O caso do idoso que foi assistido dentro de uma ambulância e que tardou em ser transferido do Hospital Beatriz Ângelo para o Hospital de Santa Maria, foi a última notícia chocante, sobre os idosos, no nosso País.

O tempo deixará no esquecimento mais este caso e tudo continuará como dantes.

Temos 1700 idosos nos hospitais que não têm para onde ir, sujeitos aos riscos conhecidos do internamento hospitalar inexoravelmente prolongado, porque não sabe quem manda, qual o destino a dar-lhes.

Temos lares, agora chamados de Estruturas Residenciais para Idosos (ERPI), clandestinos e legais, com mais de 125 000 idosos institucionalizados. As ERPI não têm obrigatoriamente médicos. Fica ao critério dos responsáveis das ERPI o tipo de assistência médica que cada uma oferece.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os idosos têm, a esmagadora maioria, doença ou doenças, que exigem assistência assídua por médicos, de preferência com conhecimentos de geriatria. Nalgumas ERPI a agudização da situação clinica de um idoso resolve-se enviando-o para a urgência do Hospital. Noutras a visita semanal ou bissemanal do médico, pouco mais acrescenta, que a prescrição da medicação que o velho fazia antes da institucionalização.

A Associação dos Médicos dos Idosos Institucionalizados, criada em Abril de 2022, com o objetivo de garantir e otimizar a assistência aos velhos institucionalizados (amidi.pt), aguarda, há mais de um ano, ser recebida pelos ministros da tutela.

Para alguns institucionalizar o seu idoso não é uma manifestação de ternura, mas a procura de uma solução prática para a família que o considerado um tropeço, um empecilho para o funcionamento do resto da família que tem outras preocupações.

Para estas famílias é muito mais fácil institucionalizar o velho num lar, do que mantê-lo no ambiente onde sempre viveu, no meio das suas coisas, na sua casa.

Para mais a maioria dos familiares que o institucionaliza não sente necessidade ou intenção de o visitar.

Um estudo nacional, publicado em 2018 (PEN-3s), revelou que 42,5% dos idosos institucionalizados sofrem de solidão e 52,8% de depressão.

Os velhos vivem numa instabilidade biológica que se descompensa com agressões mínimas.

Uma pequena intercorrência de saúde pode ser uma catástrofe para um velho que estava equilibrado da sua ou das suas doenças.

A fratura do colo do fémur não foi seguramente a causa última da morte do idoso do Hospital Beatriz Ângelo. A fratura do colo do fémur foi a agressão que desequilibrou a instabilidade de um velho doente.

Ainda hoje se constroem e planeiam hospitais como há 50 anos, esquecendo ou ignorando que a idade média dos doentes internados nos grandes hospitais é superior em trinta anos à idade média de internamento naqueles tempos.

Em 2022 foi publicado o Plano Hospitalar para Idosos (PHI), onde são sugeridas diretrizes de construção e organização hospitalares adaptando os hospitais à esmagadora maioria dos doentes idosos que, na atualidade, neles são internados.

Os doentes idosos mais complexos, com muitas doenças em simultâneo, com fragilidades de vários tipos ainda não encontram nos nossos Hospitais Unidades de Geriatria, como, por exemplo, existem há mais de 30 anos nos grandes hospitais de Espanha.

O ensino da Geriatria em igualdade de circunstâncias com as outras disciplinas clínicas, não existe em nenhuma das nossas Escolas Médicas. Professor que fui de Geriatria, na Faculdade de Medicina de Lisboa, da disciplina a que a Escola denominou, Introdução às Doenças do Envelhecimento, não tinha a componente do ensino prático. O ensino da Geriatria em todos os países civilizados exige, como é evidente, o contacto com o doente. A Geriatria tem de ser e é uma cadeira clínica e não é nem pode ser uma disciplina teórica.

Também nós somos dos muitos poucos países que não têm a especialidade de Geriatria. Como exemplo a especialidade de Geriatria existe em Espanha desde 1978, nos Estados Unidos da América desde 1988, em França desde o ano 2000.

Existe entre nós a atitude pouco científica de considerar que a prática regular da assistência aos idosos confere os conhecimentos necessários para uma assistência de excelência, que dispensa a especialização em geriatria.

Também alguns políticos em Portugal e em alguns organismos internacionais desrespeitam os velhos e negam-lhes a sua justa importância e o seu irrecusável valor.

O desrespeito pelos idosos, traduz-se objetivamente pela atitude política de os considerar uma peste, “a peste grisalha” ou de os considerar um perigo para a economia “os idosos vivem demasiado tempo e são um risco para a economia. É preciso tomar medidas urgentes”.

À Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) chegam todos os dias, em média, cinco queixas de idosos que se sentiram vítimas de violência. Violência de todos os tipos. Mais chocante é que a maioria dos agressores são familiares próximos.

Na desumanidade destes procedimentos parece estar não só a perda de afeto, de carinho, de gratidão, mas a irracionalidade da assunção dos agressores de que não irão envelhecer e que as atitudes que assumem, nunca os atingirão no futuro.

Felizmente muitos lutam pela defesa do respeito pelos idosos e procuram que lhes seja reconhecido o valor indiscutível que granjearam por uma vida longa de trabalhos e muitas vezes de sacrifícios.

Afinal os que hoje ainda não são velhos, os que trabalham e mandam, devem aos idosos, no mínimo, a existência.

O Papa Paulo VI criou o Dia dos Avós, a 26 de Julho. A escolha de 26 de Julho possui origem bíblica e fundamenta-se na homenagem aos pais de Maria, mãe de Jesus, chamados Ana e Joaquim.

A Organização das Nações Unidas em 1991, criou o Dia Internacional dos Idosos, a 1 de Outubro, com o objetivo de sensibilizar a sociedade para as questões do envelhecimento e da necessidade de proteger e cuidar da população idosa.

Estas duas datas são assinaladas entre nós. No universo de tantas datas comemorativas, quase passam despercebidas.

O Japão é o país mais envelhecido do Mundo. Não será só por este facto, mas também por isso, instituiu o Dia de Respeito pelos Idosos, na terceira segunda-feira do mês de Setembro. Assinalam o dia visitando os parentes idosos ou realizando atividades de lazer e bem-estar para os seus velhos. Essa celebração foi criada em 1947, em uma pequena cidade na província de Hyogo, na ilha de Honshu.

Ocorreu-me que por todas as razões atrás enunciadas, também nós devíamos ter o nosso Dia de Respeito pelos Idosos. Seria o dia 22 de Dezembro, por enquanto livre de outra comemoração, início do Inverno, final do ano, pela associação simbólica com o envelhecimento, com o final do percurso da vida, a três dias do Natal, dia do encontro e da reconciliação da Família.

Nesse dia estaríamos com os nossos velhos e viveríamos com eles alguns momentos de carinho, de partilha de recordações, talvez de desculpa por não lhe dedicarmos mais tempo e mais atenções nos outros dias do ano.

Para que a ideia se concretize é necessário reunir um número elevado de assinaturas. Redigi uma Petição Pública que foi iniciada em 5 de Julho passado. Difundi-a pelos amigos e conhecidos e pelos contactos dos “media” que conheço. Deixo-a aqui como anexo.

Um mês e meio depois a Petição reuniu menos de duzentas assinaturas.

No dia 5 deste mês de Agosto, uma petição que questiona a atribuição do nome de D. Manuel Clemente à ponte sobre o Rio Trancão reuniu em oito dias oito mil assinaturas.

Afinal quem quer saber dos velhos?

Apoie esta Petição. Assine e divulgue. O seu apoio é muito importante.