Não sendo grande fã nem jogador de poker, creio que o termo usado na gíria e patente do título, para além de autoexplicativo, é do conhecimento da grande generalidade das pessoas.  Significa o ato de se apostar todos as fichas numa única mão. O que, dependendo das cartas que possuímos ao momento e da forma em que nos encontramos no jogo, pode ser encarado como uma manifestação de desespero, coragem ou loucura.

No jogo da política portuguesa, os partidos fizeram all-in no ato eleitoral que determina a eleição dos deputados nacionais ao Parlamento Europeu, trazendo para o sufrágio em análise uma atenção mediática que outrora nunca deteve.

Para que melhor se entenda a insignificância até aqui atribuída a este contexto de eleições para a Europa, tendo por referências as pretéritas ocasiões, pode-se facilmente constatar que em 2014 exerceram o direito ao voto, somente, 33,84 % dos inscritos. Não bastante a ausência de expressão dos portugueses naquele ano, em 2019, a afluência ainda foi menor, contando apenas com o registo de votantes na ordem de 30,73% dos inscritos.

Na hodierna ocasião o cenário perspetiva-se diferente, o que se motiva não só numa atenção reforçada e quotidiana ao circo mediático que envolve a vida do parlamento português (o que se entende diferente da vida política do país), mas também à participação de cerca de 60% dos inscritos nas eleições sucedidas no presente ano.

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Neste seguimento, surge também a procura pela legitimidade que não se atingiu a 10 de março. Ao contrário do que é costume – com a aclamação de vitória e bons resultados por parte de todas as forças partidárias – as mencionadas eleições resultaram num cúmulo de derrotados que pretendem agora reforçar ou manter as respetivas posições.

O Partido Socialista, numa tentativa de estancar a ferida que lhe vem retirando votos, aposta num nome de reconhecida popularidade e trabalho, apelando à memória dos portugueses com a apresentação de um dos rostos da luta à pandemia, Marta Temido.

O Partido Social Democrata, certamente com base na crença que o partido mais votado entre os jovens foi o Chega, vê em Sebastião Bugalho uma mescla de juventude, credibilidade e presença mediática quotidiana, promovendo desta feita uma jogada arriscada que não lhe confere grandes garantias.

O Chega também tenta suprir as fragilidades que lhe são inerentes, trazendo à candidatura a figura de António Tânger numa tentativa de, por intermédio do longo curriculum de embaixador do candidato, fazer esquecer a ausência de credibilidade que volta e meia é apontada ao partido.

João Oliveira e Catarina Martins, da CDU e Bloco de Esquerda, respetivamente, são os rostos usados para obtenção de reconhecimento e familiaridade junto do eleitorado, num esforço para evitar um decréscimo ainda maior nas intenções de voto.

Cotrim Figueiredo, pela IL, é apresentado no mesmo pressuposto, porém – no sentido inverso aos dois imediatamente supra – a finalidade passará mais pelo propósito de impulsionar o voto no partido do que, propriamente, por evitar a queda.

O ADN, num combate direto à sua vulnerabilidade, aplica-se para comprovar que o bom resultado das legislativas não se mostrou fruto da confusão com a sigla da Aliança Democrática, “contratando” a também já conhecida e experiente Joana Amaral Dias para encarar as figuras de proa dos outros partidos.

Por sua vez, o Livre, apesar dos murmúrios em torno da eleição do seu representante, empenha-se – com Francisco Paupério e Filipa Pinto – para interromper o favorável momento e, a seu favor, subtrair votos aos partidos à esquerda de semelhante dimensão, que – numa demonstração de desespero – se munem de figuras de proa.

A final, importa ressalvar que – não obstante as pretensões de cada um – as próximas eleições verificam-se, aparentemente, extremamente bem preparadas pelos partidos portugueses e o consequente resultado muito determinará a respeito do futuro do país, o que se consubstanciará através da legitimidade que se atribuir a cada força política neste seguimento, no quão fragilizados ficarão os egos daqueles que apresentarem menor ou nenhum sucesso e na capacidade de, à boa moda do poker, fazerem bluff.