Os lapsos, sobretudo os de memória, e as contas mais ou menos a errar por “poucochinho” são um habitué dos governos.
Há duas semanas foi a plenário na Assembleia da República um debate sobre a saúde promovido pelo PSD. É bom ver que o PSD está a revitalizar-se e que a liderança de Rui Rio, conhecido pela sua fraca lealdade ao governo de Pedro Passos Coelho, está a tentar esquecer os anos de miséria que o governo deste trouxe ao SNS.
Não deixa de ser irónico que seja pela voz de Ricardo Baptista Leite que, em 2014, defendia acerrimamente Paulo Macedo, quando questionado por João Semedo sobre o novos tratamentos para a Hepatite C, porém, apesar do problema cervical crónico que afecta grande parte dos políticos, o que importa é estar do lado certo, nem que seja só às vezes.
O Primeiro Ministro mentiu a Cecília Meireles do CDS e por consequência ao país, no tempo de espera para primeira consulta de Cardiologia no Hospital Padre Américo.
No dia seguinte, Marta Temido veio assumir a culpa pelo erro, assumindo ter dado informações erradas a António Costa. Tivesse a ARTV música do Hans Zimmer e todos imaginaríamos o Rei Juliano a lamentar-se não se poder dar “ao sacrifício” por assobiar “tão bem”.
A ministra da Saúde afirmou num recente Prós e Contras querer estar do lado do SNS. É bom sinal, mas há um problema de perspectiva. O SNS não são as folhas que se assinam e lêem na João Crisóstomo, o SNS são as pessoas e estar do lado dos Administradores é colocar o lugar à disposição quando não há condições para gerir as unidades, estar do lado dos profissionais é, muitas vezes, desobedecer para cumprir.
Desfeita a gralha, assumida a culpa, o debate continuou após uma grande ovação do CDS à responsável pela Saúde. A cordial relação entre os parlamentares envolvidos, permitiu que a culpa da troca dos 593 dias de espera para os 1482 ficasse esclarecida.
O que me parece menos claro é por que motivo se fala em dias. 1482 dias são mais de 4 anos, significa isto que, à data de hoje, existem 2372 anos de espera para primeiras consultas de Cardiologia só em Penafiel.
O que me parece obscuro, é que seja referido que houve um aumento de 4% nas cirurgias em Outubro de 2019, quando comparado com o período homologo e ocultar que em Outubro de 2018 houve 6 dias de greve dos enfermeiros.
A saúde não está melhor como nos vão dizendo, está mais polida, mais opaca mas melhor trabalhada do ponto de vista da comunicação. O politicamente correcto e o as simpatias parlamentares não melhoram as condições do “avô do André” de que Carlos César tanto falava, servem exclusivamente para nos iludir e para empurrar um problema que um dia pode ser nosso ou dos nossos familiares. Sou dos poucos que o denuncia, mas não sou o único que sei e aquilo que mais me incomoda não são só as falhas constantes, é, sobretudo, estarmos pouco exigentes, mais resignados e menos livres.