O tempo passa e inflação vai fazendo o seu caminho, os cofres do Estado mais cheios e os nossos mais vazios, é mesmo este o efeito esperado, tornando a dívida pública artificialmente mais pequena e deixando o comum dos cidadãos cada vez mais pobre. Felizmente, nos EUA começam a sentir-se sinais de que a subida de preços pode ser controlada, mostrando que taxas de juro reais negativas nada resolvem.

A taxa de juro real (que subtrai a taxa de inflação à taxa de juro nominal) na zona euro e nos EUA denotam uma grande diferença. Enquanto a FED, que mais atempadamente subiu as taxas de juro, regista uma taxa negativa de 4%, na Europa este valor cifra se em perto de 8%. Os últimos dados da inflação norte-americana são um primeiro sinal de esperança de que este fenómeno pode ser controlado, mostrando mais uma vez que a antecipação na subida das taxas de juro de referência traz custos no curto prazo, mas é essencial para não perpetuarmos um cenário em que nosso rendimento se degrada a cada dia.

O BCE, comandado pela inoperante Christine Lagarde, optou por uma mais lenta estratégia de combate à inflação e mesmo assim uma boa parte dos endividados governantes europeus continua sem perceber que o custo de médio/longo prazo de subir juros é menor do que perpetuar subidas descontroladas de preços. Viciados em taxas de juro próximas de zero, vitais para assegurar o sucesso de planos de investimento como o PRR, os governos esbanjadores europeus estão a ficar encurralados.

Como diz o ditado, mais vale tarde do que nunca, e a política de subida de juros do BCE acabará por ter efeitos, ultrapassando o desfasamento de 6 a 12 meses relativamente à do FED. Na segunda metade de 2023, é provável que taxa de juro real na Europa se aproxime do zero, algo que nos Estados Unidos deverá acontecer já no início do ano. Estas expectativas começaram já a fazer o euro recuperar relativamente ao dólar, o que por si só promove a descida da inflação na Europa, visto que as nossas importações ficam mais baratas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mais uma vez se constata que empurrar os problemas com a barriga não os soluciona. Uma atuação pronta dos bancos centrais minimiza os efeitos de longo prazo da inflação. É sabido que todos, especialmente os mais pobres, são bastante afetados por ela, e nada fazer só prolonga os seus efeitos, chegando mesmo a agravá-los e iludindo quem vai tendo aumentos salariais pelo caminho, visto que não é possível que estes compensem a subida nos preços.

O maior problema que a inflação nos traz está relacionado com forte aumento da pobreza e nos últimos tempos já temos assistido a notícias perturbadoras: latas de atum com alarme; procura de desculpas para poder comer e dormir em hospitais; aumento da afluência aos diversos bancos alimentares e instituições de apoio aos mais vulneráveis. Contudo, no mundo encantado do nosso governo nada se parece passar, servindo as 1001 incompatibilidades, nomeações de boys e demissões de governantes para nos entreter, ao mesmo tempo que a doença financeira de muitos portugueses se vai agravando.

De facto, escolher um líder tão farto de governar como António Costa para gerir um período previsivelmente tão difícil foi uma opção de que os portugueses se irão arrepender. Felizmente para ele, já não tarda muito a começar pelo mundial de futebol, e com uma seleção com a qualidade da nossa (inversamente proporcional à qualidade do governo que Costa dirige) é bem provável que consigamos entreter a opinião pública até às festas de Natal e Ano-Novo. Mas como vimos em cima, arrastar os problemas não os resolve, por muito que os portugueses só acordem realmente para a crise em que estamos no mês de janeiro, a letargia futebolística e festiva não nos vai deixar em melhor situação, será só um analgésico que nos vai iludir até ao confronto com a realidade em 2023.

Na categoria de “empurrar com a barriga” é bom que nos preparemos para o aumento de falências (pessoais e empresarias) que se avizinha, muitas delas sendo evitadas pela perpetuação de taxas de juro baixas. Estas falências são um mal necessário, fazendo com que o nosso parco capital seja aplicado nas melhores empresas e deixando falir as piores. Só espero que tenhamos aprendido no último ano que a definição de empresas estratégicas é meio caminho andado para desbaratar os poucos recursos que temos em empresas ineficientes. Será vital que em 2023 deixemos de tentar salvar as TAPs, Efacecs e Dielmars desta vida.