«Burrice natural ou inteligência artificial, eis a questão? Prefiro mesmo a inteligência natural». (Rubens de Camargo Vianna Filho)

«A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo o mundo vê». (Arthur Schopenhauer)

«Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana». (Carl Jung)

A escola é inata e conatural ao «homo sapiens». «Ipsum verum sit factum».

A IA, pode passar de acto-feito de criação humana, a «finis exitus terminus».

A inteligência artificial (IA) em fase de experimentação e implementação nas escolas portuguesas, tem como consequência-resultado, a perda da onto-episto-gnoseologia do factor humano em contexto escolar. Filosoficamente falando, o papel do professor é fulcral na organização escola, é o vital e incontornável factor H – factor humano – referencial em contexto escolar para a busca e significado profundo e abrangente para a vida e existência humana, das ideias-conceito do Ser humano de ontologia, epistemologia e gnoseologia.

Com a chegada da IA generativa à escola, chega um elemento perturbador, marginal e mesmo pária, no sentido de estranho e de não pertença; a ocupante e colonizadora IA, com a acção de procrastinação do magistério docente e tornando o professor proscrito, inibidora das práticas-arquétipo de leccionação do professorado. A inteligência artificial personaliza uma aprendizagem customizada (expressão que tem origem na palavra em inglês «custom», um adjectivo que significa «feito sob a encomenda», «elaborado sob a medida»; donde, costumizar é modificar, alterar adaptando e personalizando, no caso em concreto da educação, de modo a adequá-la ao gosto ou às necessidades de cada aulista-educando). O problema é que a escola é aprendizagem, mas também é trabalho e estudo, exigência, profundidade e excelência do saber e do conhecimento. Na escola-laboratório actual-futura da IA algoritmizada da costumização, a personalização individualizada da aprendizagem é feita na padronização e nivelamento de baixar a fasquia, numa perspectiva de ludicidade (do latim ludus); acontece, porém que a escola não se coaduna nem com jogos nem com brincadeiras nem com facilitismos nem com «gostos a jeito» nem com sapidezes de falhanço e impreparação para a vida, adulterando, maculando e pervertendo a missão identitária da escola.

Entre humanos «a coisa» é humana. Só, somente o professor chega ao âmago dos seus alunos. Respirar, educar e ensinar são actos-realidade de exclusividade humana. Como o são a ontologia que estuda a natureza do ser humano, o significado do Ser, da existência e da própria realidade; a epistemologia remete-nos para o conhecimento científico (episteme) crítico e lógico; já a gnoseologia pode ser entendida como a teoria geral do pensamento e do conhecimento humano, do acto cognitivo e da acção de conhecer.

Os factores humanos na escola referem-se a factores ambientais, organizativos e profissionais; características humanas e individuais que influenciam os comportamentos no local de trabalho, físicas, fisiológicas e sociais que afectam a interacção humana com equipamentos, sistemas, processos e outros. O factor H descreve a interacção entre humanos, com equipamentos (o exemplo da IA), com as instalações e com o sistema de gestão, na tradução de um ambiente de trabalho e cultura, de visão holística, integral e do todo – holismo.

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O contexto, conjuntura e enquadramento da inteligência artificial (IA) na escola, é a parte de um todo que ameaça aparecer no ambiente escolar, na contextura, não como ferramenta de trabalho, opção e mais valia, mas como agente substituto, e não como complemento e coadjuvante do trabalho do professor. E assim não!

O assumir de protagonismo da IA generativa (tecnologia de inteligência artificial, que funciona a partir de duas redes neurais generativas, as GANS – a geradora e a discriminadora, com algoritmos de aprendizagem treinados para produzir conteúdo a partir de uma base de dados, criadora de novos conteúdos personalizados, ideias, textos, imagens e ilustrações, design, áudios, análises, programação, etc., com a popularização de plataformas como o Chat GPT, Dall-E, Github Copilot, Jasper, Midjourney, Bing Chat, Google Bard, etc.;   https://www.remessaonline.com.br, IA Generativa: o que é, origem e como funciona, Rodrigo Valinor, maio 11, 2023), das tecnologias digitais e das tecnologias de info-comunicação, em detrimento do agora secundarizado, edu-vigi-controlado e discriminado professor proletarizado e uberizado pela subversiva IA edu-algorítmica em contexto escolar; é a afirmação de uma revolução tecnológica em curso, em continuum treinamento, aprendizagem, aperfeiçoamento e empoderamento.

