Foi em Macau, há já alguns anos, a primeira vez que o vi. Quando olhei para ele, ali à minha frente, com roupa como a minha, vi que, afinal, ele não passava de uma pessoa normal, bastante mais baixa que aquela que parecia ser quando visto na televisão. Mas não tinha dúvida alguma de que aquele homem tinha uma estatura enorme. Foi em Moçambique que tive o primeiro contacto com um timorense, de Dili, e depois, assim como que por magia, nunca mais ouvi falar daquela terra, até que, pelo piores motivos, se voltou a falar dela. E é uma chatice quando é pelos piores motivos que se fala de algo, ou de alguém.

Estou agora numa Igreja apinhada. E lá está o homem, novamente à minha frente, desta vez em posição superior, com os trajes do seu múnus, cumprindo mais um dia na terra, radiando paz, segurança e a promessa de um futuro esplendoroso. Era o dia da primeira comunhão dos meus filhos. Simpático, com um grande sorriso que se alastrava ao olhar, o homem, o missionário, Prémio Nobel da Paz, falou e cumprimentou cada uma das pessoas presentes num gesto recebido com grande emoção por todos. Com a maior simplicidade, a pedido da minha mulher, autografou a Bíblia de cada um dos meus filhos. Ainda as temos.

Descobri entretanto que dos vários amigos seminaristas que tenho, alguns deles foram colegas de turma do ilustre homem; um deles foi mesmo colega de carteira. Este verão lá me contaram mais umas histórias daquela juventude vivida entre Salesianos e eu sentia-me orgulhoso, com um sentimento de pertença, por também ter estado com o homem. Mas ontem… (mais uma vez pelos piores motivos), ontem a minha alma caiu! Foi uma queda que nunca pensei poder vir a sofrer. Mas já estava. Não caí de repente como normalmente acontece. Comecei a cair devagarinho conforme a notícia foi lançada na Holanda. Já em queda acelerada senti o baque do contacto com a dureza da realidade quando o online d’O Observador fez a manchete. Depois da dúvida do primeiro momento, o que senti foi pena do homem, depois angústia, a seguir raiva e agora sinto pena de todas as vítimas das circunstâncias. Agarrei numa da Bíblias. Ele, o homem, ainda lá está, mas a minha alma…

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