terceiro por alegada omissão.

Tem sido frequente o senhor primeiro-ministro defender o princípio de “à justiça o que é da justiça e à política o que é da política”. A Igreja tem jurisprudência muito mais consolidada e normativa, da boca do próprio Cristo ouvimos “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Ora não é isso que os “comentadores e comentadeiras” pretendem. Desconhecendo em absoluto as regras por que se move a Igreja, querem julgamentos públicos, tipo novela das 8.

Ora a César a justiça, que a Igreja tem outras obrigações e competências. Num país que diz ser um Estado de Direito, terá o ministério público que cumprir a sua função, em instituições da Igreja, mas também nas do próprio Estado com crimes tão graves, ou mesmo nas famílias, onde a maioria destes crimes acontecem.

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O aparecimento de nomes provindos da “Comissão”, que vieram a provar-se serem falsos, denigre os mais básicos princípios do Estado de Direito – o da presunção de inocência. Também aguardo que as televisões interroguem os membros da “Comissão” para que justifiquem a inclusão de nomes de pessoas que se provaram não terem praticado qualquer crime. Se ninguém está acima da lei, também os membros da Comissão terão de ser questionados.

Vivemos a era das opiniões, alguns querem manifestá-la e outros, querem segui-las, como prova de vida. Há dias, “um grupo de católicos” (assim se intitularam) da diocese de Lisboa escreveu ao Papa, para lhe transmitir recomendações sobre o perfil que pretendiam para o futuro patriarca (!). Espera-se também que reúnam em sínodo e definam as regras para a nomeação do próximo Sumo Pontífice (!). Lamenta-se que não façam idêntico trabalho sobre os ministros (os civis).

Comentadores e comentadeiras criticam as JMJ por onde podem. Não pode ser pelo racismo, nem pelo sexismo, nem pela intolerância, nem por qualquer pecado capitalista, porque deve ser o evento mais transversal que existe (151 países…todo o tipo de jovens). Atacam por Portugal ser um “Estado Laico” e como tal não deve contribuir para eventos religiosos. Até de forma “oficial” é esta a opinião do BE e da IL. Percebe-se que os críticos (pouco ouvidos aquando da distribuição de verbas para o futebol) desconhecem o país onde vivem. O país longe de Lisboa e do Chiado, onde “O Estado” liga diariamente às estruturas da Igreja a pedir que guardem algum idoso ou indigente, que alimentem desvalidos, que mantenham unidades de cuidados paliativos deficitárias, para receber quem precisa de assistência. Toda a rede de assistência, rede mesmo, como aquelas que se colocam sob os trapézios para amortecer as quedas, tem em mais de 80% o selo da Igreja católica (e nos restantes 20% também de outras confissões).

Questiona-se quantas casas poderiam ser resolvidas com o dinheiro das “Jornadas”. Ainda não consigo responder, mas posso dizer que com o dinheiro queimado na TAP se poderiam construir 30.000 (trinta mil)

Há ainda a crítica por se estar a fazer uma festa quando há problemas supostamente não resolvidos. Nesta lógica também não se deviam tolerar festas do Avante enquanto não fizerem a contrição dos 14,5 milhões de mortos no Holodomor, ou o 1,7 milhões no Gulag, sem contabilizar outros pecados menores.

O que vejo é medo, medo destes críticos da Igreja, que advém da capacidade de agregação, transversal, de todas as cores, de todas as nacionalidades, de todas as idades, de todos os estratos sociais. Aquilo que podia ser uma utopia, mas que é uma realidade, contrariamente às utopias que nos tentam vender a retalho. Do magnetismo que a Igreja tem sobre os jovens, sobre quem quer mudar o mundo e sabe que só mudando cada um de nós tal é possível.

Os críticos desconhecem o país que os jovens que chegaram na última semana já conhecem melhor que eles, a quem foi dada a possibilidade de ter experiências tão ricas como estranhas, de vindimar a apascentar rebanhos, de visitar lares de idosos, experiências que envolvem o ser e o tornam humano, por partilhar o esforço de outros.

Os comentadores e comentadeiras queriam ser eles os sacerdotes e definir, contra uma maioria de 80% o que entendem ser a vida de cada um e do Estado. O Estado é laico, mas a população é crente, na sua maioria. Consideram que ser crente não é compatível com ser intelectual (seja lá isso o que for). Nunca leram o padre. Manuel Antunes certamente.

De facto comentam e criticam, nada produzem, ao contrário da Igreja, que tenta ser muda e discreta e tem uma obra gigantesca onde todos os dias centenas ou milhares de católicos fazem pequenos milagres, quando cuidam de idosos, de crianças de deficientes, de sem abrigo, quando distribuem refeições, em voluntariado, um conceito que enerva os críticos. Como é possível fazer-se trabalho sem nada em troca. Se eles soubessem…