O professor caminha para o baixo estatuto intelectual de executante de tarefas, em modo de automação plataformizada-aplicativa. Num continuus de desumanização da escola pela colonizadora IA, verdade e resultado-consequência de um defo-antropo-amorfismo de leitura política enviesada humana, caminhante para a «zombilização» sistémica educativa estereotipada – padronizada e generalizada pelo senso comum da opinião pública manipulada; com a acção homo humanus estranha e do inusitado-unusual bizarro, privada de vontade e autonomia própria do Ser e estar do professor, sem personalidade jurídica e ético-deontológica tutelarmente imposta, numa ciber-escola algoritmizada, ficcionada pelos viés algorítmicos (desafio crítico de discriminação exclusória dos algoritmos matemáticos em relação aos seres humanos e que pode infecto-gangrenar as bias – preconceito do algoritmo) e leituras-juízo da IA com decisões erróneas, em ambiente esquizo-catatónico imperativo, excito-euforia e fundamentalismo político, desfasado da realidade concreta da (des)figuração humanus-humanóide versus a passividade e o silenciamento-mutismo selectivo docente pelos governos e Ministério da Educação (ME) dataíficados, numa escola humana moribunda ligada ao ventilador. A necro malignidade tech de «zumbificação» que subjuga e subservieve o professorado, a ideia e o ideal de escola público-privada (desu)humanizada pelo dominante «deus ex machina».

A algoritmização da governança e gerenciamento da escola pública, com tendência de eliminação do factor-elemento humano por parte da IA dataíficada, numa postura de exclusão do professorado e ao arrepio «co-approach»; de subalternização e opressão docente, em que o professor se sente cada vez menos intelectual e cada vez mais executante-tarefeiro, num ciclo vicioso de esmagamento avesso da identidade magister.

A Unesco, na sua «Recomendação sobre a ética da IA», fala no «(…) potencial de risco de incremento das desigualdades e afronta a direitos humanos, caso não sejam considerados os aspectos éticos, falando em uma abordagem de participação inclusiva (…) a fim de se falar de uma IA democrática (…)». (https://jornal.usp.br, Artigos «Ghost Work» e «Big Data»: uma nova forma de servidão e de colonialismo? in jornal da usp, Paola Cantarini Guerra, IEA, USP, publicado em 11/01/2024).

Paola Cantarini aborda o conceito de «destruição criativa» de Schumpeter,             «(…) representando o carácter disruptivo e revolucionário das revoluções tecnológicas (…)»; demonstra cabalmente o potencial destrutivo da IA no que ao emprego e à desqualificação da empregabilidade concerne. (idem)

Vivendo nós no mundo-aldeia global da sociedade da informação, da educação-ensino escolar e cidadania digitais, do paradigma tecno-info-digital, sendo a inteligência artificial (IA) generativa uma tecnologia de rompimento disruptivo e de assustadora opressão totalitária distóptica, do digital tóxico de pensamento único, impõe-se e urge a priorização valorativa destacada da escola humano-axiológica re-humanizada, e do professor que é quem lavra  na alma e semeia no espírito de cada criança-pessoa; que planta, rega, cultiva e colhe o spiritus da letra da vida e para a vida. O professor, condutor-cuidador da flor pessoa humana, moldador de destinos, encantador de emoções e alquimista da Felicidade.

A dataíficação-IA é a ascensão da mentalidade e filosofia da moda emergente de movimento exponencial em crescendo no mundo e sociedade pós-humanista, que usa a veneração-cultuação dos dados e tendências de cultura, consumo, comunicação, estatísticas, modo de pensar e agir, de largo spectrum, validados computacionalmente e usados de forma nefasta, objectiva, intencio-deliberada e inequívoca para toda e qualquer optação e escolha, tomada de decisão e implementação, com o objectivo primordial-primeiro do paradigma da praticidade, exactidão, economia temporal e de recursos; a plenitude suprema dos resultados religio-robotizados e insights automatizados ciber-tech idealizados. A assumpção do(s) algoritmo(s) recursivo(s) em programação matemática, com recursividade recorrente e apropriação da inteligência artificial (IA) generativa aplicada, no caso em concreto, em contexto escolar.

