Muitas vezes dizemos que “o céu é o limite” para descrever que as oportunidades são infinitas se lutarmos pela sua conquista. Este artigo foi literalmente escrito no alto dos céus, num avião de volta do Encontro Anual dos Global Shapers na Suíça. Durante quatro dias verdadeiramente inspiradores, juntaram-se mais de 350 representantes das várias cidades/hubs que fazem parte da comunidade dos Global Shapers do Fórum Económico Mundial.
O mote do evento foi “The time is now” e, de facto… “agora é o momento”. Momento para refletirmos sobre o passado e começar a enfrentar e desenhar um futuro que apresenta um conjunto de desafios nunca antes vistos. Desde logo, desafios supranacionais e globais como a crise dos refugiados, as alterações climáticas, modelos inovadores de educação ou a revolução tecnológica e o seu impacto nas empresas, pessoas e governos.
Em artigos anteriores, outros Shapers já abordaram temas tão importantes como a inovação científica e social, a igualdade de género ou a educação. Neste artigo, gostaria de me focar nas várias lições que retirei da minha participação como representante do hub de Lisboa na Suíça e falar de histórias que considero serem verdadeiramente inspiradoras e impactantes de liderança e mudança.
Comecemos então a viagem em Nicósia. Na capital do Chipre, os Shapers locais organizam e oferecem workshops a centros de refugiados, ajudando-os a aceder a serviços públicos ou apoiando-os na sua integração com aulas de ioga e meditação. De Nicósia caminhemos até Manila, nas Filipinas, onde os Shapers da mesma cidade reconheceram a necessidade de fazer algo face aos elevados índices de poluição da atmosfera. Ainda na Ásia, em Katmandu, no Nepal, a comunidade dos Shapers conseguiu apoio financeiro local e está neste momento a trabalhar na construção de uma clínica e de uma escola que irá albergar cerca de mil estudantes.
Do Nepal vamos até Ulan-Ude, na Rússia, onde a equipa dos Shapers desenvolveu uma aplicação móvel para apoiar na identificação do aparecimento de fogos e na rápida atuação dos bombeiros nestas situações. Da Rússia, partimos para o Gana onde a comunidade dos Shapers do hub da cidade de Ho está a apoiar a introdução de dispositivos de realidade virtual em escolas locais. Para além disso, estão também a trabalhar num projeto de tratamento de água potável, devido à poluição na região.
Podia continuar a transmitir os inúmeros e extraordinários exemplos que tive a oportunidade de conhecer, mas gostaria de realçar três elementos transversais a todos: liderança, sentido de comunidade e impacto.
Falando da primeira, o professor Klaus Schwab, fundador e presidente-executivo do Fórum Económico Mundial, definiu liderança com uma analogia simples, em seis dimensões: corpo, cérebro, alma, coração, músculos e nervos. Por um lado, um líder tem de estar em boa forma física e mental, alicerçando-se num sistema e conjunto de valores que o unam à sua comunidade ou equipa. Por outro lado, um bom líder caracteriza-se pela sua paixão e a capacidade de transformar a sua visão em ação, nunca esquecendo que terá de se adaptar e ser bastante flexível durante o seu caminho.
Atualmente, e em muitos casos, existe um descrédito face a muitos dos líderes dos nossos tempos. Contudo, a verdadeira questão não é só e apenas como lidamos com as lideranças atuais, mas sobretudo como preparamos as lideranças futuras. Cerca de 50% da população mundial (3,5 mil milhões de pessoas) tem menos de 30 anos e esta é a geração que tem de ser progressivamente mais envolvida como parte da solução para problemas locais, nacionais e globais. Com o objetivo de enfrentar este problema, também os Global Shapers de Lisboa decidiram agir, através de iniciativas como o Leadership Summit Lisbon que co-organizamos. A conferência irá decorrer no dia 26 de Setembro em Lisboa e debruçar-se-á sobre a partilha de diversos exemplos de liderança nas mais diversas áreas, do mundo dos negócios às artes ou até mesmo ao humor.
Da liderança passamos ao sentido de comunidade. E até pode parecer fácil escrever ou falar sobre o assunto — difícil é agir. A realidade é que, em todas as iniciativas acima referidas, há denominadores comuns que devem ser práticas do dia-a-dia de todos os cidadãos. Desde logo, o sentimento de inclusão dos outros, seja qual for a sua raça, credo, género ou nacionalidade, bem como o reconhecimento da necessidade de atuar sobre problemas que nos tocam a todos, procurando soluções inovadoras. Um exemplo prático disto mesmo é o Global Dignity Day, no qual vários dos nossos hubs a nível mundial intervém junto de crianças desfavorecidas, debatendo o real sentido da dignidade humana. Em Portugal, já o fazemos desde 2013, tendo recentemente conseguido uma parceria com a Secretaria de Estado da Cidadania e Igualdade, o que permitirá o alargamento da iniciativa que terá agora impacto junto de cerca de cinco mil crianças e jovens estudantes no nosso país.
Criar impacto significa respeitar as aprendizagens do passado, viver ao máximo o presente e criar mecanismos para, em comunidade, construir um futuro melhor.
Sendo jovem, acredito que é sempre necessário fazer mais. É preciso ajudar a potenciar projetos de impacto social e ambiental. É preciso procurar soluções inovadoras para os problemas globais. É preciso reconverter, reforçar e, no limite, modificar mentalidades e competências neste mundo de rápido desenvolvimento económico, social e tecnológico em que vivemos. É preciso deixar uma marca em quem nos rodeia e em nós mesmos. É preciso agir. Agora é o momento.
Diogo Alves tem 28 anos e atualmente é vice-presidente de Corporate Development na A2D Consulting, uma empresa focada na transformação digital de grandes companhias e no reforço e reconversão de competências dos seus colaboradores numa era cada vez mais digital. Além disso, é diretor da Associação Federal Alemã de Sustentabilidade e professor convidado na Universidade Católica Portuguesa onde leciona Empreendedorismo e Inovação. Diogo já viveu em quatro continentes, tendo estudado entre Lisboa, Paris, Hong Kong e Londres. Depois disso foi consultor de estratégia em Angola e co-fundador de uma startup em Portugal. Geriu ainda startups líderes nos seus sectores na Malásia, República Dominicana e Alemanha e foi consultor na maior firma de capital de risco portuguesa. Depois de ter regressado a Portugal juntou-se à comunidade dos Global Shapers de Lisboa em 2016.
O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. Ao longo dos próximos meses, partilharão com os leitores a visão para o futuro nacional e global, com base na sua experiência pessoal e profissional. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.