A decisão mais acertada de Rui Rio (Rio) desde que está à frente dos destinos do PSD foi a escolha de Carlos Moedas para candidato à Presidência da Câmara Municipal de Lisboa (CML).

Há quem sustente ter sido, mesmo, a única decisão inquestionável. Os que acusam Rio de fazer mais oposição aos militantes do partido do que ao PS têm as suas razões. Com o seu feitio e falta de habilidade – inteligência emocional – Rio não conquista amigos facilmente. Diz, aliás, que não está na política para isso.

O PSD, com esta decisão de Rio, renasceu. É o que falta o CDS fazer. Encontrar uma razão para que os seus militantes voltem a acreditar. E Rio, parecendo dar a mão a Francisco Rodrigues dos Santos com as anunciadas coligações, colocou mais um prego no seu caixão.

Este anúncio, perfeito no timing, relançou umas eleições que estavam decididas. Com outro candidato, Medina seria o Marcelo dos pequeninos.

Vamos aos vários dados da equação: o anúncio de Rio e Lisboa; oposição interna a Rio (Passistas, Passos Coelho, putativos candidatos à sucessão); CDS/PP; Fernando Medina; o PS e Costa; e, claro, por último, por ser o primeiro, Carlos Moedas.

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Grande notícia para Rio. Caso Moedas tivesse recusado, Rio ficava sem pé. Os passistas avançavam. Não sei quem negociou com Moedas, mas a verdade é que Rio parte para a guerra com armas, pelo menos, iguais às do “inimigo”. Mas se é grande, para Rio, esta notícia, ele também sabe que é temporariamente grande. Se Moedas ganha, Rio sabe que tem prazo mais alargado, mas sabe que fica a prazo. Se Moedas perde, Moedas ganha de seguida o partido e saberá ser grato e unir o PSD.

Grande notícia para Lisboa. Podemos dizer, todos os munícipes, que teremos alternativa ao actual presidente e que estas eleições não serão um plebiscito como as recentes presidenciais.

Má notícia para os opositores de Rui Rio. Rio avisou: qualquer partido pode perder as autárquicas. Até as de Lisboa. Mas um partido como o PSD tem de fazer tudo para as ganhar. E exibiu o ás de trunfo: Carlos Moedas. Qual será a “manilha” que apresentará no Porto?

E o momento do anúncio não podia ser melhor. Qual será, e não é trocadilho, o próximo passo dos Passistas? O Paço do Concelho não é, com certeza! Que coelho tirarão da cartola?

E Passos Coelho? Mais prudente do que tem sido não pode ser, mas tem aspirações: voltar ao governo. Os tempos indicam que, entre liberais desiludidos, simpatizantes CDS/PP órfãos de líder e militantes e simpatizantes PSD que não se identificam com Rio, Passos tinha as portas completamente abertas para voltar. Com este anúncio, a grande dúvida será a de declarar imediato apoio a Moedas, o que lhe ficaria bem, ou deixar para depois, porque apoiar Moedas é dizer que Rio acertou.

E qual o papel do CDS? Rio fez uma jogada de mestre. Disse, em público, que já tinha dito ao líder do CDS qual ia ser o candidato a Lisboa pela coligação, desejada, entre os dois partidos. Mas… numa coligação as questões não são debatidas? Negociadas? Qual será o candidato que Rio dirá ao líder do CDS que o partido liderado por Francisco Rodrigues dos Santos vai apoiar no Porto? E o CDS escolherá algum candidato? Rio, quase tanto quanto o líder do CDS, precisa que o CDS exista. Sabe que muitos militantes do CDS nunca irão votar PSD e, muito menos, aceitarão continuar a ser tratados como agora foram. Tudo teria sido diferente se o líder do CDS, embora calado, estivesse ao lado de Rio e de Moedas no anúncio de candidatura. O CDS foi, uma vez mais, menorizado. Depois da “vitória” nas presidenciais e da moção de confiança desnecessária – marcaria muito mais a agenda se apresentasse uma moção de censura ao governo, sabendo-se que chumbaria –, a pergunta que fica é: até quando e até onde cairá o CDS?

Enorme decisão de Carlos Moedas. Do conforto do Conselho de Administração da Fundação Gulbenkian – de onde terá, mais dia menos dia, de sair –, Moedas salta para onde nunca esteve. Salta para o seu futuro. Moedas está talhado para voos maiores. Este é o primeiro passo. Rio sabe-o e está a preparar caminho para um sucessor, secando tudo à sua volta. Moedas não tem oposição no partido. Ainda. Os caciques locais podem opor-se inicialmente a uma futura candidatura, mas nada que Nuno Morais Sarmento não resolva. Moedas já trabalhou, o que acontece com poucos políticos, já esteve no Governo em tempo difícil, com Passos – uma mais-valia dentro do PSD -, foi comissário europeu – tem mundo na política internacional e se ganha fica com o PSD na mão. Se perde com uma boa votação não perde nada. Teve coragem, deu a cara pelo partido e tem o congresso seguinte para ir a jogo. E até os passistas lhe darão apoio.

António Costa perde ou ganha com esta decisão de Rio? Ganha, na medida em que um dos putativos candidatos a sucessor vai estar totalmente ocupado na campanha autárquica. Ganha, porque se repete a vitória em Lisboa ela será sempre sua. Ganha, porque reforça a ala Medina contra a ala Pedro Nuno Santos. Perde, porque a ala Ana Catarina Mendes sai enfraquecida com uma vitória de Medina e porque, se o partido deixa fugir a Câmara de Lisboa sai das autárquicas fragilizado, num momento de aprovação de Orçamento do Estado e com outros candidatos ao lugar de secretário-geral à espreita. Pedro Nuno Santos que dirá desta disputa? Acabam-se já as veleidades de Medina? Ou, se reeleito, o agora presidente do município vai ser um adversário num congresso que se adivinha quente?

E Fernando Medina? Ou ganha e vai ser um opositor sério na discussão de quem sucede a António Costa, ou perde e voltará para a vida civil, porque não nos parece que se mantenha como vereador sem pelouro. Se perde, será acusado de entregar à direita a principal câmara do país. Medina tem um adversário com o qual não contava e que não podia ser pior. Mas, verdade se diga, se Medina ganha este desafio, entra no campeonato dos grandes. Irá disputar o partido.

Passos prefere que Medina ganhe e Costa também. Um, porque diminui a força de Rio e limita aspirações futuras imediatas de Moedas. Outro, porque quem quer que seja de entre os vários candidatos à sua sucessão fica fragilizado. Salvo o próprio Medina, claro. Mas este é o mais fraco de entre todos.

A esquerda ficou mais frágil e a direita renasceu. Os extremos ficaram sem pé. Ou ajudam os candidatos dos partidos grandes ou fazem testes e arriscam-se a deixar eleger um inimigo.

A democracia portuguesa está viva.