A internet enquanto repositório, graças às ferramentas de big data, histórico, estatística algorítmica, probabilidades e regressões lineares (em estatística ou econometria, a regressão linear é uma equação para se estimar a condicional de uma variável, conjugando os dados e valores de outras variáveis, cujo objectivo principal-geral é criar um modelo entre a variável preditora e a variável resposta, encontrando uma tendência de linha recta, a regressão linear – sendo um dos seus problemas a incauta generalização pelo poder político); descodificando os meta-dados prediz e condiciona a vida humana presente e futura. Sendo que a velha, ancestral e tradicional analógica escola homo naturalis é trocada pela substituta cibernética nova escola digital. A ontologia homo dando lugar à ontologia virtual-algorítmica da IA. Epistemologicamente, as antípodas do cérebro humano e dos neurónios e sinapses versus motores de busca e bancos de dados.

Donde, a dataíficação e a big data enquanto ferramenta tecno-digital de predição e conectividade, torna-a omnipotente, omnipresente e omnisciente com a condição capacitária da ubiquidade e a capacitação da IA do total absoluto abrangente.

Até nos atrevemos a vislumbrar a inteligência artificial (IA) como o anti-Cristo das profecias de Nostradamus. Pelo colossal poder, capacidade de processamento avassaladora e real mais-valia de superação das capacidades humanas pela máquina; caso em que a criatura supera o próprio criador na revolução tecnológica em curso. O Homem refém da máquina, com a ontologia e epistemologia capturadas, colonizado e escravo ensombrado e assombrado pelo avesso dos algoritmos matemáticos colonizadores.

Uma humanidade, sociedade e cidadania conectadas pela tecnologia, automação comportamental, cogito-acriticismo e pensamento pessoal-colectivo colonizado clonado, resultante da ciber-info-inclusão massificada da cultura digital do novo homo-ciborgue (no sentido da pessoa humana dotada de corpo orgânico e mente-pensamento cibernético, com a finalidade do «upgrade» das suas capacidades) na era do transumanismo pós-humanista.

A educação, escola e ensino humanistas põem o enfoque na pessoa do ser humano. Trabalha a auto-inserção educacional; é de pensamento marcadamente e humanamente crítico, de interactividade participativa pessoal e  grupal, fomenta a auto-suficiência e proactividade, consubstancia a metodologia humano-direccionada para o bem-estar da pessoa do aluno e do professor, buscando a formação integral, com os valores mais elevados e alta satisfação ética, moral, axiológica, e valorização superior do estudo e ensino das humanidades. Donde, a evidência enfatizada da centralidade dos humanos e do humano no centro do mundo, da vida, e da razão de ser e sentido de sermos aqui e estarmos cá. O superlativo da condição humana acima de tudo.

Maslow (década de 1950). Foi um dos visionários, fundador e impulsionador da escola de pensamento da psicologia humanista, em vista ao auto-desenvolvimento e auto-realização do indivíduo-pessoa, na unicidade idiossincrática personalística ímpar do humanus único e irrepetível. O humano não tem vocação naturalis sub-servil, não é inter pares subserviente contra naturam ao algoritmo, mas sempre primus – o primeiro.

Vivemos tempos da emergente tecnologia IA generativa, ferramenta abolicionista do primado do humanus homo, em que o ícone humano vem sendo substituído pelo ícone da IA, da modal e reverenciada algoritmização da educação, ensino e aprendizagens; tempos de interacção e «interseccionalidade» de antípodas (cooperantes), da «post mortem» escola homo natural e de uma inteligência artificial virtual de preconceito dataíficado por viés de programação humana, com visão de «(…) ontologia reducionista de dados e uma epistemologia artificial de algoritmos, não representando a diversidade ontológica e epistemologia do mundo, e reflectindo as limitações de visões homogéneas de mundo (…) criadores de tecnologia (…) que soma discriminações (…)». (Paola Cantarini, ibidem)

Vai-se perdendo a essência holística de uma escola do todo natural humano, do completamento da abrangência da ontologia do ser humano por inteiro, em oposição à junção de partes e das partes conflituantes. A IA generativa, enquanto «machine learning» (ML) ciber-antropofágica, vai homo destronando e se apossando da escola, cada vez mais em modo de automação dataíficada.

