Leonard Cohen dizia que “há uma fenda em tudo, é assim que a luz entra”. Concordo, e completo, atrevendo-me a alterar essa citação icónica musical, referindo, à minha boa maneira, que quando a luz vem de dentro para fora e permitimos que as feridas e mágoas se curem sem ressentimentos, podemos até deixar que a nossa luz saia e ilumine todas as vidas que se cruzam connosco.

Eu acredito tanto que, para humanizar quaisquer relações no trabalho e fora dele, precisamos, acima de tudo, de sermos mais vulneráveis na demonstração das nossas emoções mais profundas, de perdermos o medo de falar do amor no verdadeiro sentido da palavra, porque o humanismo profissional deve começar no mais básico: pelo humanismo e pela vulnerabilidade e autenticidade individual – em sermos, primeiro de tudo, seres humanos frágeis que amam, que se apaixonam, se sentem, que choram, que têm os seus medos, as suas ansiedades, as suas ambições e os seus sonhos e uns braços como os de ninguém para os quais correm ao fim do dia, que são seres humanos que falham e que falham para valer – e que o assumem!

Cansa-me francamente ver perfis nas redes sociais onde só se postam vidas perfeitas, onde só se vê o sucesso, o bonito, o editado, o filtro e que, na verdade, é o podre que já se sabe que existe na realidade ali naquelas vidas onde, aparentemente, não há preocupações. Na realidade, essas pessoas esquecem-se de que, fora das redes, são tantos, mas tantos, os que conhecem tão bem a realidade que se esconde e que não é contada ali.

E não há nada mais atraente do que ser-se genuíno, do que admitir falhas, erros, vulnerabilidade e até mesmo recusar oportunidades incríveis e dá-las aos que sabemos que as merecem, por mérito, muito mais do que nós (mas em off e sem show off), admitindo que “ainda não estou talhado para isso”, porque não há maior sabedoria do que assumir que nada, nada, nada sabemos comparado com o que ainda podemos vir a saber – em especial, bebendo da partilha em rede; sem nos compararmos, sem sermos injustos e redutores connosco próprios e com todo o nosso esforço e trabalho, sempre na busca de maior conhecimento, precisamente para nos valorizarmos mais (e continuamente), como repito tantas vezes nas partilhas que faço no meu Linkedin.

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Uma verdade incontestável que a vida me tem ensinado é que não há maior pobreza do que a de espírito, e que não há maior riqueza do que a de caráter; e que há pessoas que passam pela nossa vida para nos ensinar, através dos seus piores e dos seus melhores exemplos: como devemos e como não devemos ser e estar na vida – para nós, por nós; para os outros, pelos outros.

Que fiquemos longe dos que são amigos de todos, pois não são amigos de ninguém – são pessoas que promovem toxicidade, e uma pessoa tóxica é, por regra, uma pessoa narcisista que não nos vai pedir para fazermos alguma coisa (porque ficará em dívida connosco) e, contrariamente, vai manipular as nossas emoções e o nosso espaço no sentido de fazermos o que ele quer que façamos, porque qualquer pessoa com esse perfil irá direcionar as nossas próprias inseguranças para maximizar os seus resultados.

O Ricardo Costa, CEO do Grupo Bernardo da Costa, Presidente da Associação Empresarial do Minho (e um bom amigo pessoal do coração) diz, e muito bem, que “não quer saber” (por outras palavras) que lhe chamem de louco quando fala de um departamento de felicidade nas empresas em Portugal, numa fantástica e inspiradora entrevista que pode visualizar aqui. Em boa verdade, quando todos entenderem que “ah, faz mesmo sentido!”, ele já foi pioneiro, já foi visionário e não precisou da validação de ninguém e conseguiu ter a capacidade de pensar por si quando todos de si discordavam, com absoluto sentido crítico. Eu digo que devemos falar mais vezes, e sem medos, daquilo que nos apaixona verdadeiramente e sermos autênticos. O Ricardo Costa, assim como o também bom amigo Rui Bairrada, CEO do Doutor Finanças, é um dos líderes mais humanos que Portugal tem o privilégio de dizer que “é nosso”. É fantástico podermos contar com exemplos de líderes que através dos seus exemplos despretensiosos de humanismo e de liderança positiva, conseguem atrair massas e inspirar as pessoas a serem mais empáticas e menos egoístas.

Um grande erro que cometemos quando queremos impressionar é querer impressionar – quando, na verdade, não precisamos de usar palavras que ninguém usa, de ir à cabeleireira ou de vestir o melhor fato, para falar com pessoas que, na verdade, só querem saber da nossa competência, capacidade de trabalho, boa disposição, lealdade à casa e às pessoas e até se vamos vender bem a sua imagem sem sermos bajuladores ou lambe-botas. Quando somos pessoas genuinamente interessadas, despretensiosas, descomplicadas e com vontade de fazer parte da solução e nunca do problema, emanamos um cheiro que se sente a uma distância maior do que qualquer fragrância Chanel nº 5.

Uma das coisas mais valiosas que aprendi nos últimos anos é que o mercado de trabalho não se interessa por pessoas que ostentam status, cargos e graus, e ninguém quer saber do seu doutoramento ou do seu mestrado em licenciaturas e licenciaturas em mestrados, à boa maneira do brilhantismo da série Pôr do Sol, da RTP1 – apenas do que é capaz de aplicar com o conhecimento em que investiu e as suas soft skills, mais do que as hard skills que adquiriu, no percurso.

Fala-se tanto, e bem, de amor corporativo, como foi descrito de forma brilhante no livro Chief Love Officer, de Cristina Amaro, obra que me fez refletir tanto e a cujas páginas tenho regressado inúmeras vezes e que ofereci a algumas amigas.

Em boa verdade, tal como fazemos com as pessoas, fazêmo-lo com os nossos vasos ou simplesmente com arranjos florais, e é naturalmente necessário regar as nossas flores, posicioná-las cuidadosamente na direção da luz solar, colocá-las à sombra quando necessário e na medida certa e, claro, nutri-las com a dose certa de amor, para que permaneçam belas e frescas pelo máximo de tempo possível. Como é que a maneira como tratamos as nossas plantas pode estar relacionada com a forma como lidamos com as pessoas no nosso dia-a-dia?

Quando alguém entra na nossa vida, seja através de relações de trabalho ou por via das nossas relações interpessoais, geralmente chega florido e no seu melhor estado – é a primeira impressão que nos atrai e que nos seduz. Inevitavelmente, aquela vitalidade e toda aquela beleza começam a murchar e a perder o encanto inicial.

Esta metáfora aplica-se a relações interpessoais, ao amor-próprio e, como é óbvio, à gestão de equipas no mundo laboral real. Quando um líder de equipa solicita uma determinada tarefa e a mesma não é executada de acordo com as suas expectativas, atribui-se a tarefa a outra pessoa ou, pelo contrário, reúne-se com quem a executou, debatendo-se sobre o que não correu bem, procurando encontrar soluções que possam ser valiosas para ajudar todos os elementos a crescer como profissionais e como pessoas?

Todas as nossas melhores versões, tal como acontece com as plantas, demoram algum tempo a surgir; mas com persistência, consistência, vontade e amor, tudo é possível.

É óbvio que pode haver quem chegue ao fim deste texto, argumentando que há ensinamentos e pilares básicos de gestão que são o que fazem de um líder um bom ou um mau gestor, mas nunca nos esqueçamos que apenas um bom coração e uma boa educação de berço fazem de qualquer gestor um grande líder.