“Tem a palavra o Senhor Deputado:
– Senhor Primeiro-Ministro, isto está de tal maneira mau
que até as raparigas licenciadas têm que se prostituir
para sobreviver.
O Primeiro-Ministro com o seu sorriso responde:
– Lá está o Senhor Deputado a inverter tudo, o que se passa
é que o nosso sistema de ensino está tão bom, que até as
as prostitutas, hoje, são licenciadas.”
Conversa de Parlamento
Com cerca de 30 anos de atraso – altura em que os mais responsáveis desta III e infeliz República, começaram a atacar com denodo, as Forças Armadas (FA) e a Instituição Militar (IM) – o actual CEMGFA, Almirante Silva Ribeiro deu uma entrevista à Rádio Renascença, onde falou de alguns problemas que afectam as FA Portuguesas.
Não falou de todos os problemas, pois para isso precisava de uma entrevista de 48 horas…
Referiu, porém, algumas questões que são prementes e que se arrastam penosamente, que decorreram da entrevista (que ignoramos como foi preparada), nomeadamente, do furto das armas em Tancos – uma história ainda muito mal contada; a aproximação das FA à Sociedade Civil (ou deverá ser o contrário?); a gestão das carreiras das praças, a sua retenção, vencimentos e condições de vida; tipo de serviço militar (de cuja discussão toda a gente foge como o chifrudo da cruz); a missão (secundária) do combate aos incêndios – melhor dizendo o apoio à Protecção Civil; a cooperação com as Forças de Segurança – um tema sensível; a pensão de sangue e estatuto a atribuir aos militares em regime de contrato, que sejam vítimas de acidente em serviço (nomeadamente em combate!); a situação do Hospital das FA (em verdade devia ser de toda a Saúde Militar e do IASFA) e o momentoso problema da falta de efectivos, que não só se tornou uma situação insustentável (como referido três vezes), como dramática.
Todas estas questões foram tratadas com decoro, calmamente, com dados objectivos, com conhecimento de causa, com sentido de Estado e com dignidade. E, sobretudo, com verdade – coisa a que a generalidade dos políticos não sabe o que é e se dá mal – e, se pecou, foi por defeito.
Ora perante tudo isto – que só acontece depois das chefias militares esgotarem tudo aquilo que está ao seu alcance fazer (a partir daqui só passando à “agressão”) – como é que o “curioso” que ocupa com aparente enfado, a pasta da Defesa – figura que o cómico do comentador Sousa Tavares se congratulou por ser alto, pois “assim podia falar de cima para baixo” com os generais – reagiu?
Pois reagiu com os pés, os quais, infelizmente, nunca tiveram bolhas por calçarem umas botas de uniforme (antigamente cardadas, por economia…). Com voz agastada proferiu uma série de enormidades e convidou sibilinamente o CEMGFA a demitir-se, ficando no ar a ameaça de o fazer.
O Almirante além de ter colocado as questões com urbanidade, pensou seguramente várias vezes antes de dar o passo da entrevista. Mas que lhe restava fazer?
Os chefes militares aguentam, faz décadas, cortes e reduções de toda a ordem, que se têm revelado autênticos torniquetes em termos financeiros, materiais, em pessoal e em autonomia; ataques à imagem da IM e ao Estatuto da Condição Militar – que os diferencia positivamente de todos os corpos do Estado e de qualquer profissão civil; degradação das suas condições de vida; menorização das suas missões primárias; desfasamento continuado da justiça relativa com os restantes sectores do Estado equivalentes (Cátedra, Diplomacia, Forças de Segurança; Magistratura, etc.); tudo misturado com atitudes e “tiques” de humilhação, desprezo e hipocrisia.
Repito, faz 30 anos, não são 30 meses…
Enquanto isto se passava, é bom frisar, os diferentes sectores do Estado e também da Sociedade Civil, viviam na maior das irresponsabilidades, cuja dívida escabrosa e impossível de pagar (em metal sonante) que temos, representa a síntese mais perfeita e evidente, do que afirmámos. E o filme que a explica varia entre a classificação de “terror” e “pornográfico”!
Por tudo isto a reacção a todo este estado de coisas, tem décadas de atraso (sendo por isso que se chegou ao estado em que estamos) e se tal não favorece os poderes públicos pela perfídia, falta de seriedade e patriotismo revelados, tão pouco ilustra os militares, naturalmente nas pessoas das mais altas hierarquias, em cada época, por não se terem feito respeitar e à Instituição que serviam e representavam.
Já para não falar no País no seu todo, a que parece ninguém liga patavina.