O perigo de polarização da IA algorizante (no sentido da concentração valorativa sobredimensionada da energia e ideia, do ideário ideológico dos algoritmos suseranos por oposição ao declínio-vassalagem do humano servo, arrasta consigo o risco e ameaça da homogeneização da IA generativa e a queda inexorável do factor humanus na organização escola. Sendo que em ambiente escolar do humano humanista humanizado, a uniformização é contrária ao complexo diversus crítico do homo naturalis não padronizado. Na educação enquanto ecossistema, a inteligência artificial assume-se como elemento perturbador do ser humano preponderante e dominante maximus em vias de extinção, numa confrontação de «provocatio provocatore per absurdum» da revolução tecnológica em curso, de «reductio ad absurdum» de uma IA generativa «veni, vidi, vici».

É real o apartheid algorítmico menorizante da escola humanizada, de atitude negacionista em humanar; da subjugante opressão algorítmica de submissão antropológica. Donde, reinscrever a predominância da matriz humana na escola homo re-feudalizada, significa a sobrevivência dos evolu-primatas ou descendentes de Adão e Eva criados-criaturas à imagem e semelhança de Deus.

Resulta da retórica orática e semântica política governativa, a ideia e significado de «compliance», aplicado o conceito de regulação à educação estatizada pública, o que implica um pacote-cartilha, um conjunto que inclui políticas, procedimentos, orientações e legislação «to comply», em vista ao acto de cumprir a tarefa-objectivo dataíficado final, resultante da conexão-interface da inteligência humana (IH) e do algoritmo da inteligência artificial (IA).

A nova ordem e tecnossocicontrato da nova escola é de manifesto-patente híbrida, IA virtual algoritecnohomo; o hibridismo do ciber-homo resignado. O nascente amanhecer despontante da IA homo-escravizante. A IA ananica os professores; promove a estupidificação e a brutalização forçada pelo poder político da acefalia intelectual docente. A autoridade é agora um feudo digital em forma de algoritmos, dados e meta-dados. Temos uma escola pública de pensamento político imbecil, imberbe e mentecapto. De redução do pensamento crítico, lógico e criativo, de anulação do estímulo à autonomia, da (in)capacidade de reflexão e consumação da pobreza de uma escrita ultra-deficiente dos alunos – transtorno discente de escrita, ao nível da disgrafia (parte motora, da psico-motricidade e da fono-audiologia) e da disortografia (défice de aprendizagem específica na expressão escrita, que afasta a precisão ortográfica, gramatical, clareza e (des)organização da redacção das ideias). Com a moda do ChatGPT em contexto escolar, ferramenta digital que muitas vezes desinforma e induz em erro (por desactualização e falha informacional); com a escola dos chatboats (um software baseado em IA com capacidade de conversação em tempo real por texto ou voz), assistentes virtuais para comunicação com os usuários-alunos, e  da preguicite de raciocínio pseudo-intelectual agudo acrítico disponibilizada aos educo-estudantes, com o amestramento-viciação estudantil pela IA de mentes em (de)formação, e com o descartar da pessoa real do professor – o que é ver «a coisa» de patas para o ar e a negação da iliteracia cultural, científica, literária, do raciocínio matemático, cultura histórica, mapeamento e localização espácio-temporal, falhas axiológicas graves, défice gritante das humanidades e reduzida  cultura geral-relacional dos educandos.

Querer incutir nas nossas crianças, jovens, estudantes e cidadãos, o facilitismo, o fantasiar a ludicidade na escola e a ideia de felicidade permanente, o abastardamento do contraditório da exigência e trabalho escolar, é negar e estado de negação do mundus real e da natura humana em desumanização; é impreparação da pessoa humana e falha sócio-psico-pedagógica, científica e didáctica muito grave do sistema educativo para a preparação para a vida real em sociedade e exercício em plenitude de uma cidadania responsável e interventiva.

A inteligência artificial (IA), de acordo com o Collins English Dictionary, foi a palavra do ano em 2023. «Independentemente das decisões que serão tomadas, o rumo é claro: a IA generativa não é um mero fenómeno tecnológico, mas sim uma força global que transformará o mundo e a forma como trabalhamos, pensamos e governamos». (https://executivedigest.sapo.pt/opiniao, IA generativa: muito mais que um fenómeno tecnológico, Executive Digest, João Godinho, 30 janeiro 2024)

O crescente abandono e morte da liderança humana da escola, por troca com a digital IA, dá aflição, inquietude e preocupação. Estudos significativos e amostras relevantes, mostram à saciedade a hecatombe humana em curso e em colapso eminente. E nem falamos do relatório e resultados desastrosos de quebras acentuadas e de vergonha (escola pública nacional) do Pisa 2023 no caso português.

