Sócrates, pai da filosofia moderna, afirmou serem fundamentais três coisas à humanidade: prudência no ânimo, silêncio na língua e vergonha na cara.

Hoje reina uma tremenda brandura nas afirmações, que nos leva a baralhar conceitos e confundir pessoas. Conhecemos Sócrates como poucos, mas apenas o nascido depois de Cristo. A herança que deixou a este PS foi, fundamentalmente, a falta de rigor e a certeza que as promessas — como as dívidas — são para gerir.

O programa eleitoral do Partido Socialista previa uma aposta clara no SNS. Passado pouco mais de um mês desde as eleições, as notícias das últimas semanas fazem-nos questionar como se faz um investimento sem profissionais ou dinheiro.
Os afectos não abrem as urgências pediátricas do Garcia de Horta, as intenções não contratam mais profissionais para os Hospitais e ACeS e as promessas não vão tirar as macas dos corredores do Hospital de Aveiro.

Em Portugal, o governo, salta de falhanço em falhanço com requinte. A nouvelle vague da política é a trapaça erigida na ignorância e esquecimento popular. O poder político nunca falha! Traça novas prioridades. Cria outros desafios porque bem sabe que o burburinho da novidade abafa o som estridente do fracasso.

O povo demitiu-se de fiscalizar a acção governativa e, onde não existe supervisão, grassa sempre um sentimento de impunidade generalizado e amoral. A culpa não é dos políticos. É dos que não votam, é dos que não querem saber, é dos que se afastam da política para não se zangar. A culpa não é deles, é dos que desistiram da democracia, dos que não respeitam o nosso legado de liberdade e se põe à margem da escolha, é dos que não participam na vida política porque a veem como mal frequentada e dos que embarcaram na moda de ser contra sistema.

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Enquanto gozam da liberdade de poder não querer saber, outros ficam reféns das parcas escolhas que o Estado lhes apresenta.

Inertes e esperançosos que tudo mude sem mudar a raiz do problema, somos confrontados diariamente com sucedâneos. Na saúde, as soluções, como os medicamentos, também vêm em formato de genérico e unidose. Não se cura a doença, trata-se a dor, cuida-se da queixa ou, na pior das hipóteses, amputa-se o membro, como no Garcia de Orta. Nunca ouvirão que se perdeu um dedo porque se comprará um pechisbeque para um dos quatro que sobraram.

Um voto é um contrato assinado. Uma vitória eleitoral, significa que a população quer que cumpramos aquilo com que nos comprometemos. Sem gestão de expectativas, com rigor, transparência e verdade.

Seguindo as regras preconizadas por Sócrates, a prudência no ânimo teria aconselhado um programa exequível e ajustado às necessidades nacionais, o silêncio na língua teria refreado as promessas eleitoralistas, mas a vergonha na cara, essa, exige que se cumpram as promessas em tempo útil e não só́ daqui a três anos e meio, antes de os portugueses voltarem às urnas.