A concepção marxista segundo a qual o valor é exclusivamente gerado pelo trabalho ou seja, pelos trabalhadores, coisa que ainda hoje se lê nos cartazes do pc, ficando o capitalista com uma parte dele, para isso sustentado pela propriedade privada dos meios de produção, que o direito burguês lhe assegura, é pura metafísica ou seja, é uma explicação desligada da realidade elementar dos factos e que apenas pretende justificar que deve ser o proletariado, conduzido obviamente pelo partido, a transformar pela revolução esta ordem das coisas que a si própria se condenou, assim acabando com a contradição entre a natureza social do trabalho e a natureza privada daquela propriedade.
Trata-se de metafísica porque cega à realidade.
Em primeiro lugar, não é o proletariado que cria todo o valor. Cria apenas uma parte dele pois o produto desde que sai das mãos do proletário e se transforma em lucro líquido do capitalista passa por uma complexa série de vicissitudes que muito acrescentam ao seu valor.
Em segundo lugar, o lucro depende tanto da diferença entre o valor do trabalho pago ao trabalhador directo e o valor que lhe não foi pago mas foi apropriado pelo capitalista, a que Marx chamou mais-valia, como da produtividade do capital fixo ou seja, da maquinaria utilizada e a que tem ainda de ser acrescentado o valor gerado pela expertise da gestão. O capital fixo não é apenas trabalho cristalizado; é um elemento de produção (relativamente) autónomo. O valor por ele gerado, sempre a crescer, é alheio à intervenção do trabalhador, é fundamental e cada vez mais importante.
É por isso que o capitalismo não está em permanente crise, contrariamente ao que Marx profetizava, como já se verificava no tempo dele. É que o marxismo está bloqueado por uma visão minimalista, reduzida, do valor mas da qual, note-se, não pode sair sob pena do desabar de todo o seu edifício dogmático, como um castelo de cartas.
Assim sendo, o marxismo, em vez da realidade preferiu uma construção abstracta baseada em três ou quatro ideias simples. Preferiu, em suma, uma metafísica racionalista, muito embora se apresente, ao gosto do seu tempo, sob vestes muito «materialistas» e com pretensão até de verdade «científica».
O erro de Marx foi não levar em conta a complexidade da economia na formação do valor num contexto relativamente imprevisível porque permeável a variáveis muito diferentes, económicas propriamente ditas, institucionais e até culturais. Do mesmo modo errou ao não se ter representado a natureza heterogénea e plural das formações sociais, pois que a relação entre produtores directos dos bens e os proprietários privados dos meios de produção, que vem desde o neolítico, passa por considerações muito mais racionais e justificáveis do que ele supunha, muito afastados da economia.
De um ponto de vista estritamente económico, o marxismo é um erro. De um ponto de vista filosófico, é bom nem falar; esta coisa da dialéctica inserida à força na natureza, fora da cabeça dos homens, é de bradar aos céus (foi ela que levou Marx e Engels a negarem a segunda lei da termodinâmica ou da degradação da matéria em ambientes fechados, o impostor Lysenko a negar as leis da genética na formação dos cereais, logo arvorada a doutrina oficial, e isto para não falar de outras intrujices «científicas» que os ideólogos do marxismo nos quiseram oferecer).
Resta o marxismo político como técnica de assalto organizado ao poder. Esta versão deve ser avaliada pelos criminosos resultados históricos que gerou e que se cifram em dezenas de milhões de mortos, como a história da humanidade nunca tinha visto, desde o Gulag às purgas estalinistas, às generalizadas matanças maoístas, aos «boat people» fugidos do Vietcong que até Sartre, já no fim da vida, não conseguiu calar, aos perigosos «espiões» abatidos a tentarem saltar o «muro antifascista» de Berlim, às adolescentes tratadas à força a hormonas para baterem recordes olímpicos e tantos outros mimos, sem esquecer as atrocidades praticadas no nosso país pelo famigerado Copcon e pela 5.ª divisão do Estado Maior General Forças Armadas, como toda a gente hoje sabe e já não tem medo de confirmar.
Alguns intelectuais portugueses são o último reduto do marxismo; A. Badiou já faleceu. Desenvolveram o marxismo «tuga», o mais obtuso da história. À bien de juger…