Na sequência das últimas eleições nos EUA, as atenções têm estado centradas na figura do Presidente eleito Donald Trump. Dada a importância do cargo de POTUS e as características muito particulares destas eleições presidenciais esse enfoque é compreensível mas corre o risco de obscurecer outros aspectos importantes do panorama político nos EUA. Entre esses aspectos, vale a pena realçar que as últimas eleições reforçaram o papel do GOP como o partido dominante nas várias esferas de governação dos EUA.

Os dados poderão ser surpreendentes – ou mesmo estranhos – para quem conhece os EUA essencialmente por via de Hollywood, da comunicação social e do sistema universitário: tudo meios onde a esquerda é praticamente hegemónica. A realidade, no entanto, é bem distinta da imagem caricatural que se forma com base nessas fontes. A ignorância sobre os EUA na Europa – mesmo entre as classes letradas – é profunda e faz-se sentir particularmente quando se discute a realidade política norte-americana.

Assim, o Partido Republicano tinha – e continuará a ter, apesar de uma ligeira redução na margem – uma sólida maioria na Câmara dos Representantes com, para já, 239 congressistas eleitos contra apenas 193 representantes do lado do Partido Democrata. No Senado, o panorama é similar, mantendo-se uma maioria Republicana ainda que com uma margem ligeiramente menor do que até agora. Mas o domínio Republicano torna-se ainda mais evidente à medida que o nível de governação se aproxima das populações.

Baixando do nível federal para o estadual, é possível constatar que 31 dos 50 Governadores pertencem ao Partido Republicano. Talvez ainda mais significativo é o facto de o Partido Democrata controlar apenas 13 das legislaturas a nível estadual, contra 32 sob controlo Republicano e 5 que se encontram divididas (Senado estadual Republicano e Câmara Democrata ou vice-versa).

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O reforço do domínio do GOP a nível estadual que resultou das últimas eleições foi de tal ordem que abriu inclusivamente a discussão sobre a possibilidade de os Republicanos poderem vir a ter força suficiente para promover alterações constitucionais. Os requisitos para que tal possa acontecer não estão ainda reunidos mas o facto de a discussão estar na ordem do dia ilustra bem a gravidade dos problemas de afirmação dos Democratas em muitos Estados e comunidades locais dos EUA.

Importa aqui realçar que o GOP não é, na realidade, um partido homogéneo mas uma coligação diversa e pluralista de muitas correntes de pensamento e grupos sociais. Para dar apenas alguns exemplos, o establishment representado por John McCain, o conservadorismo de Ted Cruz, o liberalismo clássico de Rand Paul e o populismo de Donald Trump são realidades muito diferentes mas todas co-existem no GOP. Parte da explicação para esta big tent passa pelo sistema político e eleitoral dos EUA que favorece (deliberadamente) a agregação em dois grandes blocos e tem tendencialmente um impacto civilizador e acomodativo de movimentos mais radicais que surgem ciclicamente.

Mas isso não chega, naturalmente, para explicar o sucesso dos Republicanos quando comparado com o (relativo) insucesso dos Democratas nos EUA de hoje. Procurar identificar os principais factores que estão na base desse notável sucesso é um tema igualmente interessante e importante, mas que fica para outro artigo.

Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa