Até que ponto é que o mundo presta atenção às eleições presidenciais americanas? A verdade é, bastante. E as próximas são já em 2024. Os Estados Unidos da América não passavam por um processo eleitoral tão disputado e complexo desde que há memória. Talvez as presidenciais de 2000, entre George W. Bush e Al Gore, tenham sido muito disputadas, mas essa luta acabou por ser apenas no estado da Flórida e não em mais estados como as eleições deste ano. Após a reviravolta do estado da Pensilvânia, ganho há quatro anos por Donald Trump, Joe Biden foi proclamado vencedor. A 20 de Janeiro de 2021, tornar-se-á o 46º presidente dos Estados Unidos da América, e Kamala Harris, a 49ª vice-presidente, sendo esta última, a primeira mulher a ascender a este cargo.
Este foi o resultado mais desejado por grande parte dos líderes do Ocidente. Mas não só nestes países este resultado era o mais desejado, também em organizações internacionais, onde a presença dos EUA é muito importante.
Neste sentido, qual será a linha de ação de Biden a nível de política externa e o que irá o futuro presidente reverter face à administração Trump. O mundo, de acordo com Trump, requer um nacionalismo do tipo “América em primeiro lugar”, abandonando acordos internacionais que o mesmo acreditava terem posto os EUA numa posição mais fragilizada. A visão de Joe Biden é muito mais tradicional quanto ao papel e aos interesses da América, assente em instituições internacionais estabelecidas após a Segunda Guerra Mundial e baseada em valores democráticos ocidentais compartilhados.
Das posições tomadas por Biden durante a campanha eleitoral, são certas três coisas: o pedido de admissão dos EUA ao Acordo de Paris, na OMS e o reparar de relações com a NATO, isto no âmbito de organizações e acordos internacionais. Uma das relações de grande importância que será necessário manter e aprofundar, será as relações entre os EUA e a Coreia do Norte. É conhecido que, talvez um dos maiores sucessos de Trump, no que toca à sua política externa, terá sido o aproximar com Kim Jong-un e, ao mesmo tempo, o cessar dos testes nucleares. Essa será uma das relações a que Biden deveria dar mais importância, assim como trabalhar um possível acordo de paz entre ambas as Coreias, pondo fim a um conflito que perdura há 70 anos.
Relativamente ao Médio Oriente, o Irão será o maior desafio da administração Biden. Uma das decisões mais polémicas de Trump foi a retirada dos EUA do acordo nuclear com o Irão, mas o Presidente eleito dos EUA já afirmou que está preparado para voltar a outro acordo internacional, que vá em linha com o anterior, que tinha como medidas o alívio de sanções ao Irão em troca da redução do seu programa nuclear. E Israel? Biden já congratulou e elogiou Trump quanto à importância do acordo entre Israel e os Emirados Árabes Unidos e, como um democrata da velha guarda, Biden é um grande apoiante e defensor de longa data do Estado de Israel. Mas é improvável que o antigo vice-presidente americano adote as políticas da administração Trump em relação à ocupação da Cisjordânia – incluindo uma declaração de que as ocupações israelitas não violam o direito internacional, e os objetivos israelitas de anexarem, unilateralmente, partes do território.
A ala mais à esquerda do Partido Democrata, que tem uma orientação de política externa muito mais desenvolvida e assertiva do que nos anos anteriores, tem pressionado por mais ação a favor dos direitos dos palestinianos.
E a Rússia? E a China? Que lugar irão ocupar as grandes potências, que mais frente aos EUA têm feito nos últimos anos? Relativamente à Federação Russa, Trump parecia frequentemente disposto a perdoar Putin pelas suas ações, que muitas vezes violavam o direito internacional. Mas a verdade é que a administração Trump tem sido muito dura com a Rússia, punindo-a com sanções, o que, provavelmente, continuaria sob a presidência de Biden. Joe Biden vê a Rússia como um grande opositor e promete uma resposta forte, devido à interferência eleitoral e aos alegados pagamentos feitos aos talibãs, com o intuito de matar tropas americanas no Afeganistão.
Mas ao mesmo tempo, Biden pretende continuar a trabalhar com Moscovo, com o objetivo de preservar o que resta ainda do tratado do controlo de armas nucleares. Por fim, a China. Em vez de uma oposição agressiva ao gigante asiático, como Trump fez, Biden prefere uma abordagem de cooperação com uma China em ascensão, numa altura em que a China está a poucos anos de se tornar a economia mais forte do mundo, assim como o país mais poderoso do mundo, substituindo, assim, o papel de superpotência dos EUA, que estes ocupam há quase 100 anos.