Viver no Dubai é bem diferente do que muitos possam imaginar. Nem todos percebem a verdadeira profundidade da sua essência: um autêntico caldeirão de culturas e níveis socioeconómicos, onde, de uma forma ou de outra, todos se entendem em inglês.
O Dubai, sendo a cidade mais próspera do Médio Oriente, é um ícone do que representa a vida na crista da opulência. Esta realidade molda a cidade e impacta todos os seus habitantes, desde os bilionários até aos expatriados, independentemente das suas qualificações ou condições de vida.
Nos Emirados Árabes Unidos, reside uma população com números semelhantes aos de Portugal. No entanto, os Emiratis representam apenas cerca de doze por cento desse total. Curiosamente, a maior parte dos habitantes não fala árabe, uma vez que são oriundos do Sudeste Asiático, sendo os indianos o maior grupo étnico.
O Dubai pode ser barato
Devido a esta diversidade, o Dubai pode ser surpreendentemente acessível, oferecendo opções que se adaptam a todos os gostos e carteiras, incluindo aqueles dos trabalhadores com menos qualificações, cujos salários mensais são equiparados ao salário mínimo líquido em Portugal, pago em doze meses em vez de catorze.
Muitos destes trabalhadores residem em quartos partilhados ou individuais, cujo custo é comparável ao de Lisboa. Curiosamente, podem cortar o cabelo num barbeiro ao lado de um hotel de cinco estrelas por menos de quatro euros — cinco, se incluírem o aparar da barba. E devo dizer, o trabalho é excelente. Não só o corte é impecável, como também dá direito a uma vigorosa massagem no couro cabeludo.
Uma ida ao restaurante da esquina, ao lado do barbeiro, para saborear umas chamuças e um frango assado com arroz, fica por menos de seis euros. Um contraste flagrante com a experiência de jantar num dos inúmeros restaurantes de luxo, de qualquer cadeia internacional, onde uma refeição ultrapassa facilmente os cem euros por pessoa, e três imperiais podem custar vinte e dois euros.
Nos supermercados, não há grandes diferenças em relação aos de Lisboa, e é possível encontrar carne de porco em muitos deles, embora seja mais cara do que em Portugal. O restante cabaz alimentar oferece uma maior variedade e qualidade de produtos, com preços, em média, cerca de cinco por cento mais baixos do que no nosso país. Contudo, aqui, um camarão-tigre do tamanho de uma mão pode ser comprado por apenas três euros. É verdade que não é de água fria, mas, ainda assim, é delicioso.
Sim, pode beber álcool.
O sistema legal nos Emirados opera numa combinação de lei da Sharia, leis civis e de cada Emirado. Por exemplo, Sharjah, emirado vizinho de Dubai, proíbe a venda e o consumo de álcool em público, enquanto o Dubai permite a compra de álcool em lojas especializadas, que existem na maioria dos bairros. Pode ainda beber álcool em hotéis, bares e clubes. Vale notar que não é possível pagar álcool com cartões de bancos islâmicos.
No Dubai, a norma impõe uma vestimenta modesta nos espaços públicos. No entanto, existe um contraste notável entre os Emiratis, que se vestem de forma tradicional, e muitos dos visitantes dos centros comerciais, que adotam estilos que variam entre o excessivamente casual e o exageradamente sofisticado. Lembro-me de ter visto um homem que, com várias marcas de luxo, exibia não apenas um, mas dois Rolex de ouro, um em cada pulso.
É fundamental evitar demonstrar sinais de embriaguez em público e, em nenhuma circunstância, conduzir sob o efeito de álcool. Devem também abster-se de exibições públicas de afeto e evitar o uso de linguagem ofensiva ou gestos inapropriados, incluindo o nosso manguito. A violação destas normas pode resultar em prisão e, nos casos mais graves, na expulsão do país. Por último, não deve beijar nem apertar a mão a uma mulher Emirati a menos que ela tome a iniciativa primeiro.
Em países como o Catar ou a Arábia Saudita – à exceção do caso de Cristiano Ronaldo – tanto a coabitação como as relações sexuais antes do casamento são ilegais. Por outro lado, os Emirados Árabes Unidos já descriminalizaram as relações consensuais entre casais não casados, marcando uma exceção na região.
Uso do pisca-pisca
Conduzir no Dubai tem várias particularidades. A primeira é que o sistema de sinalização e as regras de trânsito seguem o modelo americano, mas com um sabor do Sudeste Asiático. É comum, quase esperado, que os condutores mudem de faixa, obrigando os outros a desviar ou travar bruscamente. Na verdade, usar os piscas pode até jogar contra nós, pois revela as nossas intenções, levando outros condutores a apressarem-se para ocupar o espaço.
Apesar de haver radares por todo lado e atravessar um semáforo vermelho poder custar até 12.500 €, conduzir aqui pode ser um verdadeiro teste à paciência, agravado pelo facto de gestos para outros condutores serem proibidos, mesmo quando não param numa rotunda, ignoram sinais de stop, ou conduzem trotinetes em sentido contrário sem luzes. Há vários condutores que não percebem que um acidente pode magoar, por exemplo um turista a passear num Lamborghini alugado numa via rápida com seis faixas, cheia de trânsito pára-arranca ou um G Brabus tão colado que não se consegue ver o logótipo da Mercedes.
Pessoas com Determinação e a Religião
Apesar de todas as ideias preconcebidas, a vida no Dubai, revela-se, de forma geral, muito mais rica e complexa do que se imagina. Este é um lugar onde o progresso é visível a cada dia, e que se mostra bastante mais inclusivo do que se poderia supor à primeira vista. Onde por exemplo as pessoas com deficiência são valorizadas e tratadas como “Pessoas com Determinação”, desafiando estereótipos e promovendo uma verdadeira aceitação da diferença.
Acaba por ser uma sociedade com regras que promovem a convivência harmoniosa entre todos, incluindo pessoas de diferentes religiões, sendo possível celebrar o culto em diversas igrejas católicas, ortodoxas ou protestantes, templos hindus, centros budistas e até mesmo numa sinagoga em Abu Dabi.