Tenho de confessar que me divirto a ler os textos de ambos, quer do Gonçalo Portocarrero de Almada (GPA), quer do João Miguel Tavares (JMT). Agora divirto-me ainda mais pois a novela fez cruzarem-se os caminhos entre ambos. Permitam-me focar-me neste último artigo do GPA, O tavarismo no Público ou as barbaridades de um leigo, arriscando-me a cometer um anátema.

Todos conhecem GPA e as suas posições, não é novidade o que escreve ainda que, por vezes, surpreenda a falta de perspicuidade do mesmo. Tem o cuidado de ir buscar coisas passadas ou mesmo coisas escritas sobre o artigo de JMT, sem perceber que o ataque de JMT não é ao conteúdo em si, mas ao tom e à maneira como são apresentados os argumentos (com falta de humildade). Portocarrero, independentemente ter razão em olhar com desconfiança para os números, faz uma defesa absurda da desconfiança, parecendo-se mais preocupado com os danos que o relatório da comissão provoca no clero do que os danos que causa a todos nós. Um “ataque” a uma pessoa ou a uma opinião, é isso mesmo. Não venha aqui GPA dizer que insinuei que “é preciso acabar com os padres”, como já fui acusado.

A técnica de fazer-se de vítima ainda funciona nos dias de hoje? “(…) afinal sou eu o culpado por décadas de encobrimento”. Não percebe a simbologia das palavras. JMT é claro nisso. A incapacidade de algum do clero de olhar para os números, ainda que com desconfiança, e procurar uma via fácil de crítica é que é objeto de crítica de JMT. O caminho que JMT propõe para o clero é olhar para os números, ainda que errados ou falhados, e perceber o que poderá ser feito para construir algo de diferente? São estas as práticas que queremos no futuro? Portocarrero já nos habitou a isto, basta olhar as críticas “cegas” que faz à síntese portuguesa do sínodo. O “ataque” a Portocarrero não é um “ataque” a Jesus Cristo, por muito que ele gostasse que assim fosse.

Portocarrero, por mais que diga que não é clerical, não consegue tirar isso dele. Pode vir com as citações todas que quiser, ninguém acreditará na sua via clericalista. Basta olhar para a própria defesa que faz, indo buscar ofensas de JMT a Américo Aguiar, “e, portanto, também, o Senhor D. Manuel Clemente”. Eu diria mais, quem “enxovalhou um Bispo Auxiliar de Lisboa”, não só enxovalha o Cardeal Patriarca, como o Papa Francisco, e consequentemente, toda a Igreja Católica, portanto também eu fui enxovalhado por JMT.

Portocarrero é do mais clericalista que há, achando que um padre, um bispo ou um Papa, ou seja quem for, não pode ser criticado por um leigo. Diz ele sentir-se honrado de estar ao pé de Américo Aguiar nos visados de JMT. Meu caro GPA, também José Sócrates está, com regularidade, nos visados de JMT. Espero que se sinta “honrado”.

De Portocarrero nada de novo, já nos habitou à sua habilidade para transformar críticas da sociedade civil ou de leigos em ataques pessoais ao clero. Felizmente temos Portocarrero todos as semanas a escrever. Tenho sempre motivo de riso.

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