Em tempos de mediatização global da causa climática, do meu ponto de vista, importa que a sociedade se foque um pouco mais, para que, juntos, consigamos mais soluções e menos ruído. É isso que se espera da Cimeira do Clima que decorre em Madrid e que conta com a participação de 50 líderes mundiais. Participam também muitas outras entidades e personalidades, incluindo a conhecida Greta Thunberg, que esta semana fez uma espécie de “pit stop” em Portugal. E não foi mais do que uma “pit stop”: claque a apoiar a receção, transmissão na comunicação social, acompanhamento do “regresso à prova”, tudo marcado com cartazes e palavras de incentivo.

Greta Thunberg desempenha um papel de relevância global e tanto ela como a máquina que a acompanha estão muito conscientes desse papel: é uma voz de consciência coletiva que vai alertando toda a sociedade para a questão das alterações climáticas e para a necessidade de reverter o processo com o objetivo de salvar o planeta. Tenho para mim que o planeta não corre perigo, há-de por cá andar mais uns milhares de milhões de anos. Quem corre perigo é a própria Humanidade, e muitas outras espécies, pelo que talvez não fosse pior recentrar a comunicação.

Greta Thunberg é a mentora de um movimento global que integra milhões de jovens, promotor de ciclos de greves climáticas que levam estes jovens para a rua, em protesto contra as alterações climáticas e em defesa de atitudes que as revertam. E este movimento é apenas isto, quando o necessário vai muito além disto. São necessárias medidas políticas de fundo, investimento em inovação e tecnologia e um forte compromisso transversal a todas as comunidades: científica, empresarial e política.

O erro de Greta Thunberg e dos jovens que a acompanham é precisamente não integrarem este compromisso! A jovem ativista sueca não encontrou espaço na sua agenda para se encontrar com a instituição parlamentar de Portugal, onde estão representadas as mais importantes forças políticas do país, onde se tomam decisões que podem mudar o curso dos acontecimentos. Também os seus jovens seguidores estão disponíveis para trocar a escola pela rua em manifestações ruidosas, mas recusaram em junho o convite para apresentarem as suas reivindicações e propostas aos partidos políticos em tempo de elaboração dos programas políticos. Alegaram que não queriam fazer política. Esta atitude deixa-me perplexa e não a considero mais do que conversa de miúdos que se recusam a participar de forma construtiva sem saberem bem o que estão a responder. Tudo na vida é política, passa pela política, ou tem que ver com política! Se acham que participar numa greve e numa manifestação não é fazer política, regressem às escolas, de onde possivelmente não deveriam ter saído.

Algumas entidades, incluindo políticos, correram a receber a jovem ativista, apenas para contribuírem para a gigantesca operação mediática montada ao estilo “red carpet”, como se se tratasse de uma estrela pop. É bom ficar na fotografia que aparece na capa do jornal, ao lado da miúda sensação! Mas é mau, muito mau, não ter propostas para aproveitar melhor as energias renováveis, reduzir as emissões de gases que provocam efeito de estufa, reciclar materiais e salvar rios.

Esta rebeldia juvenil aponta na direção certa, mas vai pelo caminho errado: marginalizar os partidos políticos, os seus representantes e os decisores apenas cria um substrato de radicalismo sobre o qual assenta uma causa fundamental, sem que sobre ela existam propostas que sustentem alterações de fundo ao comportamento coletivo. O que se pede é participação ativa na solução!

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