(Michel Desmurget, 2021). Por culpa dos novos hábitos digitais e da interacção crescente com chats de IA, do astronómico número de horas passadas-perdidas em frente ao telemóvel, do pré-escolar ao ensino secundário (com base em estudo na europa ocidental), o dedar deslizante, os olhos focados nos ecrãs e telas, a irreversibilidade de danos graves causados na visão; e a regressão cognitiva, em modo escolar de hibernação-acefalia cerebral, estão bem documentados no brilhante ensaio de Desmurget – «A fábrica de cretinos digitais».

«Os nativos (inatos) digitais (…) são os primeiros filhos a terem um QI – quociente de inteligência com pontuação obtida por meio de testes a fim de avaliar o nível de inteligência humana de um indivíduo, num determinado momento e em relação ao padrão comum à sua faixa etária – inferior ao dos pais e (…) após milhares de anos de evolução, o ser humano está agora a regredir em termos cognitivos e de capacidades intelectuais (…)». (idem)

Sendo que a cognição cobre os domínios da memória, atenção, percepção, representação de conhecimento, raciocínio, criatividade e resolução de problemas. Por definição, é a capacidade humana para armazenar, transformar e aplicar o conhecimento, consubstanciando um amplo e alargado leque de processos mentais únicos da evolução e inerentes em exclusivo ao “homo sapiens sapiens”. Em sinopse, é a capacidade de um ser humano pensar, compreender e raciocinar.

É criticável o deslumbramento e globalização triunfantes da IA digital lúdica em ambiente escolar, exacerbado no caso de Portugal, pelo que fazemos aqui o contraditório, por um imperativo de consciência ética e mais valia de informação pública.

A afectação da estabilidade emocional e do desempenho escolar discente piora. A Unesco é brutal, ao defender que “nem todas as mudanças são sinónimo de progresso – e deixa o alerta de que – o impacto positivo de aprender no digital pode ter sido exagerado”. (Unesco, relatório citado pelo The Guardian)

Mais, põe em causa a pseudo-evidência do valor acrescentado da tecnologia digital para o ensino e aprendizagem, e vai mais longe ao afirmar que a maioria dos estudos que apontam no sentido da mais valia do digital na sala de aula são financiados por empresas privadas de educação, para venda e marketing de produtos, aplicações e ferramentas digitais; «gera preocupação». (idem)

Mais ainda, a Organização das Nações unidas para a Educação – Unesco – põe a tónica e insiste na premissa que é princípio, de que a tecnologia deve estar  “ao serviço de uma educação centrada no ser humano – e que – não pode substituir as interacções cara a cara entre alunos e professores”. (ibidem)

Ainda mais, Audrey Azoulay, directora-geral da Unesco, apela aos governantes que não negligenciem a dimensão social da educação e fala de regulação do digital “para o bem das crianças”. (ibidem)

E já nem falamos no caso ajuizado de retrocesso sueco e da reversão da ex liderante digital Suécia, de volta ao papel. Outro exemplo-prova do falhanço clamoroso da digitalização e desmaterialização da escola e do maniqueísmo da IA para as aprendizagens chega-nos agora da Califórnia, EUA. «Uma geração de crianças que aprendeu a escrever com os polegares em ecrãs, está agora a regressar à velha escola e a aprender caligrafia cursiva». A letra-escrita cursiva banida da escola pela informática, está agora de volta e na moda, até para a leitura de documentos históricos, caso da Constituição dos Estados Unidos da América; o que se torna difícil para quem apenas conhece a letra de imprensa. Donde, recomenda-se o exercício das redes neurais humanas e o abrandamento significativo do digital q.b. e da inteligência artificial (IA) generativa optativa. (https://sicnoticias.pt/mundo, «Apagada» na era da informática, a letra cursiva está de volta ao ensino na Califórnia, Sic Notícias, Ana Isabel Pinto,04 fevereiro 2024).

