A cultura da morte faz o seu caminho é assim que quem milita em defesa do aborto ou da eutanásia, ataca agora uma mãe que tenta tudo para dar alguma saúde às suas filhas. Lembro quando um cão matou uma criança e vozes se levantarem em defesa… do cão, agora, uma comissão parlamentar tenta fazer um julgamento público (se bem que o negue), amplificado pelos meios de comunicação do “caso”. Do pouco que fui tendo conhecimento fiquei com a noção que:

  1. Não há lista de espera para esta doença (o que se percebe pela sua raridade);
  2. As crianças não “furaram” a fila.

É assim que, na minha sensibilidade cristã, tenho dificuldade em aceitar o que se tem passado. Perceberia uma comissão para tentar melhorar o sistema de saúde, mas não para perceber como duas crianças foram tratadas a tempo. Será que estes “políticos” têm a noção da quantidade de crianças que vindas de países PALOP são diariamente tratadas no nosso sistema de saúde? Também querem vedar o seu acesso? E as “nossas” que enviamos para outros países que têm soluções mais diferenciadas?

É o preço do tratamento que passou a dar um valor à vida humana? Qual o valor da vida de uma criança?

Declaração de interesses: conheço o Sr. Presidente apenas da televisão, nunca tirei uma selfie, não faço ideia de quem é o filho, nem as “gémeas”, a sua mãe, o pai ou qualquer parente ou amigo, mas há uma coisa que estou certo: faria exactamente o mesmo se o (enorme) azar da lotaria genética, que é a nossa vida, me tivesse premiado um filho ou um neto com um azar destes.

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A cunha para resolver problemas de saúde vem de longe, no Antigo, mas sobretudo no Novo Testamento, pedidos a Cristo para que curasse crianças, mulheres e até um servo de um centurião eram feitos pelos vistos com uma frequência tal que por vezes tinha de fugir. Ora desde o século XX muitos milagres conseguem-se, felizmente com recurso à medicina, seja por cirurgia, ou “apenas” com medicamentos.

Acusam a “mãe” de mentir por não “denunciar” quem a terá hipoteticamente ajudado, também aqui há 2000 anos de jurisprudência, ou mesmo só de prudência, também nos primórdios Cristo pedia que não dissessem como tinham recuperado a saúde.

Eu eleitor me pergunto, horrorizado, se é para isto que elegemos deputados. Num país onde há severa falta de água e onde é necessária uma política realista da água, que obrigará a um pensamento estratégico na forma de conseguir, por exemplo, garantir que no barlavento algarvio haja água; num país onde há uma enorme carência de habitação, para o segmento do meio da população e da habitação social, motivada por políticas erradas, nomeadamente na produção de Planos Directores em contraciclo e onde o Homem não é tido como fazendo parte do ecossistema; num país onde o emprego é mal remunerado, onde um licenciado ganha pouco mais que o ordenado mínimo, onde a formação não é valorada e que tem levado a uma emigração do nosso futuro, é neste país que os nossos “eleitos” se multiplicam em declarações sobre um tratamento a duas crianças!?

Um nome de família nos Açores é, parece, garantia de emprego, ou pelo menos de carreira política. Tal como outros nomes, à dias dei com um ex presidente de junta de freguesia elevado ao estatuto de comentador da CNN. O apelido também coincidia com o de outro político, muito conhecido. Neste drama humano nem as usufrutuárias nem a família tem apelidos da nossa clique política, azar deles. Estou certo que se um neto do presidente brasileiro necessitasse deste tratamento seria notícia todo o esforço diplomático que teria sido feito para garantir que era cá que ele seria tratado.

A lista dos verdadeiros escândalos e os nomes são outros, TAP, CP, BES, Vale de Lobo, Santa Casa, Berardo, cujos milhares de milhões de custos não sei se alguma vez conseguirão ser pelo menos contabilizados, numa espiral de desnorte, falta de controlo (lembro-me de um antigo governador sob cuja tutela o BES já derrapava, que se declarou solteiro, na culpa entenda-se)

Em tempo os noticiários tentaram promover uma comoção nacional por a mulher de um futebolista ter tido um nado morto. Azar das gémeas, o pai, que eu saiba, não joga futebol.

A desumanização da sociedade já não me assusta, enoja-me mesmo.