A Comissão Parlamentar de Inquérito à tutela política da gestão da TAP tem-se destacado por dois motivos principais, que estão longe de ser novidades. A tendência do Partido Socialista para tratar o Estado e as empresas públicas como o seu quintal. E a boa preparação da Iniciativa Liberal, com o deputado Bernardo Blanco a destacar-se.
No caso do Partido Socialista não é novidade a postura de Dono Disto Tudo, nem as trapalhadas que invariavelmente provocam em tudo quanto toca. O excesso de politização da gestão pública, o uso de uma empresa pública para guerras sucessórias do partido e a imaturidade, desresponsabilização e displicência dos governantes socialistas só surpreenderão quem tenha aterrado em Portugal, pela primeira vez, na semana passada.
Já a Iniciativa Liberal está a aproveitar bem um tema em que corajosamente combateu sozinha desde o início, muito graças a Carlos Guimarães Pinto, que com o livro “Milhões a Voar” desmistificou muitos dos argumentos falaciosos que justificaram os 3,2 mil milhões que se enterraram na TAP.
Bernardo Blanco está agora a dar continuidade ao bom trabalho, expondo algumas das muitas trapalhadas socialistas, mostrando que a Iniciativa Liberal tem uma equipa parlamentar capaz e perspicaz, essencial para o escrutínio democrático.
Mas trapalhadas socialistas há muitas e cada vez mais mal escondidas. Para a Iniciativa Liberal, a grande vitória não pode ser a de acrescentar mais um elo a esta cadeia de casos do governo socialista. A comparação Blanco/Mortágua é óbvia, mas não é elogiosa.
Mortágua destacou-se a identificar casos, mas falhou sempre em identificar a causa: o peso excessivo do Estado na sociedade. É aí que entra o desafio da Iniciativa Liberal: demonstrar que o problema não é só a incompetência do Partido Socialista, proporcional à sua apetência para a ocupação do aparelho de Estado. Demonstrar que não basta mudar os atores. Que o problema é intrínseco à gestão pública. Não é vocação do Estado gerir empresas. A presença do Estado na economia prejudica a concorrência. As empresas públicas são um alvo demasiado apetecível para qualquer político com poder. E os incentivos à boa gestão são quase nulos.
O problema não é esta gestão pública, o problema é a gestão pública.
Esta é a ideia essencial, que distingue a Iniciativa Liberal do Bloco de Esquerda, mas também do Chega, que depois de apoiar a intervenção pública na TAP anuncia agora uma ação popular por “gestão dolosa ou negligente”.
Um e outro, como estatistas que são, acham que o problema se resolvia substituindo os socialistas atuais por outros, preferencialmente de outros (os seus) partidos.
Quem se afirmou como o partido das ideias, tem de ser capaz de mostrar que não basta mudar de políticos, é preciso mudar de políticas. Essa é a vitória que interessa, mais do que qualquer protagonismo pessoal ou até partidário. Não queremos quem substitua Mariana Mortágua, queremos quem traga algo verdadeiramente novo. Queremos quem traga uma visão liberal.
A Iniciativa Liberal tem capacidade para isso. Basta que as luzes da ribalta não façam perder o foco da viagem que nos propomos a fazer.