É certo que a grande maioria dos chefes militares não é gente mal formada e nunca esperou dos políticos contemporâneos a irresponsabilidade, desprezo e incompetência com que passaram a tratar os militares e as FA (o que tem origens diversas e fundas); são avessos por formação ética, moral e técnica a tomar atitudes que ponham em causa os princípios militares e o decoro público (o “PREC” é uma anormalidade insana, que tem que ser avaliado fora de um contexto de normalidade); têm pruridos de sentido de Estado, da defesa da Nação e das instituições; esperam que o bom senso prevaleça; aprenderam a “encaixar danos”; sabem que em tempos de paz os militares têm tendência a ser desvalorizados; mantêm, diria naturalmente, uma neutralidade político/partidária, etc..
Mas tudo tem sido em vão.
Esta cáfila de políticos, aproveitando-se das restrições de cidadania aplicada aos militares, tem praticado a política da terra queimada e não respeitam nada. A não ser a força. Por isso o confronto vai ser inevitável. Trata-se da sobrevivência da IM e sem ela a Nação não sobreviverá.
O ministro Cravinho mostrou-se agastado e já tratou mal o CEMGFA. Este não se deve demitir (é o que eles querem) e também não deve deixar que o ministro o trate mal – que é o mesmo que tratar mal a IM. Os chefes militares não são “boys nem girls” dos Partidos; as FA não são propriamente um simples órgão de administração corrente e os militares não são funcionários públicos.
Os outros três Chefes devem unir-se e actuar como um bloco e atrás deles (formados) devem estar os Conselhos Superiores dos Ramos. E deve ser enviada mensagem para que caso pensem em demitir alguém, ninguém assumirá o cargo.
Os governantes, de um modo geral, têm sido uns cobardes relativamente àquilo que, eufemisticamente, apelidam de “tropa”. Sabem que é a única profissão no país que não pode ter sindicatos (e bem) – caramba, até os juízes têm! (e mal) – os militares no activo não podem falar, nem defender-se seja do que for (sem autorização superior); que os próprios gabinetes de relações públicas dos Ramos estão condicionados naquilo que podem fazer e dizer; que se pode facilmente avençar jornalistas e comentadores, para criticar e denegrir a imagem dos militares e das FA, etc..
Os poderes públicos pouco (diria, nada) fazem para compensar os militares pelas suas restrições cívicas e deveres acrescidos, além de não exercerem o seu dever de tutela na defesa do seu bom nome e imagem. Por isso não tenho pejo em adjectivar a sua conduta de miserável.
O actual ministro da tutela, que perdeu o direito a que o trate por “senhor” após as declarações que exalou, como os seus anteriores, está fartinho de saber dos problemas existentes. A razão é simples, aliás: foram eles que os criaram; e agora mostra-se indignado pelo CEMGFA, depois de muitas démarches internas (atiradas para a gaveta), dizer o óbvio! Acusa ainda o CEMGFA de não conhecer as suas funções e que estas se resumem a fazer o que ele, ministro, lhe disser para fazer…
Espero que o Almirante CEMGFA lhe responda à letra, oportunamente, mas fica-me a ideia de que quem não sabe o que anda a fazer é o emproado urdidor de blagues, que por um solavanco político/partidário foi exercer funções que certamente nunca lhe passaram pela cabeça desempenhar.
E teve o despautério de zunir: ”em vez de nos preocuparmos em lastimarmo-nos devemos é deitar mãos à obra”. Deitar mãos à obra? Apetece-me estrafega-lo! Sabe por acaso as condições em que se tem trabalhado nos últimos anos com a asfixia permanente em termos financeiros, material, pessoal e administrativo? Com as mil e uma pseudo reformas que tiraram da cartola e que apenas querem dizer reduzir? Das mudanças constantes de regras a meio do jogo? De tratarem as FA como se de um bocado de plasticina se tratasse?
Passa-lhe pela cabeça que possa haver em Portugal algum órgão do Estado ou empresa ou organismo civil, que suportasse um cem avos do que têm feito ao Exército, Força Aérea e Armada Nacionais?! Tenha tento e vergonha na cara! E como pode ter, se remata assim: “não podemos queixar-nos que não temos suficientes militares e esquecemos o recrutamento de mulheres”…
Sim senhora, esta tirada é digna de Napoleão após a vitória de Wagram!
Diplomata Cravinho, V. mercê é uma vergonha e uma lástima. Por certo conhece a lastimável frase de um antigo e já desaparecido maioral do PS para um humilde guarda da PSP que apenas cumpria o seu dever. Aplica-se a si.
Oficial Piloto Aviador (Ref.)