A sociedade de hoje apresenta, em larga medida, mais oportunidades do que no passado para os jovens, mas ao mesmo tempo tornou-se muito mais exigente. À necessidade progressiva de formação superior, encontram-se empregos igualmente mais exigentes e desafiantes. Estamos assoberbados pela velocidade frenética do dia-a-dia, pelas múltiplas notificações, solicitações e distrações que o quotidiano nos apresenta. Com eles, e num mundo incerto, complexo e volátil, somos dominados pela ansiedade, pelo stress, pela pressão para ter sucesso, pelo medo de errar.

As expectativas dos jovens ficam tantas vezes por cumprir, mas a responsabilidade desta insuficiência não é fácil de determinar. O certo é que a solidariedade entre gerações parece estar cada vez mais em causa: a garantia de que o mundo de amanhã será melhor que o de ontem já não existe.

Múltiplas decisões públicas relevantes são tomadas sem a real consciência do impacto no futuro dos mais jovens. Atente-se nos grandes investimentos públicos que, procurando beneficiar as gerações futuras, as comprometem, como acontece na gestão das finanças públicas, na luta contra as alterações climáticas ou na criação de condições para a emancipação jovem.

A legislação laboral dificulta o trabalho digno e com direitos aos jovens, onde o desemprego jovem é quase quatro vezes superior ao desemprego total e o trabalho sem direitos ou precário é uma efetiva realidade. Os jovens são, invariavelmente, os mais afetados pelo desemprego: ou porque têm contratos mais recentes e não os veem renovados, ou são mais facilmente dispensados, ou porque se encontram em situações laborais precárias e de um momento para o outro ficam sem rendimento, ou porque simplesmente não conseguem ingressar no mercado de trabalho. Infelizmente, os jovens são constantemente o elo mais fraco.

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Descrença. Objetivos pessoais traçados e não cumpridos. Projetos de vida falhados. Desgaste e esvaziamento emocionais. A circunstância das presentes gerações, onde as suas vidas parecem estar adiadas ou por cumprir, leva a um sentimento de frustração que pode ser manifestada em fenómenos mais severos de degradação da saúde mental.

Somos a geração que não tem medo de falar sobre as dificuldades que vivemos, mesmo quando as gerações mais velhas nos dizem que os nossos problemas não são reais, que a vida era outrora mais difícil. Somos a geração que normaliza a necessidade de apoio à saúde mental, que reconhece que não há saúde sem saúde psicológica. A minha geração precisa de cuidar de si, para assegurar que protege e cuida das próximas gerações. Precisamos de nos salvar, para podermos assegurar o equilíbrio mental e emocional que queremos deixar no mundo.

O Dia Mundial da Saúde Mental existe também por causa disto. Para nos lembrarmos que o epíteto “mente sã em corpo são” explana a dicotomia presente nas duas faces da mesma moeda, ambos fundamentais para o saudável equilíbrio da vida humana em sociedade. Tratemos do corpo, mas também da mente. Sem dúvidas, nem receios.

Neste dia deixo um apelo aos decisores políticos do País: é necessária uma atenção redobrada aos problemas dos jovens para os quais tantas vezes alertamos e que são fonte de instabilidade, dificuldade, incerteza, ansiedade e desespero. Aos jovens, como eu, um pedido: atentem em cada um dos que vos rodeia, procurem perceber os sinais e ofereçam uma mão amiga na adversidade. São cada vez mais os canais e as instituições dispostas a ajudar. Não deixem ninguém sofrer sozinho e em silêncio.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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