A agitação política dos últimos tempos acalmou um pouco, “descendo a temperatura tórrida” que se fazia sentir, principalmente entre a Presidência da República, o Governo e a Assembleia da República. Mas por isso mesmo, tornaram-se mais visíveis as fragilidades e problemas graves que nos assolam e preocupam no nosso quotidiano.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP terminou com todo aquele espetáculo a que assistimos na televisão e que teve como epílogo um relatório que iliba os responsáveis do Governo e do PS por más decisões e interferências na gestão, na demissão e indemnizações, apesar de os responsáveis políticos terem assumido culpas e se terem demitido. Depois, claro, o relatório foi aprovado apenas pelo PS. Vergonha!
A seguir, vem o Conselho de Estado, órgão superior de consulta do Sr. Presidente da República e convocado por este. Este Conselho de Estado não chegou ao fim, foi interrompido e não houve conclusões, porque o Sr. Primeiro-Ministro, Dr. António Costa, “teve” que sair, para embarcar num avião a caminho da Islândia, para assistir ao jogo de futebol da selecção feminina de Portugal, no campeonato do mundo desta modalidade.
Antes de tudo dizer que a selecção merece todo o apoio do Governo e do povo português. Isso é inquestionável! Mas depois, aí sim, questionável: A representação do Governo não podia ser feita por outro ministro, ou até pelo Secretário de Estado do Desporto? Tinha que ser pelo Primeiro-Ministro? E justifica-se abandonar o Conselho de Estado para ir ver o futebol? Afinal que importância tem o Conselho de Estado? Que papel representa este orgão, convocado pelo Sr. Presidente da República, o mais alto Magistrado da Nação, onde participam os Ex-Presidentes da República, entre outros Conselheiros? O futebol sobrepõe-se ao Conselho de Estado e aos mais importantes assuntos de interesse nacional? Se tem importância relativa, acabe-se com este orgão. Torna-se inútil! Mais uma vez, uma tremenda falta de respeito do Sr. Primeiro-Ministro, Dr. António Costa, pelo Sr. Presidente da República e pela Presidência da República! É que esta atitude é de um desavergonhado “tique perverso e autoritário” de um Primeiro-Ministro, em maioria absoluta.
Na Saúde, o “estado da nação” também não vai bem! A Direcção Executiva continua sem estatutos aprovados. Será que as decisões já tomadas por esta não enfermarão de nulidade?
As maternidades e serviços de obstetrícia e urgências continuam a encerrar, para prejuízo, sempre, dos seus utentes. E o Ministro da Saúde assobia para o lado. No Hospital de Santa Maria, a “guerra e a intriga” em torno do Serviço de Obstetrícia e bloco de partos continua. Será real esta “guerra de interesses” ou corporativista?
Depois, relativamente aos enfermeiros, verificamos a continuação da desvalorização no que diz respeito aos salários, à carreira e às condições de trabalho, inclusivamente afirmado pela OCDE e OMS. E numa comparação ao nível dos países da OCDE, Portugal ocupa o 19º. lugar em 21 relativamente ao pagamento de ordenados aos enfermeiros. Para além desta desvalorização, com a actual carreira de enfermagem, para se alcançar o topo é preciso trabalhar 100 anos. Acontece isto em mais alguma carreira?
Temos que perceber que os tempos vindouros não são favoráveis, porque o País está envelhecido. Portugal é o 4º. País mais envelhecido do mundo. Esta realidade vai obrigar a grandes investimentos na Saúde e no número de profissionais, essencialmente enfermeiros e médicos, para cuidar de uma população envelhecida e com várias comorbilidades. Interessa por isso repensar o SNS, o seu paradigma de intervenção e prestação de cuidados e direcionar para os cuidados primários, domiciliários e de proximidade.
Quanto aos médicos, nas suas justas reivindicações não abrandam e continuam em greve, a que em algumas datas, se vão juntar os enfermeiros, no período das Jornadas Mundiais da Juventude, em Lisboa.
O Verão vai quente. A falta de água e a seca preocupam os agricultores e a todos nós. Os produtos alimentares e de primeira necessidade atingem preços muito elevados. Os cereais atingem preços exorbitantes, decorrente da guerra da Ucrânia. A inflação está para durar. Os combustíveis continuam altos. As vagas de calor e os incêndios atormentam, não só Portugal, mas também países da Europa.
Vivemos e lutamos por um progresso e boas condições de vida na sociedade. Mas as fragilidades são imensas e com contornos cada vez mais difíceis de superar, sejam eles por más decisões políticas ou falta de política adequada, sejam pela força que a Natureza se impõe. Resta-nos, com muita resiliência, lutar, ter direito à opinião e a outras opções e querer, sempre, um Portugal melhor.