Em ambiente escolar, a decisão de escolha entre o humano-natural e o digital-artificial, deve imperar sempre o primordial princípio do primórdio do humano sobre a máquina e a tecnologia. O critério deve ser sempre o do digital-IA ser acessório e complementar do humano, e nunca a alternativa, opção e substituição do professor. É incontornável o papel único de professores e educadores para o processo de socialização, do “humanum” e da emocionalidade, fruto das interacções entre professores e alunos e do processo de socialização. A empatia e a interacção na escola têm o ADN humano codificado no genoma.

Sendo a geração actual de estudantes, «nativos digitais» que respira, vive e consome desenfreadamente conteúdos e (des)informação, viciada no laxismo facilitista lúdico chegado à escola tech-IA pelas novas tecnologias da inteligência artificial; havendo uma (des)protecção tutelar à docência e excessiva presença parental reivindicativa, opinativa e invasiva do e no espaço-escola e sendo o clima de escola de irrespirabilidade tóxica e terminus temporal de ciclo, vivemos o momento final do transe e passagem para o fim da escola e país educativo do educare (educação e cuidado) a sério e à séria, em doloroso «finis patriae».

Tendo consciência dos perigos inerentes à IA, é surreal a atracção humana pelo abismo existencial. A situação de influo-esvaziamento humano da escola só vai piorar no futuro próximo; quem o afirma é o CEO da OpenAI, Sam Altman, director-executivo da start-up por trás do ChatGPT, no manifesto «Moore’s Law for Everything», teoria que prevê o futuro da informática e da computação: «(…) A inteligência artificial poderá substituir médicos e professores; (…) robôs serão capazes de realizar o trabalho de profissionais da educação e da saúde, além de baratear seus serviços (…)». (in Metrópoles, Ciência & Tecnologia, Robôs substituirão médicos e professores, Bernardo Lima, em 09/03/2023)

Com a invenção gero-criadora da IA e da dataíficação massiva, o Homem ascendeu ao olimpo de pequeno deus criador do primigénio e adâmico cerebrum pensante da IA, e da nova criatura de incorporação cyb-homo-robotizada do humanum sapiens   sapiens com a artificialis IA.

Virginia Dignum, é a única alma lusa que integra uma equipa de especialistas criada pela ONU para (re)pensar o futuro da IA – os riscos, as oportunidades e as potencialidades da inteligência artificial. Parafraseando, à revista Exame, a investigadora portuguesa alerta, preocupada, para o facto da necessidade de uma lei global que supervisione esta tecnologia de ponta, que está marcando o futuro da humanidade e que de momento está apenas a ser controlada pelo nicho dos gigantes empresariais tecnológicos – visando o negócio e o lucro, digo eu. A sobranceria e distanciamento do poder político perante o problema é confrangedor e revela a mais total ausência de sentido de estado, respeito e responsabilidade pelo Outro – todos nós. Citando: «Nunca pensei que a inteligência artificial fosse o futuro. O futuro somos nós». (https://visao.pt/exame, in Visão, Virginia Dignum, Nunca pensei que a IA fosse o futuro. O futuro somos nós, Exame, Gonçalo Almeida, 19/01/2024)

Estamos plenamente de acordo. É, sempre no centro, tendo a centralidade em educação, com as emoções e o sonho que comanda a vida está o Homem e não a máquina. Está a inteligência humana (IH) e não a inteligência artificial (IA). O acto educativo é humano. É de eminência, excelência e intrínseca exclusividade humana. É homo humanus divinus. De exercício, função, ensinamentos, missão e avaliação humana. Que a bússola da razão humana norteie a escola humana.

Na sua demanda pelo «a fartar de digital» do poder político, fecho com a preocupação de uma escola pública reduzida à visão da literacia digital e sem margem e tempo para a construção do pensamento crítico, das ideias, da problematização, descentrada da identidade da pessoa humana, da não socialização, da não catarsia purgação e purificação do digital desumanizante, divergente e desviante, sem/com imposição de pensamento único.

Sublimando, potenciando e lembrando Protágoras, continuamos sendo a medida de todas as coisas. Ponto final. Final!

Este texto não é resultante de tecnofobia nem da diabolização do digital e de uma tecnologia interactiva revolucionária como a inteligência artificial (IA) generativa vanguardista. É de desafiante discussão. Traduz a reflexa-leitura profunda e responsável de que estamos a esgotar o nosso tempo na ampulheta, quadrante solar e clepsidra universal da temporalidade e dominância da humanidade. «Errare humanum est»!

Disse.

Nota: professor que escreve de acordo com a antiga ortografia.